Reparou que a fila do açougue está mais curta? O brasileiro vem reduzindo o consumo de carne bovina para driblar o aumento de preços. Nos último 12 meses, a inflação das carnes acumula uma alta de 38%, segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE. No mesmo período, o índice geral subiu 8,06%.
Entre os cortes com maior aumento estão o acém (40,61%) e patinho (38,95%), que são as opções mais baratas de carne bovina para o consumidor. A picanha, estrela dos churrascos, subiu 32,75%.
Como o consumidor reagiu a esse movimento? Reduzindo o consumo de carne bovina. Hoje, o consumo per capita do brasileiro está em 26,4 quilos por ano, uma queda de quase 14% em relação a 2019 –quando ainda não havia crise sanitária. Este é o menor nível desde 1996, início da série histórica da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
“O consumo de carne de cada brasileiro caiu 1 kg em relação a 2020, que já tinha sido um ano de queda. Na comparação com 2019, ou seja, antes da pandemia, a queda é de 4 kg”, diz Rodrigo Mariano, economista da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
Por que essa queda aconteceu? Segundo ele, o consumo de alimentos é muito sensível ao emprego e renda. “Tem três fatores que explicam esse movimento: desemprego, renda e preços. O preço aumenta, o consumidor vai buscar outras opções.”
Que opções são essas? Mariano diz que o comportamento vai se alterando de acordo com a duração do aumento de preços. “É um passo a passo. Primeiro, o consumidor vai para a carne suína e para o frango. Só que essas carnes também subiram. Então, uma parte migra para pescados e ovos, enquanto outros simplesmente não conseguem mais comprar proteína.”
O aumento do consumo de frango e suínos compensa a queda da bovina? Não. “Uma parcela da população não está conseguindo comprar nem carne suína nem frango”, diz Mariano.
Os dados refletem essa migração? O consumo per capita de frango está em 49,7 kg, maior que o verificado em 2019 (46,4 kg). Já o consumo de carne suína está ligeiramente abaixo de 2019: 15,4 kg x 15,8 kg.
A Estatística de Produção Pecuária do IBGE aponta para aumento da produção de ovos, que foi de 978,25 milhões de dúzias no primeiro trimestre, 0,3% maior que o apurado em igual período do ano passado.
“Embora o setor continue sendo impactado pela alta dos custos de produção, a demanda seguiu aquecida pelo preço acessível do ovo frente a outras proteínas”, diz o supervisor da pesquisa, Bernardo Viscardi.
O abate de frangos e de suínos continuou subindo, enquanto o de bovinos caiu: 6,56 milhões de cabeças, o menor resultado desde o 1° trimestre de 2009.
Como fica o consumo daqui para frente? Mariano afirma que a tendência é que os preços dessas proteínas continuem em alta nos próximos meses, já que são pressionados pela demanda internacional, alta do dólar e custo de produção (aumento de preços das rações).
“Os insumos de produção, como milho e soja, estão com tendência de alta. A única forma de elevar o consumo de carne seria pela renda, com aumento do emprego”, diz o economista.
2019 | 2020 | 2021* | |
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carne bovina | 30,6 kg | 27,6 kg | 26,4 kg |
carne suína | 15,8 kg | 15,3 kg | 15,4 kg |
aves | 46,4 kg | 49,9 kg | 49,7 kg |
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