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RS: Três pacientes morrem após nebulização com Hidroxicloroquina

Procedimento é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em tratamento contra Covid-19


25/03/2021 13h00

Na última quarta-feira (24), o Hospital Nossa Senhora Aparecida (HNSA), de Camaquã, no Rio Grande do Sul, confirmou a morte de três pacientes com Covid-19 após serem submetidos ao procedimento de nebulização com Hidroxicloroquina (HCQ). 

A médica Eliane Scherer, que aplicou o tratamento experimental, foi denunciada pela instituição ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina. 

O site da TV Cultura entrou em contato com o hospital, que informou que a médica foi afastada da escala "após ter tentado obrigar a equipe assistencial a administrar pela via inalatória uma solução com Hidroxicloroquina, de procedência desconhecida, não prescrita em prontuário".

Leia também: DF inicia vacinação contra Covid-19 para novo grupo de profissionais da saúde

Dos quatro pacientes internados que receberam o tratamento por inalação de HCQ, três deles vieram a óbito. No entanto, a instituição diz não poder afirmar que houve relação direta entre as mortes e a nebulização com o medicamento, por ser um tratamento sem comprovação científica. 

Por outro lado, o HNSA também não verifica que a nebulização contribuiu para melhorar o quadro dos pacientes. "Os indícios sugerem que está contribuindo para a piora, porque todos os casos (de óbito) apresentaram reações adversas após o procedimento".

Leia na íntegra a nota divulgada pelo Hospital Nossa Senhora Aparecida:

O Hospital Nossa Senhora Aparecida (HNSA), de Camaquã, Rio Grande do Sul, vem a público prestar esclarecimentos, diante dos acontecimentos em relação aos óbitos de pacientes que se submeteram ao tratamento experimental de inalação de hidroxicloroquina, feitos pela Dra. Eliane Scherer.

A Dra. Eliane Scherer, até o dia 10 de março de 2021, compunha a escala médica do pronto socorro do HNSA. Apedido da direção do hospital, a profissional foi afastada da escala após ter tentado obrigar a equipe assistencial a administrar pela via inalatória uma solução com Hidroxicloroquina, de procedência desconhecida, não prescrita em prontuário, manipulada pela própria médica.

Após o ocorrido, houve grande mobilização em torno do seu desligamento da escala sob o pretexto de o tratamento estar salvando vidas, inclusive com o depoimento de um paciente em um veículo de imprensa local. Diante do ocorrido, a referida médica passou a ofertar o tratamento aos familiares e pacientes que chegavam ao Pronto Socorro do Hospital, bem como aqueles internados na instituição.

Assim, houveram famílias que face a seu desligamento da escala do Pronto Socorro, contrataram a referida médica para acompanhar os pacientes, solicitando assim, que fosse administrado o tratamento experimental. Como se tratava de terapia experimental, houveram médicos que se negaram a prescrever o tratamento aos pacientes sob seus cuidados, razão pela qual, as famílias buscaram o poder judiciário para permitir que fosse feito o tratamento com a inalação da solução de HCQ.

Houve deferimento de liminar para que fosse administrado o tratamento, sob a condição de que a médica assumisse a integralidade da assistência de seus pacientes. Por essa razão, o hospital firmou com outras famílias que tinham o mesmo interesse em aplicar o tratamento em seus familiares, termo de acordo no qual a médica e os familiares se responsabilizavam pelas consequências do tratamento, e tinham ciência de que não havia nenhuma comprovação cientifica quanto ao mesmo. Assim, além de dois pacientes que já haviam recebido o tratamento, duas outras famílias entregaram aos cuidados da Dra. Eliane Scherer seus familiares.

Dos quatro pacientes internados que receberam o tratamento por inalação de HCQ, três deles vieram a óbito. Por se tratar de um tratamento sem comprovação cientifica, o Hospital não pode afirmar que houve relação direta entre os óbitos e a inalação com HCQ, por sua vez, não verifica que a nebulização contribuiu para melhorar o desfecho dos pacientes. Os indícios sugerem que está contribuindo para a piora, porque todos os casos (de óbito) apresentaram reações adversas após o procedimento.

Assim, o Hospital informa que continuará envidando todos os seus esforços para atender os seus pacientes, respeitando os protocolos aprovados pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais.

Estamos vivendo um verdadeiro furacão. No auge do agravamento da pandemia, quando os sistemas de saúde estão à beira de um colapso, enfrentamos essa situação tão desagradável. O Conselho Regional de Medicina já está ciente e estamos aguardando uma manifestação sobre o caso.

Afirmamos que esse tipo de terapia ( nebulização com cloroquina) aplicada pela Dra Eliane Scherer transcende o que chamamos de prescrição off label. A instituição não tem experiência com este tratamento experimental, já que não há referências seguras para a aplicação do mesmo, portanto, opta por não fazê-lo.

Infelizmente, nesse cenário de desespero, polarização e politicagem, diante de muita pressão da sociedade, permitimos que, via judicial e, de maneira formalizada, os pacientes que desejavam receber essa terapia, assim o fizessem.

Reafirmamos que não temos como atribuir melhora, ou piora relacionada diretamente ao procedimento experimental, mas de fato, o desfecho final de três pacientes submetidos a terapia foi óbito. Todos eles tem documentado em prontuário taquicardia, ou arritmias, algumas horas após receberem a nebulização. Dois deles já estavam em grave estado geral, com insuficiência respiratória em ventilação mecânica e um deles estava estável, recebendo oxigênio por máscara com boa evolução.

Acreditamos que a Dra Eliane Scherer e os familiares, em momento algum quiseram causar mal aos pacientes e que essa ou qualquer tipo de terapia deve passar por profunda investigação e pesquisa científica antes de ser aplicada.

Esperamos que haja mais entendimento por parte dos pacientes em tratamento de que, até o momento, estamos lutando com todas as armas que temos e fazendo o melhor que podemos.

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