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Autismo: “Sociedade precisa entender que a neurodiversidade está presente”, diz psicóloga

Lívia Aureliano explica que o transtorno é uma condição permanente, por isso, não tem cura


03/03/2023 17h50

O Transtorno do Espectro Autismo (TEA) virou assunto nas últimas semanas depois de uma declaração do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos). O ex-ministro afirmou que "o transtorno do espectro autista ‘diagnosticado precocemente até os cinco anos e onze meses de idade é mutável, podendo mudar tanto de gravidade como até mesmo deixar de existir”.

A declaração aconteceu quando o governador vetou um projeto de lei que previa validade indeterminada para o laudo do Transtorno do Espectro Autista. A decisão, segundo ele, aconteceu após a área técnica da Secretaria da Saúde (SES) se posicionar contra a aprovação da medida.

Dias depois, Tarcísio se retratou sobre o caso, no entanto, manteve o veto. “Erramos. É importante esclarecer que o entendimento do Governo de São Paulo é que o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é permanente e, portanto, os direitos serão definitivos. Falhamos ao deixar passar uma redação que não deixasse clara essa postura”, escreveu em uma rede social.

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O site da TV Cultura conversou com a psicóloga Lívia Aureliano, especialista em TEA, que atua com o tema há 10 anos. Ela também é diretora e uma das fundadoras do TatuTea, espaço de atendimento às crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista.

Lívia Aureliano afirma que recebeu a fala do governador com muita surpresa. A psicóloga explica que autismo não tem cura.

“Fiquei bastante chocada, é a fala de um agente público. E de um agente público que disse que a fala estava embasada por uma orientação de  agentes da Secretaria Pública de Saúde do Estado. É revoltante, porque mostra o que estamos atrasados em termos de políticas públicas. A gente fica bastante preocupado porque o estado não tem políticas públicas efetiva”, ressalta.

O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento, caracterizada basicamente por dois aspectos: a dificuldade na comunicação social e a presença de comportamentos repetitivos e restritivos. As causas são predominantemente genéticas. O Transtorno pode ser acompanhado de deficiência intelectual ou não e os sintomas no espectro variam de leves a graves, com atrasos cognitivos e do desenvolvimento.

Segundo a psicóloga, os sinais do TEA começam a aparecer ainda na infância. As características mais comuns são variadas, no entanto, o atraso na fala, dificuldades na compreensão de palavras, contextos e dificuldades na compreensão de metáforas e de expressões faciais, são sintomas evidentes. 

Os sinais são revelados de acordo com o grau de autismo manifestado. Ao todo, são três tipos de TEA:

Nível 1: quando o indivíduo precisa de pouco suporte;

Nível 2: o grau de suporte necessário é razoável; 

Nível 3: quando o paciente precisa de muito suporte, como, por exemplo, com alimentação, higiene, entre outros.

A partir do grau determinado pelos médicos, os tratamentos são definidos. Segundo Lívia Aureliano, o acompanhamento de pessoas com autismo acontece em diferentes frentes. Os procedimentos podem envolver médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais.

Além dos tratamentos médicos, a especialista aponta que o contato com a família é muito importante para pessoas com o transtorno. No entanto, ela afirma que a sociedade ainda não aprendeu a lidar com diagnosticados com TEA.

Um homem morreu após levar tiros à queima-roupa em um bar da Vila São João Batista, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte (MG). O caso aconteceu em 25 de fevereiro.

Segundo relatado em Boletim de Ocorrência, o homem se irritou porque o filho da vítima, uma criança com autismo, teria apertado a buzina de um carro com força.

“A sociedade precisa entender definitivamente que a neurodiversidade ela está presente. Quando nós falamos insistentemente que não tem ninguém igual a ninguém, não é da boca para fora. Não é só em função de características físicas. Nós também estamos falando de neurodiversidade que não é só uma questão do autismo, existem muitas outras condições do neurodesenvolvimento que impactam diretamente a relação das pessoas com uma sociedade que não entendeu que essas pessoas fazem parte”, disse.

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