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Reprodução/TV Cultura
Reprodução/TV Cultura

Milhares de mulheres escolhem colocar próteses de silicone todos os anos, pelos mais diversos motivos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas (SBCP), a intervenção cirúrgica para o aumento dos seios é a mais procurada pelas brasileiras. O último levantamento da SBCP, com dados de 2017 a 2018, mostra que a cirurgia representa 18,8% do total de cirurgias plásticas feitas no Brasil, o equivalente à colocação de 319 mil próteses no período de um ano.

No contexto desta realidade, surgem as doenças do silicone e o desejo do explante (cirurgia de retirada das próteses de silicone). O médico, pesquisador, e autor do livro "A voz do silêncio: quando a ciência é a inimiga. A saga da doença do silicone"Dr. Eduardo Fleury, descobriu uma doença associada aos implantes mamários, denominada SIGBIC.

Em entrevista ao site da TV Cultura, ele explica que “quando as pacientes colocam as próteses, o organismo faz uma cápsula de proteção envolta do corpo estranho. Em alguns casos, foi constatado que essa cápsula fica doente para proteger o corpo; ela o protege desse silicone que vem do implante, mesmo ele estando íntegro, e então, adoece. Isso se chama granuloma induzido por silicone na cápsula fibrosa, que é o SIGBIC.”

“Essa cápsula atua como se fosse um filtro, mas sua proteção não é totalmente eficiente, porque partículas muito pequenas podem passar e são elas que estão relacionadas com as doenças do silicone”, conclui.

O médico ainda aponta que livros da Universidade John Hopkins reconhecem o trabalho como diagnóstico do extravasamento de gel das próteses. Segundo artigos publicados recentemente, isso é importante porque o extravasamento de gel está relacionado com todas as doenças do silicone.

Em setembro de 2020, a Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos equivalente à Anvisa, publicou uma recomendação que informa pacientes e profissionais da saúde sobre os riscos e as complicações que os implantes de silicone podem trazer.

Para o Dr. Eduardo Fleury, “é normal termos um posicionamento da ANVISA com retardo frente ao FDA, porque nos Estados Unidos existem muito mais pesquisas e incentivos financeiros, além dos estímulos serem maiores. Então, é natural que a gente tenha uma recomendação do FDA de setembro de 2020, que ainda não existe no Brasil. Hoje, aqui no país, se você falar com muitos médicos, eles não sabem que existe essa recomendação do FDA.”

“O que eu discuto hoje é que deveríamos ter uma relação de maior transparência e discussão referente às colocações de implantes. Os dados estão disponíveis sobre as complicações e isso precisa ser mostrado. A paciente que resolver colocar as próteses tem que saber dos riscos que isso envolve e como ela pode monitorá-los”, completa. 


Histórias de quem decidiu retirar as próteses

Sheyla de Melo é natural de Juiz de Fora (MG) e hoje reside em Boston (EUA), com o marido e os três filhos. Em entrevista ao site da TV Cultura, ela contou sobre o sonho de ter os implantes mamários e sobre as dores que a fizeram decidir pelo explante. 

“Em 2013, depois de ter sido mãe e passar por três amamentações, eu me senti influenciada a ‘arrumar’ os peitos, era um sonho que eu tinha e em 2014 decidi realizá-lo. A médica que fez meu implante disse que a opção mais segura era o de água salina, então coloquei 375 ml em cada seio, amei o resultado e por cinco anos fiquei satisfeita.

Depois, os problemas começaram. Em março de 2020, eu comecei a sentir muita dor na minha mama esquerda, pensei que era algo relacionado ao ciclo menstrual, mas o problema se tornou mais sério e em um dado momento não conseguia mais mexer o braço e nem colocar a mão no peito. Depois, comecei a sofrer uma alergia por todo o corpo, como se estivesse com catapora. Procurei vários médicos, fiz muitos exames, mas me disseram que eu não tinha nada. Comecei a sentir que estava morrendo aos poucos”, conclui.

Sheyla contou que descobriu a doença do silicone depois que começou a fazer parte de um grupo no Facebook com mais de 150 mil mulheres, todas falando sobre problemas com as próteses de silicone. Ela procurou por cirurgiões, mas não encontrou acolhimento de imediato. Não satisfeita, contou sua história no grupo do Facebook e foi acolhida pelas mulheres.

“Encontrei um médico que hoje só trabalha com explantes, quando ele fez minha cirurgia em agosto, percebeu que eu não tinha próteses de água salina, na verdade eram próteses de silicone, então além de tudo fui enganada!”, contou.

“Depois da retirada, todas as minhas dores desapareceram. O médico constatou que as próteses estavam totalmente coladas nas minhas costelas, as cápsulas foram para a biopsia e foi verificado que estavam doentes.”

