Com a chegada do dias das mães, o assunto da sobrecarga na maternidade tem aumentado e gerado debates nas redes sociais. Há décadas o tema vem sido tratado de forma superficial por revistas femininas, e hoje, a comunicadora digital, Tais Saraiva, explica que as mulheres se sentem mais livres para relatar os ônus de gerar uma vida.
Mãe de uma menina de 12 e um menino de 5 anos, Saraiva percebeu um padrão de discussão entre outras mães. O assunto da sobrecarga sempre vinha à tona, e com a criação da página Benditas Mães, decidiu compartilhar sua experiência real com a maternidade. "Parece que sempre conseguimos equilibrar os pratinhos, quando na verdade, estamos abrindo mão de alguma coisa para a outra fluir", explica a influenciadora.
A pandemia da Covid-19 potencializou a discussão sobre sobrecarga materna, mas o excesso de obrigações colocadas nos ombros das mães sempre foi uma questão na maioria dos lares. "Vivemos em uma sociedade sexista e patriarcal, que continua colocando mulheres como as únicas responsáveis pela casa e pelos filhos", explica a psicanalista Beatriz Freitas.
Freitas diz que no início da quarentena, o que mais me chamou a atenção durante os atendimentos clínicos, foi escutar o quanto as mulheres, e principalmente as mães, se queixavam, e viviam, uma sobrecarga; acumulando a escola online dos filhos, os serviços da casa, e seus próprios trabalhos.
A terapeuta explica que a sociedade justifica essa sobrecarga com os fatores biológicos do corpo feminino. "Naturalizamos essa função como algo inerente e biologicamente ligado ao feminino, os cuidados com os filhos viraram nosso encargo, assim como a falácia do 'instinto materno', presente até hoje em nossos dicionários", explica a psicóloga.
E a influenciadora Tais Saraiva acrescenta a importância do diálogo. "Conversar sobre isso tira um peso das costas de muitas mulheres. É pensar que 'eu amo meu filho, mas sinto saudade de quem eu era' e saber que está tudo bem, porque você não é a única."
Maternidade Compulsória
Para muitas pessoas, a maternidade é vista como um sonho, enquanto para algumas mulheres o processo de gerar uma vida e ser responsável por ela, pode parecer um pesadelo. A psicóloga Beatriz Freitas explica que a maternidade compulsória consiste na prática de culturas sociais que condicionam e formam o cenário onde uma mulher se insere como mãe.
"Quando conversamos sobre o que é de fato ser mãe fora das capas de revista, as mulheres conseguem absorver que sim, gerar é lindo e consiste em um amor incondicional, mas não é para qualquer pessoa", revela a especialista.
Tais Saraiva concorda com a psicóloga e acrescenta que é preciso pensar muito antes de ser mãe. "Se para quem planeja já é difícil, imagina quando acontece do inesperado", diz.
Cristina Alvez, de 31 anos, relata que se casou muito jovem e sempre perguntavam: "Quando vêm os filhos?". O questionamento, de certa forma, gerou uma pressão e ela tornou-se mãe aos 29. "Hoje, depois de ler muito, consigo entender que a maternidade não era para mim. É triste falar isso, eu amo meu filho, mas ser mãe não era para mim", revela a esteticista.
A página gerenciada pela influenciadora Tais Saraiva funciona como uma rede de apoio para outras mulheres que passaram ou estão passando pelo processo da maternidade. "Ali eu sempre repito o mantra de toda mãe: vai passar. E por mais que não seja uma rede de apoio física, funciona como um suporte emocional, de conversa e compartilhamento", pontua Saraiva.
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