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Uma em cada quatro meninas faltou à aula durante o ciclo menstrual, por não poder comprar absorventes. Cerca de 48% delas tentaram esconder o motivo da sua ausência e 45% acredita que isso impactou negativamente o seu rendimento escolar, segundo pesquisa realizada pela Always em parceria com a Toluna.

Esses resultados são consequências de um problema socieconômico chamado pobreza menstrual, que atinge mulheres de diversas idades pelo mundo. Segundo a pesquisa do UNFPA e do UNICEF, um a cada quatro brasileiros estão vivendo com menos de R$ 436,00 ao mês, o que interfere diretamente na escolha de produtos para consumo e o absorvente e produtos necessários para o período menstrual, não serão a primeira opção. 

Para falar sobre o tema, o site da TV Cultura conversou com uma ginecologista e para conhecer algumas ações que combatem isso, entrevistamos uma marca de absorventes e a fundadora de um projeto social.

O que é pobreza menstrual?

Segundo a Dra. Simone David, ginecologista do Hospital Santa Catarina, esse tema é muito mais amplo do que apenas não ter acesso a produtos específicos de higiene menstrual. O termo também envolve questões sociais, como não ter água encanada, banheiro, papel higiênico para fazer a higienização básica ou até mesmo calcinhas para prender o absorvente. Além de questões culturais, em que a informação não é repassada porque o assunto ainda é visto como um tabu.

"Você pega o valor de uma renda básica, coloca todos os itens essenciais ali dentro, o absorvente nunca vai ser considerado pela família um item essencial. Inclusive, nem pelas políticas, porque ele não entra como produto de assistência básica, entra como cosméticos e perfumaria. Por isso o preço é maior, isso também tem que mudar", comenta.

Para as meninas que ainda estão na escola, a consequência da falta de produtos para conter o sangue durante o período menstrual é a perda de 45 dias letivos ao ano, segundo uma pesquisa feita pela marca de absorventes Sempre Livre, causando prejuízos no seu desempenho escolar.

"Se elas não têm um absorvente, elas não vão para a escola. A menstruação ainda é taxada como tabu por muitas mulheres, imagina uma adolescente ir para a escola, onde a calça dela vai ficar manchada e vai ser motivo de piada", afirma a Dra David.

Outro problema levantado na pesquisa do UNFPA e do UNICEF, divulgado nesta sexta-feira (28), é que cerca de 321 mil alunas (3,0% do total de estudantes brasileiras) estudam em escolas que não possuem banheiro em condições de uso. 

Além da ausência escolar e falta de infraestrutura nas escolas, a ginecologista lembra que o uso de produtos inadequados durante a menstruação pode causar tanto corrimentos, como infecções, que se chegarem ao nível grave, podem gerar uma infertilidade ou até mesmo a morte. Uma das consequências do uso de absorventes internos por mais tempo do que o recomendado (8 horas), é a síndrome do choque tóxico, que causa febre alta, baixa pressão arterial, vômitos e erupções cutâneas, entre outros sintomas.

"Imagina uma paciente que coloca dentro da vagina pedaços de algodão, pedaços de pano, esponjas, papel higiênico, que não tem cordinha para puxar e depois não consegue tirar direito, vai gerar uma infecção", comenta.

Projeto social ‘Fluxo sem Tabu’

Absorvendo o Tabu, documentário que narra a história de mulheres na Índia que confeccionam absorventes de baixo custo para serem distribuídos gratuitamente em uma máquina, foi a inspiração do projeto social Fluxo sem Tabu, desenvolvido em 2020 pela jovem Luana Escamilla, de apenas 17 anos.

Em suas pesquisas, Luana percebeu que o ato de menstruar ainda era um tabu no Brasil e ao redor do mundo, e notou que o debate sobre a pobreza menstrual não era muito discutido. Criou então um projeto que levasse absorventes para mulheres com baixa renda e também que compartilhasse informações e quebrasse o preconceito sobre o assunto.

A jovem empreendedora fundou o projeto sozinha e segue administrando por conta própria. Com a parceria das instituições Casa Hope, ABCD Nossa Casa e Instituto C, que distribuem os produtos arrecadados, através de vaquinhas e doações em pontos fixos, o Fluxo sem Tabu já doou mais de 100 mil absorventes para as mais de 800 mulheres.

Por enquanto, o projeto atende apenas as mulheres de São Paulo, mas Luana pretende levar para outras regiões do Brasil e tem o objetivo de levar absorventes para as escolas públicas, para amenizar a ausência das alunas em sala de aula.

"Eu acho surreal tudo isso, porque nunca imaginei que o projeto tomaria essas proporções, é muito bom ver que se a gente se posiciona e luta por uma coisa, as coisas vão se concretizando, dando certo e mais pessoas vão sendo ajudadas", comenta Luana.

Para o Dia Internacional da Higiene Menstrual, celebrado no dia 28 de maio, o Fluxo sem Tabu criou uma parceria com a ONG SP Invisível e ao longo da semana, elas contaram pelo Instagram histórias de moradoras de rua, para conscientizar o máximo de pessoas sobre a pobreza menstrual. Além disso, nesta sexta-feira acontece a campanha Fluxo Invisível, que doará 200 kit de higiene, com absorventes, calcinha e lenço umedecido, para mulheres em situação de rua.

O Fluxo sem Tabu foi um dos projetos escolhidos para receber doações da campanha #MeninaAjudaMenina da marca de absorventes Always. A ação, que acontece durante todo mês de maio, funciona da seguinte forma: ao comprar um pacote Always, a cliente estará doando um absorvente. Isso alcançará a marca de 1 milhão de absorventes distribuídos para mulheres e meninas sem acesso.

Para Laura Vicentini, vice-presidente de marketing de cuidados femininos da P&G Brasil, para combater a pobreza menstrual, primeiro é necessário entender a dimensão e os impactos dela no Brasil.

"Sabemos que discutir o problema é o primeiro passo para uma mudança na sociedade e o acesso ao absorvente também é um passo muito importante. Estamos contentes em poder contribuir com isso. Desde que a campanha e o estudo foram lançados, o brasileiro nunca pesquisou tanto sobre pobreza menstrual como agora. Escolas, políticas públicas, empresas e instituições precisam se envolver cada vez mais com essa causa e ter o propósito de discutir e ajudar a resolver essa problemática", diz.