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Outubro Rosa: diagnóstico precoce é a melhor chance de vencer o câncer de mama

Dra. Laura Testa fala sobre panorama da doença e reforça: "é um tema importante para nós o ano todo"


31/10/2023 11h40

A associação do laço cor-de-rosa à luta contra o câncer de mama surgiu em outubro de 1991, quando a fundação Susan G. Komen for the Cure distribuiu fitas magenta para os participantes da primeira Corrida pela Cura, que aconteceu na cidade de Nova York.

Desde então, o termo Outubro Rosa se consolidou como sinônimo de conscientização sobre a doença que, de acordo com a doutora Laura Testa, tem 73 mil casos novos por ano no Brasil.

Laura é oncologista do Hospital São Luiz, em São Paulo, e pesquisadora chefe do Grupo de Câncer de Mama do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), além de membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Diagnóstico

O primeiro passo para vencer a doença é identificá-la o quanto antes. Campanhas de incentivo ao auto-teste e à realização de mamografia são mais frequentes durante outubro, promovendo o diagnóstico precoce. "Diagnóstico precoce é quando a gente faz exames em quem não tem sintoma nenhum", explica a doutora em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura.

Apesar de o Ministério da Saúde indicar mamografia e investigação de câncer de mama para mulheres acima de 50 anos, a oncologista sugere ficar atenta a partir dos 25: "o ideal mesmo é que toda mulher ali pelos seus 25, 30 anos no máximo, faça uma consulta para entender o seu risco individual de câncer e poder traçar estratégias que sejam mais adequadas para ela".

"O mais importante é que as pessoas sejam vistas individualmente e traçar um plano específico para cada um é o ideal", completa Laura. A disposição genética é um dos maiores fatores de risco para desenvolvimento da doença, por isso a avaliação individual é preferível.


Uma vez que algum dos sinais de tumor é identificado - presença de nódulo nas mamas ou nas axilasrugosidade e alteração na cor da pele dos seios ou inversão dos mamilos -, a biópsia é a etapa seguinte: "ela é feita quando a gente retira com uma agulha um pouco mais grossa um pedacinho desse nódulo, ou dessa dessa alteração, e faz uma avaliação anatomopatológica; é a biópsia que confirma a doença".

avaliação anatomopatológica é o exame macro e microscópico de células e tecidos, realizado por um médico patologista. O procedimento determina características importantes do tumor em estudo: se é benigno ou maligno, se apresenta os receptores Hormonal e HER-2, ou se tem potencial de espalhamento das células cancerosas para outros tecidos - a temida metástase.

"A gente efetivamente precisa saber duas coisas para programar o tratamento: uma, qual é o tipo de tumor e outra, qual é o estadiamento da doença", explica a doutora.

Tratamento

Os tumores de câncer de mama são tipificados de acordo com os receptores que apresentam ou deixam de apresentar. Além de indicarem a velocidade com que o carcinoma pode crescer, também vão determinar a estratégia de tratamento, pois serão os alvos dos medicamentos.

Por exemplo, uma neoplasia que testa negativo tanto para receptores hormonais (de estrógeno e de progesterona) quanto para receptores HER-2 (Human Epidermal growth factor Receptor-type 2, ou seja, receptor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano) tem menos opções de tratamento farmacológico e por isso tem prognóstico pior. Já uma que apresenta os três tipos de receptores pode ser abordada com hormonioterapia e com terapia-alvo - medicamentos que conseguem atacar as células de câncer com alta especificidade, causando menor dano às células saudáveis.

O estadiamento do câncer também é fundamental para que o oncologista escolha o melhor tratamento. "São os exames que vão dizer para gente onde essa doença estáqual o tamanho dessa doença, se ela está só na mama, se ela está na axila também ou se ela está em algum outro lugar fora da região", detalha Dra. Laura. Com esse processo, é determinado se o tumor está localizado - "na mama e até no máximo na axila, que a gente chama de linfonodos regionais", de acordo com a médica.


Sobre a metástase, a profissional é cuidadosa sobre as expectativas: "É uma situação para a medicina, a princípio, incurável. Significa que o objetivo dos nossos tratamentos é deixar essa mulher viva o maior tempo possível e que ela tenha a melhor qualidade de vida, mas infelizmente os tratamentos que a gente dispõe no mundo todo não costumam ser capazes de eliminar a doença para sempre, uma vez que ela se espalhou para além da localização da mama e do linfonodo".

