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Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini
Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

O Rio Grande do Sul sofreu com fortes chuvas durante todo o mês de maio, foram mais de 30 dias de muito transtorno para os cidadãos gaúchos. Até o momento, segundo dados da Defesa Civil, 172 óbitos foram registrados e mais de duas milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes.

A tragédia ainda ficou marcada pelo número de pessoas que precisaram deixar suas casas. São 579.457 desalojados e outros 37.154 cidadãos em abrigos espalhados pelo estado. Além da dificuldade de reconstrução, outro tema que demanda muita preocupação das autoridades é a saúde dos moradores que entraram em contato com a água suja.

O quadro que mais gera atenção dos especialistas é o da leptospirose. A Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul confirmou 148 casos após o início da tragédia. O balanço foi atualizado na última sexta-feira (31).

Até o momento, oito mortes foram contabilizadas. Os óbitos foram notificados em Porto Alegre (dois), Travesseiro, Canoas, Venâncio Aires, Cachoeirinha e Viamão. O último foi no município de São Leopoldo.

Segundo o Ministério da Saúde, a leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda, que é transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais (principalmente ratos) infectados pela bactéria Leptospira.

A infecção acontece por meio da pele com lesões, pele íntegra imersa por longos períodos em água contaminada ou por meio de mucosas. O período de incubação, ou seja, intervalo de tempo entre a transmissão até o início das manifestações dos sinais, pode variar de 1 a 30 dias. Os sintomas aparecem entre 7 a 14 dias após a exposição a situações de risco.

Os primeiros são: febre, falta de apetite, dor de cabeça, náuseas e vômitos. De acordo com o infectologista Alexandre Schwarzbold, membro consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, o fato dos indicativos serem muito parecidos com o de outras doenças, como a dengue e a gripe, dificulta a identificação.

“A gente vai ver dois sintomas muito comuns em quem tem leptospirose. Um é a dor muscular, ou seja, a dor no corpo, principalmente na altura da panturrilha. Essa dor muscular é muito comumente localizada lá, embora não exclusivamente. Os outros sintomas são febre, e não necessariamente uma febre muito alta, e a dor de cabeça”, aponta.

Segundo o especialista, em caso de dúvida sobre o quadro, é importante que o paciente procure imediatamente um profissional da saúde.

“Não tem como a gente separar as três [gripe, dengue e leptospirose] muito facilmente. Sempre quando tiver febre, muita dor muscular e cansaço, deve-se procurar o serviço de saúde. Porque o médico vai tomar uma decisão em relação ao quadro e encaminhar o paciente para um exame laboratorial”, explica.

Em casos mais graves, ainda pode levar a quadros de insuficiência renal e hemorragia, mais comumente a pulmonar.

O tratamento com o uso de antibióticos deve começar no momento da suspeita. Em casos leves, o atendimento é apenas ambulatorial, mas nos delicados, a hospitalização deve ser imediata. A automedicação não é indicada em nenhum dos dois cenários.

Prevenção

Para os moradores do Rio Grande do Sul, Alexandre Schwarzbold recomenda o uso de bons equipamentos de proteção, caso tenha a necessidade de entrar em contato com a água. Botas e luvas de borracha (ou sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés) são os itens indicados.

Já o Ministério da Saúde diz que em caso de contato com água de enchente, os moradores devem tirar a lama (sempre com a proteção de luvas e botas de borracha) e lavar o local com uma solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, na proporção:

- para 20 litros de água, adicionar duas xícaras de chá (400mL) de hipoclorito de sódio a 2,5%. Aplicar essa solução nos locais contaminados com lama, deixando agir por 15 minutos.

    Onda de outras doenças

    O aumento de casos de leptospirose já é um cenário preocupante para as autoridades de saúde. No entanto, o infectologista afirma que outras doenças podem aparecer no estado, principalmente a longo prazo. O especialista cita o período da Covid-19, quando patologias e doenças crônicas se agravaram em razão do atraso do acompanhamento.

    Ele explica que problemas de saúde podem surgir sem relação direta com as exposições ambientais ou inundações.

