Pesquisadores modificam DNA do zika vírus para tratamento de câncer agressivo no cérebro
Brasil sofreu um surto de zika em 2015; na época, gestantes infectadas deram à luz a crianças com microcefalia
26/02/2024 19h02
Um grupo formado por pesquisadores da USP, Instituto Butantan e Universidades de Harvard e Cambridge modificaram o DNA do zika vírus, que pode causar graves danos neurológicos em bebês, para que ele possa combater as células de um tipo agressivo de câncer no cérebro.
O glioblastoma é o mais agressivo dos quatro tipos de tumores do sistema nervoso central. Sua incidência é rara: sete casos para cada 100 mil habitantes. Mas a sobrevida de quem é diagnosticado com esse tipo de câncer, não passa de dois anos.
Agora, com base no estudo do vírus transmitido pela picada de mosquitos, pesquisadores estão começando a desenvolver uma medicação chamada de "sequência suicida". Eles descobriram que, com as modificações certas no DNA, o vírus entra no organismo e, ao ter contato com células cancerígenas, se multiplica e mata o tumor. A partir daí, ao ter contato com células saudáveis, o vírus morre. Daí o nome "sequência suicida".
O interesse pelo vírus surgiu em 2015, quando o Brasil teve um surto da doença. Na época, gestantes infectadas deram à luz a crianças com microcefalia, doença que atinge as células tronco cerebrais.
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Foi aí que os pesquisadores decidiram investigar como o vírus da zika se comporta no organismo e descobriram que ele atinge também as células tumorais. Foram anos de pesquisa para desenvolver um vírus sintético, produzido em laboratório, e que não transmite a doença.
“Observamos que, quando a gente injeta [o medicamento] direto na veia do paciente, os resultados são tão bons quanto a administração direta no cérebro. Isso é muito bom porque é uma terapia acessível. Eu não preciso de uma neurocirurgia ou de uma estrutura hospitalar complexa para administrar a droga”, diz Carolini Kaid, diretora-científica do estudo.
Os resultados dos testes em animais foram promissores. Agora, os pesquisadores aguardam a autorização da Anvisa para dar início aos testes em humanos. A expectativa é de que eles comecem em julho e durem cerca de três anos.
Se aprovado, o tratamento deve chegar ao mercado em 2027, e com possibilidade de ir para o SUS.
Saiba mais sobre o tema na matéria que foi ao ar esta segunda-feira (26) no Jornal da Cultura:
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