Há muitas dúvidas se os lacres das latas de alumínio podem mesmo ser “transformados” em cadeiras de rodas. Além de várias outras iniciativas que unem objetivos socioambientais importantes: reduzir o impacto do lixo garantindo a destinação correta de milhões de lacres, e ,ao mesmo tempo, converter os resíduos arrecadados em ajuda para quem precisa.

Uma das ações mais conhecidas é a doação de cadeiras de rodas para pessoas que não têm condições de comprar, mas muitas dúvidas ainda surgem sobre esses projetos.

Em entrevista ao site da TV Cultura, Eliane Lemos, fundadora do Instituto Entre Rodas, em São Paulo, explica que a coleta é somente com os lacres porque as latinhas são fonte de renda de muitas famílias, principalmente dos catadores de materiais recicláveis.

Além de serem mais fáceis de armazenar, não acumulam líquido e não atraem insetos. Isso descomplica o processo para as pessoas em casa e para quem coordena as iniciativas.

Eliane relata que o instituto não tem fins lucrativos e tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de meninas e mulheres.

“A gente traz no nosso DNA o artigo 6 da convenção que trata do reconhecimento de que meninas e mulheres com deficiência acabam sendo duplamente alvo da vulnerabilidade por ser mulher e por ter uma deficiência e, para isso, a gente desenvolve alguns projetos”.

O Instituto possui projetos como o ‘Dança Entre Rodas’, que desenvolve a dança como instrumento de inclusão social e o ‘Inclusive Você’, que apoia a inclusão das crianças e adolescentes com deficiência nas escolas regulares, entre outros.

Como os anéis das latas são transformados em cadeiras?

Depois de entregue às instituições, os lacres são vendidos para empresas especializadas em reciclagem de alumínio e o valor recebido é utilizado para comprar as cadeiras.

Ao site da TV Cultura, o Fabio Loiola, coordenador de comunicação da SPMAR e responsável pela campanha "Lacre Solidário” afirma que são necessárias, em média, 140 garrafas de 2 litros cheia de anéis. Além de reaproveitar outro item de reciclagem que são as garrafas pet.

“Dessa forma utilizamos o valor para comprar as cadeiras de rodas e fazer a doação dela para quem precisa para ONGs, institutos e fundos sociais das 11 cidades que o trecho sul e leste do Rodoanel Mário Covas passa”.

O movimento existe desde 2017 e já recolheu nas cabines de pedágio mais de 13 milhões de lacres, que resultaram na doação de 32 cadeiras de rodas.

“Para ter uma cadeira de rodas, precisa de mais ou menos 420 mil lacres, com mais e mais pessoas participando, isso se torna real e a gente quer sempre ampliar essa divulgação, mostramos e comprovamos as doações que são realizadas para que as pessoas possam ver que, com a união de várias pessoas, a gente consegue fazer com que de fato a doação aconteça”.

Fabio também explica que a empresa também tem outras ações com a mesma finalidade como a reciclagem dos uniformes dos funcionários

“A gente faz a higienização dos uniformes antigos, faz a trituração deles e transforma eles em cobertores populares para doação para moradores de rua, por exemplo”.

Campanha #NÃOÉMITO

Para desconstruir mitos sobre como os lacres “se transformam” em cadeiras, o Instituto Entre Rodas criou a campanha #NÃOÉMITO, em 2017. Os esforços para coleta de lacres da organização completaram cinco anos, contabilizando 72 milhões de unidades coletadas e 87 cadeiras entregues.

Lá, as cadeiras doadas são de um modelo diferenciado, fabricado em alumínio aeronáutico, que é mais leve e resistente, produzidas sob medida e na cor de preferência da criança ou adolescente.

Ela esclarece que é necessária a venda de um volume bem maior de anéis, de 625 garrafas pet (500 kg) para uma cadeira de rodas personalizada como o que o instituto faz.

A cadeira ambulatorial da maioria dos projetos, segundo ela, custa R$ 350, enquanto a personalizada sai por R$ 5.400. “Esse preço é ainda da tabela de 2017 e nós pagamos 50% (R$ 2.700) e a empresa Alphamix assume os outros 50%”, pontua.

Mais de 33 bilhões de latas foram consumidas no ano passado no país, de acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), e 98,7% foram reaproveitadas, o recorde mundial.

Para saber mais sobre os projetos, pontos de coleta e quem pode se candidatar para receber a cadeira, acesse o site do Intituto Entre Rodas e do Lacre Solidário.