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 Flickr/Governo do Estado do Rio Grande do Sul/Instagram/@dimitravulcana
Flickr/Governo do Estado do Rio Grande do Sul/Instagram/@dimitravulcana

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), assumiu ser homossexual durante um programa na TV, no início do mês de julho. A declaração gerou reações positivas e negativas nas redes sociais. Parte dos usuários aplaudiu sua atitude, outros se incomodaram com o posicionamento do tucano. A professora, drag queen e militante ecossocialista Dimitra Vulcana publicou em sua conta no Twitter: "ser gay que ataca a classe trabalhadora não é avanço, falhamos".


O site da TV Cultura entrou em contato com a professora e doutora de ciências da saúde, para compreender sua opinião em relação ao posicionamento de Leite. De acordo com Vulcana, não é uma vitória e nem uma derrota para a comunidade LGBTQIA+, é uma complexidade de contradições a serem pensadas.

Dimitra inicia com um paralelo ao passado e explica que, na década de 70, os agentes do capitalismo, frente a uma crise, se fortificaram ao dividir o movimento trabalhista. Usaram a LGBTFobia para separar as pessoas que fazem parte da sigla, da classe trabalhadora, e enfraqueceram o poder dessa luta. "Parecia que essa classe não era LGBT, mas é, ela é branca, negra, é hétero, é feminina", afirmou Vulcana.

Em relação a Eduardo Leite, a professora diz que é importante vê-lo enquanto governador e figura do estado. De acordo com Dimitra, "temos uma série de ações dele para pontuar como governador. Partindo delas, é importante refletir que são questões que não trazem nenhum tipo de segurança, emancipação ou melhoria de condições para a classe trabalhadora como um todo".

Para a militante, o debate sobre a orientação sexual de Leite fica em segundo plano. A sociedade deve analisar as estratégias que o capitalismo usa para explorar da comunidade LGBTQIA+ e embora a direita tenha aceitado um governador homossexual, ele se encaixa nos padrões exigidos. "Ele é branco, heteronormativo e de classe média, se encaixa na figura masculina universal, mesmo que seja gay, é facilmente mais aceito do que os outros".

A professora reforça que "não faz sentido pensar nos partidos de direita defendendo as pessoas LGBTs, sendo que amanhã vão votar pela reforma da previdência, reforma trabalhista, PEC dos gastos e atacar a classe trabalhadora, que engloba todos os tipos de pessoas. Os liberais criam projetos de emancipação e quando é coerente, largam o povo e abraçam figuras autoritárias, como Bolsonaro".

Eduardo Leite foi muito citado pelos veículos de comunicação após assumir sua sexualidade. Dimitra diz que a representatividade da comunidade LGBTQIA+, além dos partidos de direita, é importante. Segundo ela, é um processo fundamental, que gera determinados níveis de autoestima e sensação de pertencimento. Mas ainda há muito avanço a ser feito, uma vez que o Brasil é o país que mais mata pessoas da comunidade.

O Brasil registrou 237 mortes violentas de LGBTs em 2020, segundo um levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB). Ocorreram cerca de 224 homicídios e 13 suicídios. Foram 161 travestis e mulheres transsexuais, 51 gays, 10 lésbicas, 3 homens transsexuais, 3 bissexuais e 2 homens heterossexuais confundidos com gays.

Algumas ações divulgadas por Eduardo Leite

Após ser questionado sobre suas ações em prol da população LGBTQIA+, o governador compartilhou em sua conta no Twitter algumas movimentações de seu governo.


O Governo do Estado e o Senac-RS lançaram, em dezembro de 2021, o Programa Qualifica Trans, por meio da Secretaria da Cultura (Seduc) e da Secretaria de Justiça Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH). O projeto prevê vagas gratuitas para pessoas travestis e transexuais em quatro cursos: Informática Profissional, Preparando-se para o primeiro emprego, Design de sobrancelha e Preparo de bolos e tortas.

Em dezembro de 2020, foi inaugurada a primeira Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI) no estado. O local é responsável pela investigação de casos de racismo, homofobia e injúria qualificada (utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou com deficiência); A delegacia está vinculada com o Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis, implantada em 2019, no primeiro ano de mandato de Leite.

Questionada sobre o que a sociedade pode esperar do governador após assumir ser homossexual, a professora diz que acredita que possa haver alguma agenda LGBT, mas que enxerga alguns limites. “Estamos preocupados com a classe trabalhadora como um todo. Ela vai conseguir pagar o gás? Vai conseguir pagar a carne, feijão e arroz? Então não espero um projeto dele de emancipação para todos ao mesmo tempo", afirma Vulcana.

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