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Johnny McClung/Unsplash
Johnny McClung/Unsplash

Com o confinamento provocado pela pandemia da Covid-19, o índice de atividades físicas na rotina das crianças e adolescentes diminuiu. Desta forma, surge a preocupação dos responsáveis em relação ao desenvolvimento motor, emocional e psicossocial.

Antes do isolamento, 67,8% das crianças praticavam atividade física pelo menos duas vezes na semana. Esse número caiu para 9,77% no primeiro mês da quarentena, segundo uma pesquisa feita pelo Instituto de Saúde de Sociedade (ISS/Unifesp).

Em meio à pandemia, a aula de Educação Física se tornou uma das poucas oportunidades que os alunos têm de movimentar seus corpos. Mas como é possível tornar essa aula produtiva diante de tantas limitações?

De acordo com o professor Corjesus Costa, coordenador de esportes e eventos do Instituto Madre Mazzarello, foi necessário uma adaptação das suas aulas quando lecionava para as turmas de 5º a 9º ano do Ensino Fundamental, no ano passado. Foi preciso pensar que nem todos tinham um espaço disponível para fazer os exercícios mais elaborados, importantes para o desenvolvimento motor dos alunos.

"Eles faziam atividades da fase motora fundamental. O aluno fica em pé e tem que levantar o joelho, primeiro de forma lenta, batendo ele na mão e depois de forma rápida, dando a impressão de que ele está correndo ou pulando. Parece simples, mas como a criança está parada na frente do computador o tempo inteiro, é uma atividade básica, mas tem sua importância", explica.

A fase motora fundamental é a terceira das quatro fases do desenvolvimento motor, citadas por David Gallahue, um dos principais estudiosos do movimento humano. São elas: fase motora reflexiva, fase motora rudimentar, fase motora fundamental e fase motora especializada.

Segundo Corjesus, quando essas fases não são trabalhadas corretamente é possível ver o reflexo negativo no futuro. A criança na faixa etária de 10 a 14 anos demonstra dessincronização dos seus movimentos, com dificuldades para correr, escrever e até mesmo ler. Para ele, “é importante trabalhar na Educação Física as fases rudimentar e fundamental de forma satisfatória, e a tendência é que a criança não tenha dificuldades".

Para além das questões motoras, Renata Escorcio, coordenadora do curso de Fisioterapia da PUC-SP, aponta que a diminuição dos exercícios físicos está relacionada ao aumento do uso de telas. “A atividade física é muito reconhecida como um hábito de importância para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. Com a necessidade do isolamento social, houve uma limitação dessas atividades e isso teve um enorme impacto na vida das crianças e dos adolescentes, porque o tempo de utilização de telas aumentou muito, como forma de entretenimento e de convivência social.

A professora ainda ressalta que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que para o bom desenvolvimento físico e psíquico das crianças, elas devem praticar, pelo menos, 60 minutos de atividade física moderada por dia, além da restrição ao tempo de tela. Ela também alerta: “o tempo excessivo de tela e a limitação de atividades físicas alteram o humor e podem levar a desordens como ansiedade, depressão e até mudanças de comportamento.”

Aulas em prática

Muitas escolas optaram por manter as aulas de educação física de forma online, entretanto, alguns alunos reclamam da grande diferença em relação à prática presencial. "Na aula geralmente fazemos polichinelo e agachamento e a câmera precisa estar ligada, ou a professora tira a gente da reunião. O que eu mais sinto falta das aulas presenciais são as corridas", explica Laura Galatro, 9 anos, aluna do 4º ano do Ensino Fundamental.

A fisioterapeuta Renata Escorcio ressalta que a atividade física virtual priva o aluno do contato com o amigo, do contato com o grupo, e ainda tem um tempo reduzido, entretanto, é melhor do que não acontecer. “As aulas podem ser um pequeno alívio para essa condição do isolamento e dão uma certa alegria. É a aula que as crianças mais falam e tentam interagir umas com as outras.”

A irmã de Laura pensa diferente. Giovana Galatro, 13 anos, aluna do 7º ano do Ensino Fundamental, não gosta das aulas de Educação Física online. “Nós não fazemos jogos, eles passam material didático e isso é cansativo. Quase nunca temos um joguinho online que chama kahoot, o que não combina com a matéria, porque ficamos parados na frente da tela respondendo perguntas dos temas dos slides passados na aula", explica.

Neste contexto, a especialista aponta que “a escuta e o acolhimento são muito importantes. Isso tudo pode contribuir para ajudar as crianças e os adolescentes a compreenderem de uma forma um pouco mais tranquila que esses momentos difíceis podem envolver sofrimento, mas que eles não estão sozinhos, e que os adultos estão tomando providências possíveis.”

Ela ainda dá dicas para que os pais incluam a participação dos filhos em casa. “É possível envolvê-los nas tarefas domésticas, deixá-los mais ativos para diminuir o tempo de tela, e incluir exercícios físicos na rotina. (...) O gasto energético da atividade física leva a liberação de endorfina, que é um hormônio que reduz o estresse, e que dá aquela sensação de alívio e de relaxamento. Também é possível resgatar atividades e brincadeiras lúdicas dentro de casa.”

Entre tantas desigualdades enfrentadas no país, ela ressalta que nem todas as escolas oferecem aulas de educação física online e que em meio à pandemia muitas crianças e adolescentes enfrentam questões de vulnerabilidade, como a restrição alimentar e a realidade do desemprego que afeta muitas famílias.

“Quando me falam que estamos todos no mesmo barco, eu discordo dessa afirmação. Nós estamos todos na mesma tempestade, mas em diferentes barcos, cada um enfrenta suas dificuldades, mas uns têm menos e outros têm muitas", afirma.