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Na última semana, uma nova onda de violência atingiu o Oriente Médio, após uma megaoperação de Israel em um campo de refugiados na Cisjordânia, região que é palco de diversos conflitos entre Israel e Palestina.

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Segundo o governo israelense, a operação buscava membros de facções que planejavam atentados contra judeus. Este foi o maior ataque em 20 anos.

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, André Freitas, autor de Geografia do Sistema de Ensino pH, explicou a origem do conflito que acontece desde a década de 40.

Por que a Cisjordânia é o principal ponto de disputa entre os dois países?

A Cisjordânia é uma região mais complexa, pois ali estão as maiores cidades e os maiores campos de refugiados palestinos. A Autoridade Nacional Palestina controla a região, mas tem o seu controle questionado ou não respeitado por grupos paramilitares palestinos.

Além disso, também é uma região com assentamentos, com colônias judaicas incentivadas e até construídas pelo Estado de Israel. Ali também tem a cidade de Jerusalém, que é um foco de disputa dos mais importantes.

Na Cisjordânia tem aquilo que não acontece na Faixa de Gaza. Existe uma convivência e todos os riscos dessa convivência conflituosa entre israelenses e palestinos, ou seja, cidades israelenses, vilas e colônias muito próximas às palestinas e, por isso, é um lugar onde as forças de defesa de Israel garantem o poder de polícia em paralelo com a polícia palestina. E tudo isso torna a região um barril de pólvora.

Como se iniciou os conflitos entre Israel e Palestina?

É muito importante entender que os conflitos entre Israel e Palestina são muito antigos. Eles remontam ao século XIX, período do imperialismo, quando as potências europeias ainda estavam envolvidas na colonização de várias regiões da Ásia e da África, incluindo a região onde hoje estão os territórios palestinos no Estado de Israel.

Essa sempre foi uma região habitada por povos árabes e também por judeus. É uma região historicamente muito importante, muito rica, inclusive para a história do Ocidente, o nascimento das principais religiões monoteístas do planeta, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo.

Na primeira metade do século XX, os conflitos foram tomando a forma que têm hoje. Judeus e árabes da região, então chamada de Cisjordânia, viviam em um território colonizado pelos britânicos, a partir da derrota do Império Turco.

Quando 6 milhões de judeus morreram na Europa por causa do regime nazista, o movimento sionista ganhou força, e isso foi um incentivo para o retorno dos judeus à antiga Israel, o território do antigo Reino de Israel, e também para a criação de um Estado moderno para os judeus que pudesse protegê-los de incidentes semelhantes ao que aconteceu no Holocausto.

Assim, em 1947, com a recém-criada ONU, a comunidade internacional decide apoiar a criação de dois estados nacionais modernos, um para os judeus, que seria o nome de Israel, e outro para os judeus e palestinos.

Os judeus aceitaram o plano da ONU, já os árabes não. Isso deu início à primeira guerra moderna entre árabes e judeus, conhecida como a guerra da independência.

O que ocasionou a nova onda de ataques na Cisjordânia?

O que aconteceu recentemente na Cisjordânia tem uma relação direta com o grande enfraquecimento da autoridade nacional palestina desde o início dos anos 2000, e da morte do seu líder histórico e autoridade nacional palestina no fim dos anos 90.

Depois dos acordos de Oslo, ela é uma entidade política formalmente reconhecida como a representante do povo palestino e sempre foi a autoridade nacional palestina desde que negociou em nome dos palestinos.

Mas, por diversos motivos que envolvem a morte e acusações de corrupção e divisões das suas facções internas, nas últimas duas décadas a ANP (Autoridade Nacional Palestiniana) perdeu parte da sua legitimidade para negociar em nome do povo palestino.

Houve um fortalecimento especialmente na faixa de Gaza do grupo Islâmico Radical Hamas.

Em 2007, o Hamas venceu as eleições expulsando a ANP do Governo local, ficando restrita ao controle administrativo da Cisjordânia, onde também vemos uma degradação da sua força política que não houve sucessão de poder.

As eleições ficaram sob suspeita, tanto na faixa de Gaza quanto na Cisjordânia, e há uma acusação de desvio dos recursos financeiros enviados pela comunidade internacional e pelo próprio estado de Israel como forma de recuperação de impostos pagos por Palestina, e um certo abandono de uma unidade nacionalista em prol de um desenvolvimento social dado do povo palestino nos territórios.

Existe a possibilidade de uma trégua entre os dois países?

O que esses grupos desejam é o fim do estado de Israel e realizam uma pressão através de ataques terroristas. Neste ano, as forças de Israel junto com a autoridade da Palestina aumentaram muito a pressão das forças de segurança sobre os campos de Jenin, e também houve reação com o lançamento de foguetes contra a cidade israelense.

A última grande operação da semana passada foi bastante polêmica porque envolveu a morte de adolescentes, que Israel acusa de serem recrutados pelo terrorismo, e uma dúvida se o país estaria violando direitos humanos nas suas ações num campo genuíno e sendo retratado ali como um uma instituição invasora.

Israel vive um momento interno bastante difícil, com uma radicalização do governo do primeiro-ministro Benjamim Netanyahu, que tem uma maioria muito frágil no parlamento, e que enfrenta uma oposição com protestos de ruas já há alguns meses

Por outro lado, existe uma autoridade nacional palestina muito enfraquecida se comparada a vinte ou trinta anos atrás. Então, hoje Israel alega se defender com uma força que a gente não consegue medir se é desproporcional.

No lado palestino, a gente não consegue se quer identificar uma representação legítima e que pudesse estar representando todo o povo palestino na faixa de Gaza e da Cisjordânia em algum fórum diplomático para negociar uma trégua, uma paz ou até um acordo de mais longo prazo.

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