A pandemia do novo coronavírus causou a morte de mais de seis milhões de pessoas pelo mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A expectativa é que nos próximos anos novas pandemias, epidemias e endemias aconteçam, e a queda da imunização em âmbito global é um dos fatores que colabora para este cenário.
Recentemente, relatório publicado pela OMS e o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que 2021 marcou a maior queda de cobertura vacinal sustentada das últimas três décadas.
Apesar das instituições atribuírem a queda ao aumento do número de crianças que vivem em áreas de conflito e locais onde o acesso à vacinação é limitado, à crescente desinformação e à pandemia, os números caem mais a cada ano que se passa e o resultado negativo não é exclusivo ao período pandêmico.
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), expôs que a vacinação contra a Covid-19 talvez seja a melhor situação atual comparada a outras campanhas nacionais. “Em relação a vacinação de rotina, que não é alvo dos antivacinistas, passamos pelo pior cenário desde os anos 80, as nossas coberturas vacinais despencaram e isso significa risco de reintrodução de doenças que conseguimos controlar ou até mesmo eliminar, como a pólio".
“A nossa cobertura contra a Covid-19 é alta porque as pessoas têm medo e enxergam a doença”, relata.
De acordo com dados do boletim divulgado nesta quarta-feira (24) pelo consórcio de veículos de imprensa, o número de pessoas vacinadas com ao menos uma dose contra a Covid-19 chegou a 180.635.624 (84,08% da população total), enquanto 169,9 milhões de habitantes completaram a vacinação, o que equivale a 79,12% da população nacional. Com relação à vacinação infantil, 13.837.233 crianças entre três e 11 anos tomaram a dose inicial, equivalente a 52,37% da população desta faixa etária. 9.227.950 finalizaram o ciclo vacinal (34,92%).
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Segundo Isabella, a baixa aderência às campanhas nacionais de vacinação são um perigo. “A qualquer momento a pólio pode voltar, já são 33 países que eliminaram a doença e que estão com surto, não vamos acreditar que Deus protege o Brasil, né? [..] Os riscos para todas essas doenças infecciosas não são para daqui cinco anos, são para qualquer momento”, destaca.
Casos já foram registrados nos Estados Unidos e o Brasil atualmente é classificado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como um país de alto risco para o retorno da doença. O Ministério da Saúde iniciou a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite que busca alcançar 95% das crianças menores de cinco anos (14.3 milhões de pessoas). Iniciada no dia 8 de agosto, teve 2.583.284 doses aplicadas até a última quinta-feira (25). A ação vai até o dia 9 de setembro.
De acordo com a vice-presidente da SBIm, o aumento de casos de meningite, pneumonia por pneumococo, rubéola e rotavírus já começou a ser notado e nenhuma doença não corre o risco de retornar. “Com a volta à vida normal, volta a exposição, e crianças pequenas, por exemplo, menores de um ano, cinco anos, se expõem gradativamente, algumas adoecem e outras ficam apenas imunizadas - pegam a doença, mas não adoecem - elas não passaram por isso, pra elas não adoecerem a gente vacina, e já que elas não foram vacinadas, estão totalmente suscetíveis", declara.
Para ela, um grande motivo que colabora para a situação “é a não comunicação adequada sobre a campanha”. Para exemplificar, ela relembra que a anos atrás a população tinha medo de doenças como a pólio, e mesmo assim, anúncios empáticos e seguidos um do outro passavam na televisão. “Hoje não vai mais para a televisão, apenas para as mídias sociais e sem empatia nenhuma, simplesmente dizendo: ‘no dia tal traga seu filho para vacinar’”.
“Chamar apenas nas mídias digitais, apesar de todos acharem que as redes sociais são tudo na vida, não é verdade, e quando falamos do Brasil, em todas as pesquisas sobre fonte de informação sobre vacinação para a população, a principal fonte de informação apontada por eles são as mídias tradicionais, principalmente a televisão”, conclui.
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Na segunda-feira (22), a Sociedade Brasileira de Imunizações lançou a campanha “Paralisia infantil — a ameaça está de volta”. A iniciativa tem como objetivo alertar a população para o perigo da poliomielite e estimular a adesão à campanha promovida neste momento pelo ministério e à vacinação de rotina, disponível de forma gratuita durante todo o ano.
Ela será realizada exclusivamente de forma online, ao longo de 45 dias e materiais com peças informativas, vídeos com especialistas e depoimentos de duas pessoas que sofrem com sequelas da doença serão divulgados nas redes sociais e sites da SBIm e de entidades apoiadoras.
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