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Crise no leste europeu: Entenda por que a Rússia invadiu a Ucrânia

A principal razão do ataque é a possível entrada da Ucrânia à Otan e aproximação com nações da União Europeia


24/02/2022 20h19

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou na madrugada desta quinta-feira (24) uma “operação militar especial” na região leste da Ucrânia. A tensão entre os dois países começou em dezembro de 2021, quando os russos aumentaram a presença militar ao longo da fronteira Rússia-Ucrânia.

Ao longo das semanas, a retórica do presidente Putin foi se aprofundando em um possível ataque à Ucrânia, com o aumento de tropas, de armas e soldados próximos à fronteira. No entanto, a situação ficou mais complicada quando o presidente russo reconheceu, no último dia 21 (segunda-feira), a independência de duas regiões separatistas da Ucrânia: Donetsk e Luhansk.

Os governos dos Estados Unidos, da Alemanha e da França tentaram um acordo diplomático com o presidente Putin. Com o avanço da tensão, algumas nações ameaçaram aplicar sanções econômicas à Rússia, mas não foram suficientes para impedir o ataque militar.

Até o fechamento desta matéria, 57 pessoas morreram e 164 pessoas ficaram feridas desde o início da invasão, de acordo com último balanço divulgado pelo governo ucraniano.

Mas por que a Rússia está atacando a Ucrânia? Quais razões políticas levaram a essa decisão de Putin? O site da TV Cultura conversou com a professora de Relações Internacionais da USP Cristiane Lucena que explicou e analisou o cenário global neste momento. Segundo ela, “é uma das crises mais sérias que tivemos desde o fim da Segunda Guerra Mundial”.

Motivos da invasão

A professora de Relações Internacionais cita duas razões para o início da crise no leste europeu. O principal motivo, segundo especialistas, é a aproximação da Ucrânia com os países do Ocidente, o pano de fundo desta questão é a possível entrada da Ucrânia à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e uma maior proximidade com os países da União Europeia.

Cristiane Lucena explica que há uma tentativa de expansão da Otan, que é um tratado de segurança, para vários ex-satélites russos ou ex-providências que fizeram parte da União Soviética. A organização é composta, principalmente por países do Ocidente entre eles: Albânia, Alemanha, Bélgica, Bulgária, Canadá, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Eslovênia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Turquia.

“A tentativa russa de barrar o ingresso da Ucrânia na Otan é, em última instância, é uma tentativa de conter a Otan”, diz a professora.

No entanto, outros países que já fizeram parte da União Soviética, como Lituânia, Letônia e Estônia, já se associaram à Otan. Ao todo, 28 nações fazem parte do bloco. A Ucrânia é o país que praticamente separa a Rússia da União Europeia, por isso apresenta um risco maior aos interesses russos.

A Otan foi criada em 1949, no contexto da Guerra Fria. O propósito da Organização é preservar a segurança dos seus países-membros, seja por via política ou militar. Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Turquia são os principais membros.

O Brasil não faz parte da Otan, mas é visto como parceiro da organização, chamado de aliado preferencial extra-Otan.

Mas o conflito começou agora?

A tensão causada entre os países, na verdade, começou em 2014, quando a Rússia anexou a província da região da Crimeia, que fazia parte do território ucraniano. O episódio aconteceu quando o então presidente ucraniano pró-Rússia, Viktor Yanukovych, foi derrubado.

Viktor Yanukovych saiu do poder depois de meses de protestos realizados pela população ucraniana. Logo após a queda, o Kremlin trabalhou para anexar a península da Crimeia. Além disso, apoiou grupos separatistas que tomaram conta de duas províncias no leste ucraniano: Donetsk e Luhansk, as mesmas reconhecidas por Putin.

“Existe um entendimento por parte do ocidente de que a Rússia já invadiu o espaço soberano ucraniano quando reconheceu as províncias como sociedades soberanas. Na medida em que a Rússia reconhece a soberania e a independência dessas duas províncias e envia tropas sobre o pretexto de socorrer e respaldar detentores de passaportes russos que moram ali, é um ato unilateral da Rússia”, explica a professora.