Sheyla diz que o pós-explante é um período de aceitação muito grande, mas que se sente muito bem em saber que está saudável novamente.


Alexandra Gurgel, fundadora do Movimento Corpo Livre, jornalista e autora do livro “Pare de Se Odiar” e prestes a lançar seu segundo livro, “Comece e Se Amar”, contou ao site da TV Cultura sobre como tomou a decisão de fazer o explante, cirurgia que pretende fazer depois da pandemia do novo coronavírus.

“Através de duas páginas do Instagram @explantedesilicone e @perigos.do.silicone), eu comecei a perceber que eu tinha a doença do silicone por conta dos sintomas. Eu desenvolvi intolerância alimentar, tenho muitas dores nos seios e em períodos em que não consigo ficar sem usar o sutiã.”

Ela também falou sobre aceitação corporal: “para mim, essa é uma situação muito complicada, porque uma vez que sou uma voz desse assunto, e que agora passo por essa situação do explante, a primeira coisa que aconteceu comigo foi pensar na minha estética, olha que irônico!”

“Eu pensei em como o meu corpo ficaria sem as próteses de silicone, já que estou há nove anos com elas. Pensei: ‘será que vou me achar bonita de novo?” e isso faz sentido com a pauta que eu levanto, porque falo que a aceitação não é uma linha de chegada, vamos lidar com insatisfações a vida inteira.”

Alexandra fez uma lipoescultura e colocou os implantes de silicone aos 23 anos, em 2012, e em nenhum momento foi alertada sobre os riscos que as próteses poderiam trazer. Três meses depois dos procedimentos, tentou tirar a própria vida.

“O meu sonho era ser magra para ser feliz e finalmente alguém me achar bonita e interessante. As pessoas começaram a me achar bonita e aquilo começou a me confundir, porque eu pensava que era realmente por causa do meu corpo e da minha imagem, e não por ser quem eu era. Isso me deixou muito mal e automaticamente comecei a engordar de novo, foi quando ocorreu a minha tentativa de suicídio. (...) Depois desse acontecimento, comecei a ajudar outras pessoas nesse sentido. Minha maior dor se tornou minha maior luta.”

“Eu não julgo ninguém que quer colocar próteses de silicone, acho que só precisamos pensar no que isso pode nos trazer. (...) O principal é se questionar, é perguntar o porquê das coisas, é perguntar por que você quer mudar e por que precisa disso. Assim, a gente não toma decisões precipitadas, que podem trazer sequelas, algumas sem volta”, conclui.

Carolina Almeida realizou o sonho de colocar as próteses de silicone aos 23 anos, ficou muito feliz com o resultado, mas nove meses depois, começou a ter dores no joelho, na lombar e uma queimação por todo o corpo. “Fiz vários exames para tentar descobrir o que era, mas todos os resultados vieram normais; os médicos falaram que eu precisava procurar um psicólogo e um psiquiatra porque provavelmente era algo psicossomático, mas eu sabia que não era”, contou em entrevista ao site da TV Cultura.

“Depois disso, desenvolvi um quadro depressivo e pensei em tirar minha vida, porque já não aguentava mais viver daquela forma. Não conseguia fazer mais nada que eu gostava, meu corpo queimava o tempo inteiro, minha vida estava um inferno.”

Carolina associou as dores no corpo com as próteses, depois que leu uma postagem no Instagram sobre a doença do silicone. Em menos de 20 dias completou todos os exames, para poder passar pela cirurgia de explante. Depois do processo, as cápsulas fibrosas foram para biopsia e foi constatada uma inflamação exacerbada.

“As próteses rasgaram o meu músculo e por conta disso, tive que fazer uma reconstrução muscular, então meu pós-operatório foi mais complicado. Até hoje, sete meses depois, estou me recuperando e ainda não me sinto totalmente bem, mas estou muito melhor do que estava antes. Meus principais sintomas desapareceram, principalmente aquela queimação que sentia pelo corpo”, explica.

Carolina disse que foi um milagre ter visto a postagem no Instagram e ter conseguido tirar de seu corpo o que chamou de "bomba relógio". Ela também aponta que quando decidiu colocar os implantes, em nenhum momento foi orientada dos riscos que eles poderiam trazer. Segundo ela, falta é acesso à informação.

O Dr. Eduardo Fleury explica que “a cirurgia de retirada dos implantes é extremamente complexa por vários motivos, o primeiro deles é o social. Ocorre um impacto psicológico grande nas pacientes, muitas vezes os familiares não entendem sua decisão e elas não sabem qual vai ser o resultado estético após a retirada.”

Veja abaixo o post que Carolina fez sobre a cirurgia de explante no Instagram:

Veja a matéria do Jornal da Tarde: