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Dengue: Infectologista da Unicamp explica o aumento no número de casos e como se proteger da doença

Segundo o último levantando do Ministério da Saúde, o país tinha contabilizado 740.972 mil casos da doença


23/02/2024 16h54

O Brasil vive uma crise de dengue no início de 2024. Segundo o último levantando do Ministério da Saúde, divulgado nessa quinta-feira (22), o país tinha contabilizado 740.972 mil casos da doença.

Os números incluem o volume de casos confirmados e prováveis, ou seja, que ainda estão em investigação, em todos os estados. Além disso, foram confirmadas 151 mortes pela doença. Outras 501 estão em investigação.

De acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses, Minas Gerais lidera a lista com o maior número de casos, com 258.194. Em seguida, aparecem São Paulo, com 124.597, e o Distrito Federal, com 83.284 registros.

As autoridades de saúde se preocupam com o crescimento dos diagnósticos positivos, uma vez que a previsão é de que o número de registros siga aumentando até maio, quando inicia o inverno e as chuvas diminuem.

Os casos de dengue confirmados neste início do ano são quase quatro vezes mais do que os registrados no mesmo período de 2023. À época, foram 128,8 mil notificações.

A previsão do Ministério da Saúde é de que o país feche o ano com quatro milhões de notificações positivas da doença.

Segundo a infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o aumento exponencial se justifica por três razões: combinação entre calor excessivo e chuvas intensas (efeitos do El Niño), ao ressurgimento recente dos sorotipos 3 e 4 do vírus da dengue e também ao acúmulo de lixo causado pelas enchentes.

O Aedes aegypti coloca seus ovos em recipientes como latas, garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d'água descobertas, pratos sob vasos de plantas ou qualquer outro objeto que possa armazenar água da chuva. O acúmulo de água parada nesses locais é um dos maiores riscos para a proliferação dos mosquitos.

O mosquito pode procurar ainda criadouros naturais, como bromélias, bambus e buracos em árvores. Com isso, o combate a doença precisa de um empenho grande da sociedade, que precisa eliminar os focos de água parada e evitar que o local seja propício para o desenvolvimento do Aedes.

“O Aedes gosta de se reproduzir em climas quentes. Nós estamos sob influência do El Niño, fenômeno que tem como característica as temperaturas altas e muita chuva. Essas condições climáticas são ideais para a reprodução do Aedes, e junto com isso, nós temos o acúmulo de lixo. Isso é uma responsabilidade do poder público, mas a responsabilidade está no individual. Praticamente 80% dos reservatórios estão nos domicílios. As duas situações explicam bastante este aumento do número de casos”, explica Raquel.

Além dos problemas habituais, como o acúmulo de lixo e a crise climática, um novo fenômeno vem sendo observado no Brasil, que é a incidência dos sorotipos 3 e 4 do vírus da dengue.

A preocupação com os sorotipos 3 e 4 tem relação com o número de infecções e proteção. Uma pessoa diagnosticada com dengue só cria anticorpos (defesa) do sorotipo específico que contraiu, ou seja, ela pode pegar a doença novamente se for infectada por um sorotipo diferente.

Nos últimos anos, os sorotipos 1 e 2 predominaram em todo o país, ou seja, a população infectada possui anticorpos somente para esses dois tipos. Por isso, há o risco maior de infecção nos moradores em caso de contato com o mosquito transmissor.

“Nós temos muitas pessoas que já tiveram pelo menos uma infecção por dengue no Brasil. Quando um novo sorotipo aparece, essa pessoa não tem nenhuma proteção. Se ele começa a circular e começa a ser o sorotipo que mais circula, essas pessoas que já tiveram dengue têm risco de ter a doença pela segunda vez. A gravidade, por exemplo, não está muito relacionada ao sorotipo em si, mas sim a ser o segundo episódio de dengue”, afirma a infectologista.

Proteção

Para a especialista, o combate à dengue precisa ser dividido em dois passos: os atos individuais e as ações do poder público.

As ações individuais são: esvaziar a água parada de objetos como plantas, pneus, caixa d'água e garrafas, por exemplo. Além de tirar a água dos recipientes, a infectologista afirma que é necessário lavar os recipientes, visto que os ovos depositados pelos mosquitos ficam na superfície.