Popularidade de Putin

Outra possibilidade apontada pela especialista é a popularidade de Putin e a economia na Rússia neste momento. Segundo Cristiane Lucena, uma guerra internacional poderia ajudar na recuperação do apoio doméstico do presidente russo.

“É como essa ideia de criar uma crise internacional, uma crise de segurança pode ajudá-lo, que é por muitos visto como um populista, a aumentar o seu apoio doméstico. Nesse sentido, vai entrando um pouco no debate sobre as sanções econômicas. Os analistas passam a analisar o que está acontecendo no interior da Rússia em termos de política doméstica, e é um grande desafio, porque se trata de uma sociedade muito pouco transparente”, ressalta.

De acordo com ela, os indicadores levantados indicam uma queda na popularidade de Putin desde meados de 2021. Outro fator que diminui os índices de aprovação, é pandemia. Os dados do Our World In Data mostram que o país contabiliza mais de 15,6 milhões de casos de Covid-19 e 341 mil mortes.

“O motivo de pouca expressão que a vacina produzida pela Rússia teve na comunidade internacional também é um reflexo. Por várias razões não conseguiu produzir uma vacina tão competitiva, então todos esses fatores agravados pela crise econômica que perseguem a pandemia, eles levam a uma provável preocupação por parte da liderança russa no que diz respeito ao apoio popular”, aponta.

‘A Rússia não é um regime democrático, mas nenhum país, nem mesmo o mais autoritário, de que se tem conhecimento, pode sobreviver sem o mínimo de apoio no âmbito doméstico. Então o Putin volta a atenção da sua população para fora, meio que em uma tentativa de "distrair" a atenção desses grupos, muito deles críticos ao próprio Putin”, completa.

Sanções econômicas

Com a invasão da Rússia à Ucrânia, os países prepararam um pacote de sanções econômicas à nação russa. Nesta quinta, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que os EUA e seus aliados vão ampliar “a maior sanção econômica da história contra a Rússia”.

Joe Biden ainda participou na manhã desta quinta com os líderes mundiais dos países do G7.

"Vamos limitar a capacidade da Rússia de fazer negócios em dólares, euros, libras. Vamos interromper a capacidade de financiamento e de crescimento das forças armadas russas. Nós vamos prejudicar sua capacidade de competir na economia de alta tecnologia do século 21", disse. Biden.

"Projetamos essas sanções para maximizar um efeito de longo prazo na Rússia e minimizar o impacto sobre os Estados Unidos e nossos aliados. Quero ser claro, os Estados Unidos não estão fazendo isso sozinhos. Durante meses, construímos uma coalizão de parceiros que representam bem mais da metade da economia global", completou.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também anunciou um pacote de sanções. As medidas são: exclusão de bancos russos do sistema financeiro britânico. A sanção leva o bloqueio de instituições financeiras a realizar pagamentos por meio dos bancos do Reino Unido.

“Vamos criar restrições comerciais e de exportação similares àquelas que os EUA estão implementando. Vamos criar uma nova legislação para banir a exportação de itens para a Rússia, incluindo itens tecnológicos, em setores da área eletrônica, telecomunicações e setor aeroespacial”, completou Johnson.

Poder bélico da Rússia

O país Russo possui uma vantagem sobre a Ucrânia em relação aos recursos bélicos. A nação possui 900 mil soldados; 2 milhões de tropas reservistas; 1.511 aeronaves de ataque; 12.240 tanques; 30.122 veículos blindados e 544 helicópteros de ataque.

Números da Ucrânia: 200 mil soldados; 900 mil reservistas, 98 aeronaves de ataque; 2.596 tanques; 12.302 veículos blindados e 34 helicópteros de ataque.

Como o Brasil é afetado?

A consequência para países que não estão diretamente ligados à crise são, em sua maioria, econômicos. A especialista cita um em especial: aumento do preço do petróleo.

“O Brasil não é dependente do gás natural que a Rússia exporta, mas essas coisas estão entrelaçadas do ponto de vista econômico. Outros países, em particular os europeus, estão mais vulneráveis. Mas a crise rebate em uma crise do preço do petróleo, uma crise de commodities, do mercado de exportação e importação, de outras mercadorias”.

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