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Poliomielite: Entenda substituição da ‘gotinha’ pela vacina injetável

Mudança começa a valer em 2024; cobertura vacinal da doença segue abaixo da média no país


08/08/2023 15h34

Em julho deste ano, o Ministério da Saúde anunciou que a Vacina da Poliomielite Oral (VOP), mais conhecida pela gotinha, será substituída pela versão injetável. A partir do primeiro semestre de 2024, a Vacina Inativada Poliomielite (VIP) fará parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI) nas três primeiras doses da imunização.

Segundo o ministério, a mudança foi bastante debatida e aprovada pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações (CTAI), que levou em consideração as mais recentes evidências científicas no combate à doença. Durante o anúncio, a ministra Nísia Trindade estava ao lado de representantes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

A mudança do Ministério da Saúde segue uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê a suspensão do uso da vacina oral e a utilização apenas da versão injetável (VIP). A partir da orientação para a mudança, a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações acatou a instrução como parte do plano de erradicação da pólio, e pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Esse não é o primeiro passo para a substituição do imunizante de forma invejável. Há alguns anos, o Brasil passou a adotar a VOP nas três primeiras doses, sendo apenas uma aplicação com a ‘gotinha’.

A gotinha é um marco na história da vacinação brasileira. O imunizante teve um grande reconhecimento no país por conta da presença do famoso ‘Zé Gotinha’, personagem que sempre esteve atrelado ao combate à poliomielite e ao incentivo pela vacinação de crianças. A Vacina da Poliomielite Oral ainda foi responsável por tornar o Brasil livre da doença que causa a paralisia infantil.

O infectologista Daniel Jarovsky, do Sabará Hospital Infantil, e secretário do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo, afirma que a mudança é “positiva” e segue as determinações internacionais. Além disso, aponta que para a substituição ser efetiva, é necessário uma campanha de marketing do Ministério da Saúde e da participação do Zé Gotinha.

O especialista explica que a migração para a vacina injetável acontece por conta de um sintoma raro da imunização com a gotinha, que é chamado de efeito comunitário. Como a VOP é feita com o vírus atenuado, ou seja, enfraquecido, as crianças acabam eliminando-o pela saliva e pelas fezes por semanas.

O agravamento desse caso acontece quando o vírus eliminado no ambiente sofre uma mutação que reverte sua virulência, efeito denominado de poliovírus derivado da vacina, o que causa sintomas de pólio, incluindo paralisia, em indivíduos não imunizados.

A incidência desses registros é baixa no país, no entanto, foi suficiente para encaminhar a implementação da VIP.

A utilização total VIP elimina a possibilidade do efeito comunitário, uma vez que ela é feita com um vírus inativado, ou seja, morto. Nessas condições, não há o risco dele sofrer mutações e se disseminar.

Mudanças no calendário

Hoje, o esquema de vacinação contra a poliomielite no Brasil prevê a aplicação de cinco doses da vacina: sendo três injeções aplicadas no primeiro ano de vida com a VIP, aos 2, 4 e 6 meses. Depois, as crianças voltam para mais uma imunização com duas doses de reforço com a gotinha. A primeira aos 15 meses de idade e a segunda aos 4 anos.

Com a mudança implementada pelo Ministério da Saúde, a dose de reforço aos 4 anos não será mais necessária, tendo o Calendário Nacional de Vacinação apenas quatro doses.

O calendário vacinal contra a poliomielite a partir de 2024:

Primeira dose: vacina injetável, aos 2 meses de vida;

Segunda dose: vacina injetável, aos 4 meses de vida;

Terceira dose: vacina injetável, aos 6 meses de vida;

Quarta dose: vacina injetável, aos 15 meses de vida.

De acordo com Daniel Jarovsky, o marketing do Ministério da Saúde será importante para a população entender as mudanças e compreender a necessidade da substituição.

“Vai ter que ser um trabalho de marketing inteligente, ousado e ético também. Estamos mudando de vacina, então devemos aproveitar essa chamada para compensar esse potencial obstáculo de injetar uma injeção. Então, eu estou confiante de que o Ministério da Saúde vai fazer uma boa campanha. Tem uma grande chance de dar certo essa migração”, afirma.

Baixa cobertura vacinal

A poliomielite é uma doença causada pelo poliovírus. Conhecida popularmente de pólio ou paralisia infantil, pode infectar adultos e crianças por meio do contato direto com fezes, a transmissão ocorre, principalmente, através da contaminação de água.

Entre os anos 1960 e 1980, o país registrou um surto da doença, pela facilidade da contaminação, contabilizou mais de 26 mil casos do vírus entre 1968 e 1989, antes da erradicação. A transmissão da poliomielite acontece de algumas formas: a mais comum é o contato entre pessoas, por meio da via fecal-oral, por objetos, água e alimentos contaminados com fezes de doentes. Além disso, é possível transmitir por gotículas (ao falar ou espirrar).

O último caso de pólio no Brasil foi registrado em 1989. Alguns anos depois, em 1994, ganhou o certificado de doença eliminada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A erradicação do vírus aconteceu em paralelo com o avanço e adesão da vacinação. A primeira imunização foi criada pelo médico americano Jonas Salk, a vacina injetável é feita com o vírus morto/ inativado. A segunda, do pesquisador polonês Albert Sabin, é feita de vírus atenuado, e é aplicada de forma oral.

No entanto, apesar da grande adesão à vacinação contra a pólio, nos últimos anos, a taxa de imunização caiu, o que apresentou alerta aos especialistas.

No ano passado, a cobertura vacinal para a doença ficou em 77,16% no país, segundo informações do Ministério da Saúde. A taxa está abaixo dos 95% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para impedir a circulação do vírus.

A preocupação com o avanço da doença surgiu pela diminuição da vacinação, em 2018. Naquele ano, a cobertura era de 89,54%. Em 2019, de 84,19%. Em 2020, foi para 76,05% e, em 2021, caiu para 66,62%. A baixa cobertura acendeu um alerta preocupante na comunidade médica.

“As coberturas realmente estão muito baixas; Uma cobertura de 75% abre portas para ter um retorno da poliomielite. Essa preocupação é com uma cobertura muito baixa de uma doença tão grave. Eu vejo como um obstáculo para coberturas nacionais pelo fato de ser uma picada, mas eu também vejo isso como um potencial obstáculo e um desafio do governo aproveitar essa mudança e trazer a população para vacinar”, aponta.

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