“Não é só esvaziar a água do pratinho de planta, eu tenho que lavar com bucha mesmo, porque o Aedes fêmea deposita os ovos na superfície. Se eu jogo água fora e não lavo os pratinhos, os ovinhos continuam e em qualquer chuva mais forte que venha, a água vai entrar entrar em contato com os ovos. Ele vai explodir e vai fazer de novo”, aponta.

O ideal, segundo Raquel Stucchi, é separar 10 minutos durante a semana para fazer a limpeza dos recipientes e lavar os objetos como os pratos de plantas.

Além dos cuidados em casa, a professora da Unicamp diz que a população também deve atender aos mutirões realizados pela prefeitura. As ações visam eliminar os criadores de locais que talvez o morador do local não tenha conhecimento.

Assim como os cuidados para combater a criação dos mosquitos, a população também deve prestar atenção com o descarte de lixo, uma vez que o acúmulo pode juntar água e ser um foco para a proliferação dos mosquitos.

“Isso é uma atitude individual, mas que tem reflexo no coletivo, com cada um cuidando direito do seu nicho”, completa.

Outra dica de proteção individual é o uso correto de repelentes. Segundo Stucchi, o ideal é seguir as recomendações presentes nos rótulos dos produtos e utilizar somente aqueles que forem aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Precisa ficar atento no tempo de duração de cada produto. Se são 10 horas, eu aplico depois de 10 horas. Se a proteção for de duas horas, eu aplico a cada duas horas. Os repelentes caseiros não têm nenhuma comprovação e aprovação da Anvisa. Então, a gente não deve colocar nossas esperanças e a proteção em elementos caseiros”, destaca a infectologista. 

Além disso, é necessário um cuidado especial para crianças e gestantes. Os dois devem usar somente produtos que não possuam contraindicações.

Poder público

Um dos principais focos do poder público no combate à dengue é a campanha educativa, seja nas redes sociais ou em veículos de comunicação como TV e rádio. Apesar de ser importante, a especialista aponta que outras medidas precisam ser levadas em consideração para ajudar no cenário dos casos. 

“Infelizmente, era quase uma tragédia anunciada [aumento dos casos]. A gente sabia que seria uma estação de muita chuva e muito calor, a gente sabe das nossas condições. O processo de educação da população é algo muito lento e demora muito tempo para conseguir algo, colher frutos deste processo”, completa.

Segundo ela, o governo pode focar em outras iniciativas como: a criação de aterros sanitários, um processo melhor de drenagem nas cidades e, principalmente, a tecnologia do Aedes modificado.

A técnica utiliza mosquitos geneticamente modificados em laboratório para atuar no combate ao vetor da dengue.

Raquel Stucchi explica ainda que por ser uma doença com características tropicais, a dengue tem mais incidência em países subdesenvolvidos, com isso, a busca por novos tratamentos fica mais difícil.

“A dengue é uma doença dos países tropicais e que são países de baixa renda, ou seja, com muita dificuldade de investimento em novas tecnologias. Com as mudanças climáticas, já há surdos nos Estados Unidos, por exemplo. Talvez tendo dengue nesses países, que têm maior capacitação tecnológica e maior capacidade de investimento, nós possamos avançar em outras medidas de controle do vetor e em desenvolvimento de novas vacinas”, ressalta.

Veja quais são os sintomas da dengue:

- Febre alta;

- Dor no corpo e nas articulações;

- Dor atrás dos olhos;

- Mal-estar;

- Dor de cabeça;

- Manchas vermelhas no corpo;

- Dor abdominal intensa e contínua;

- Vômitos persistentes;

- Acúmulo de líquidos;

- Sangramento de mucosa;

- Irritabilidade.

Aspirina e Ibuprofeno: medicamentos perigosos

Pacientes diagnosticados ou que estão com suspeita de dengue não devem tomar os seguintes medicamentos: Aspirina, Ibuprofeno, Nimesulida, Prednisona e Hidrocortisona.

Segundo o MS, esses remédios podem aumentar o risco hemorrágico da doença e agravar o quadro do paciente.

Além disso, o MS também alerta que a ivermectina não combate a dengue, tendo em vista que o medicamento é um antiparasitário e não tem eficácia comprovada contra a doença viral.

dipirona e paracetamol são indicados para amenizar as dores e mal-estar provocados pela dengue, uma vez que eles não aumentam os riscos de sangramento.

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