Nascida a partir de um financiamento coletivo do final de 2016, a Casa 1 vive em 2022 “o ano mais difícil desde de a abertura”, segundo seu fundador. Iran Giusti revela, em conversa exclusiva ao site da TV Cultura, que a organização opera no vermelho.
Localizada na região central de São Paulo, o centro de cultura e acolhimento de pessoas LGBTQIAPN+ concentra seu trabalho em três frentes de atuação: a república de acolhida para pessoas da comunidade expulsas de casa por suas orientações afetivas sexuais e identidades de gênero; o Galpão Casa 1, centro com atividades culturais e educativas; e a Clínica Social Casa 1, que realiza atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos pontuais e terapias complementares. No total, são aproximadamente 3.500 pessoas atendidas mensalmente.
A organização lutou, de 2016 a 2018, para se consolidar como a Casa 1 de hoje, inclusive já até passou por um fechamento em dezembro de 2018. Na época, o fundador Iran comunicou o encerramento das atividades em uma publicação no Facebook. “Essa publicação explodiu e, em um movimento muito orgânico, um financiamento coletivo bateu R$ 100 mil mensais. Foi quando alugamos o prédio da Clínica, fizemos um belíssimo fundo de caixa e conseguimos contratar a equipe como CLT, e fomos nos estruturando”, conta.
“2020 era nosso ano. Estávamos conseguindo terminar todas as obras, reformar tudo para tirar todos os alvarás e começar as nossas certificações, e aí veio a pandemia”.
Com um fundo de caixa e atendimentos online, além da entrega de 900 cestas básicas por mês, a Casa 1 foi “se segurando” ao longo de 2020 e 2021, sempre mantendo a estrutura da equipe.
“Conversando com outras organizações, entendemos que esse movimento aconteceu com todo mundo. A arrecadação de pessoas físicas caiu, natural no momento de crise econômica”, explica Iran, “Temos vários projetos que estão diminuindo ou encerrando as atividades, fizemos algumas reduções, cortes na equipe e entregamos a casa do administrativo”.
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O fundador até revela que a Casa 1 faria uma grande campanha de arrecadação neste segundo semestre, mas, por conta das eleições, decidiram segurar para não concorrer o espaço na mídia. “Estamos operando no vermelho, internamente já estamos trabalhando isso”, disse.
Como é possível contribuir com a Casa 1?
Além de aportes de empresas, a frente principal da organização é a doação. Iran faz questão de deixar claro que não é a mais importante, mas é a principal levando em consideração que a casa é um projeto experimental.
“Faremos seis anos em janeiro de 2023. A Casa 1 tem uma política na qual não fazemos articulação com instituições financeiras, bancárias, petroquímicas, do agronegócio, enfim…Não tem como fazer um trabalho de combate à desigualdade e aceitar o financiamento das organizações que mais perpetuam essa desigualdade no mesmo campo em que não temos apoio direto do Estado”, explica Ivan.
Por isso, o fundador reforça que a Casa 1 se mantém a partir de doação de pessoa física, e hoje conta com aproximadamente 150 pessoas no projeto, sendo 20 delas contratadas e 130 voluntários.
A outra frente são os processos de “articulação do seu meio”, como Iran Giusti nomeia: “Seja na organização e na empresa em que trabalha, isso envolve falar sobre o projeto, pensar em projetos juntos e divulgar nosso trabalho. Então tem muitas coisas que passam por um lugar que não necessariamente vai estar aqui ligado diretamente, mas que ajuda muito a gente nesse processo”.
Próximos passos
Tendo em vista o momento da Casa 1, Iran reforça que o objetivo é se manter. Mas, para além disso, ter sustentabilidade e uma estrutura suficiente para seguir com um trabalho contínuo de base.
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“Nossos planos são ter mais dois anos sem grandes crises econômicas e violências, sem pandemias, sem grandes percalços para nos estabelecermos. Porque já temos um espaço consolidado, já temos uma estrutura. Nosso trabalho na Casa 1 é de reestruturação e de movimentar muitas estruturas, então nossos objetivos estão ligados a estar o mais próximos possível das construções das políticas públicas e das demandas da população”, projeta o fundador.
No campo concreto, Ivan revela planos de ampliar os espaços da Casa 1 e comprar os imóveis, hoje alugados. Mas o grande objetivo é continuar o “atendimento universal”, como chamou.
“Atendemos as da população LGBTQIAP+ da forma mais ampla possível. Eu estou falando da galera acadêmica que está discutindo linguagem neutra, até a galera que não tem ideia do que seja linguagem neutra e está batalhando para conseguir comer hoje. E todas são demandas válidas”, diz Ivan Giusti.
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