    “Podem aparecer situações de doenças crônicas por consequência da perda do contato, da falta do cuidado. Não se deve esperar os serviços de saúde serem reestruturados, não se deve esperar o registro dessas pessoas, novo cadastro ou algo do tipo. A secretaria de saúde deve estruturar buscas e acompanhamento dessas pessoas”, argumenta.

    Segundo estudos feitos a partir de outras enchentes que ocorreram nos últimos anos, é possível que o estado sofra com três ondas de diferentes tipos de patologias.

    Primeira onda

    A primeira, de acordo com Alexandre Schwarzbold, é o surgimento de parasitoses, doenças graves intestinais, infecções bacterianas ou parasitárias que podem produzir vômitos e quadros de diarreia. O especialista afirma que Porto Alegre e a região central já passaram da primeira onda, que acontece cerca de 10 dias após o início das enchentes.

    Segunda onda

    A onda é a das doenças e vírus respiratórios, influenza, Covid-19 e leptospirose. A segunda etapa acontece a partir de três semanas após as inundações e pode ser explicada pela exposição ao frio, a umidade e pelo tempo em que os habitantes ficam aglomerados e juntos em abrigos, por exemplo.

    Além da leptospirose, os médicos também se preocupam com outras doenças infecciosas transmitidas por água e materiais contaminados, como é o caso da hepatite A.

    Terceira onda

    A última onda é a do crescimento de casos de dengue, que se beneficia da água parada para se proliferar. O Brasil vive uma crise da doença desde o início do ano, já são mais de cinco milhões de casos registrados e três mil óbitos em todo o país.

    “Muito embora a gente esperasse que a dengue reduzisse o número de casos por conta do frio presente no Rio Grande do Sul, a gente começa a ver casos. As pessoas ainda estão com dengue”, aponta.

    “Claro que podemos ter casos de hepatite A, mas esse é um vírus pouco presente no Rio Grande do Sul, talvez volte a aparecer, mas a gente não tá esperando muito. A gente também pode ver doenças parasitárias, doenças intestinais pela contaminação, mas já começa a desaparecer na segunda para a terceira onda. Eu diria que essas três são importantes: vírus respiratório, dengue e leptospirose”, completa”

    Além da dengue, o especialista explica que na terceira onda tem-se o surgimento de doenças psíquicas, como transtorno reativo, principalmente o pós-traumático, além de diagnósticos de transtornos de ansiedade e casos de depressão. Ele ressalta que esses problemas podem ser observados depois de um mês das enchentes.

    Outras doenças como cardiopatias, como a hipertensão e câncer podem aparecer nos hospitais do estado gaúcho. O infectologista explica que a falta de acompanhamento e o tratamento constante fazem com quadros como os citados também possam aparecer na terceira onda,

    “Essas pessoas devem ser identificadas em busca ativa porque são três situações muito comuns de acontecer e de complicar em uma terceira onda após desastre”, completa.

    Próximos passos

    Para que os casos não se agravarem ou cresçam de forma acelerada no estado, o infectologista diz que as secretarias de Saúde e o governo do Rio Grande do Sul precisam realizar um recadastramento dos moradores e fazer uma busca ativa.

    “A resposta de saúde a esses desastres é o novo cadastro ou um recadastramento. Para isso, todos os sistemas de identificação devem procurar os moradores para que se identifiquem. Nesse sentido, é muito oportuno que se atualize, por exemplo, o calendário vacinal e ainda conhecer outros problemas de saúde dos moradores. O cadastro é o elemento fundamental, porque ele oportuniza a informação de atualização de medicações e vacinas”, destaca.

    O cadastramento ainda é importante para, se necessário, encaminhar o morador para consultas e exames em casos de queixas ou sintomas de alguma doença.

    “Na avaliação clínica feita pelo serviço, é possível identificar a região geográfica que essa pessoa era vinculada. essa referência eu tenho a partir desse recadastramento. Então, o recadastramento é o mais importante como resposta de gestão de saúde”, finaliza Alexandre.