No Brasil

Ao comparar as opções de terapias disponíveis no Brasil e em outros países, Dra. Laura é categórica em apontar onde está a verdadeira discrepância: "O nosso abismo maior é dentro do próprio Brasil; o que a gente tem acesso no SUS e no sistema privado, né? Então, apesar de que o nosso SUS consegue fazer a maior parte dos tratamentos, como cirurgia, radioterapia, quimioterapia, tem uma questão de acesso a alguns medicamentos mais novos. Tem também um problema no tempo de espera para tratamento e isso é um problema real".

A demora no início do tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos motivos que podem levar pacientes à judicialização, além de falta ou alto custo do medicamento.

Pacientes oncológicos e de outras doenças que precisam ser tratadas com fármacos custosos ou que ainda não foram incorporados pelos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do SUS ou pela Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) podem recorrer na justiça, junto a instituições sem fins lucrativos que oferecem esse tipo de suporte, para a disponibilidade dos remédios necessários.

É muito debatido no Brasil os impactos que a judicialização tem tanto nos cofres públicos quanto na saúde e qualidade de vida da população. Segundo levantamento da empresa de tecnologia do direito Deep Legal13.914 processos judiciais para o fornecimento de remédios não incluídos no SUS foram protocolados entre 2018 e 2023. Ainda, 63% dos casos são julgados procedentes ou parcialmente procedentes pelo judiciário, obrigando o SUS a fornecer os medicamentos.

nível privado, o acesso ao tratamento é mais garantido e mais semelhante ao disponível internacionalmente, aponta a Dra. Laura: "Quando a gente compara o nosso sistema privado com o restante do mundo, não tem grandes diferenças não, tá? Às vezes algum tratamento lá é aprovado pouco tempo antes. A gente tinha uma demora muito maior para chegada de novos tratamentos no Brasil. Ainda tem um um atraso, mas é normalmente de meses; já chegou a anos de atraso".

O desafio fica por conta da inclusão desses novos medicamentos no RENAME. A lista atualizada a cada dois anos relaciona todos os tratamentos que as operadoras de saúde são obrigadas a fornecer. Esse intervalo também pode adiar o início do tratamento dos pacientes da saúde suplementar e levar à judicialização. "Tem remédios que são aprovados no Brasil e até ser aprovada a obrigatoriedade de cobertura pelos planos de saúde, às vezes demora muito mesmo", desabafa a médica.

É possível falar em cura?

Apesar dos inovadores medicamentos desenvolvidos por grandes laboratórios, o câncer de mama pode ser curado apenas através de cirurgia, quando ainda está localizado - e esta é a principal razão para identificar um tumor o mais cedo possível.

"A cirurgia é o tratamento que vai deixar a mulher efetivamente sem doença. Para alguns tipos de tumor, a gente começa o tratamento com remédios antes, ele nos ajuda a diminuir o tamanho do tumor e da cirurgia, e também ajuda a entender algumas coisas; como que essa doença se comporta, né? Então, a gente faz uma avaliação da biologia desse tumor para ajustar melhor o tratamento após a cirurgia", conta Dra. Laura.

A intervenção cirúrgica pode ser uma mastectomia - a retirada completa da mama - ou uma quadrantectomia - chamada também de conservadora, por retirar somente a parte do seio com o tumor, com uma margem de segurança. "Sempre que for possível, a paciente tem que ser oferecida a cirurgia conservadora", explica a oncologista.

Mesmo após a cirurgia e a confirmação da retirada completa do tumor, exames e acompanhamento médico devem ser feitos com frequência. Dra. Laura explica a importância do monitoramento: "Infelizmente existe o que a gente chama de risco de recorrência. Alguma célula pode ter saído daquela localização antes da cirurgia e ter ficado quietinha, muito pequenininha, indetectável nos exames, mas em algum momento querer se manifestar. Então, para diminuir o risco dessa recorrência, dessa recidiva, fazemos tratamentos adjuvantes, que é como a gente chama os que são feitos depois da cirurgia".

Para determinar o sucesso do tratamento, os médicos convencionaram o termo "taxa de sobrevida", que avalia quantos pacientes vivem por quantos anos após o tratamento oncológico.

As melhores taxas de sobrevida de mulheres que venceram o câncer de mama são as relacionadas ao diagnóstico precoce ou em estadiamento inicial, com tumor localizado e que realizaram cirurgia, tanto a mastectomia quanto a conservadora. De acordo com um levantamento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a sobrevivência em cinco anos para as mulheres que realizaram tratamento cirúrgico conservador e mastectomia foi de 92% e 93% respectivamente.

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