A identidade de cada cidadão é resultado de uma combinação de fatores, que juntos, representam quem ela é, indo desde a personalidade, valores, crenças, traços, e é claro, a sua história pessoal.
No entanto, acontecimentos ao longo da vida, como traumas, acidentes domésticos ou doenças congênitas, podem abalar a autoestima e a integridade de alguém, roubando a sua identidade.
O Instituto Mais Identidade surge a partir desse contexto, atuando há 10 anos na reabilitação de pacientes com mutilações faciais, reestruturando sua individualidade e promovendo sua reinserção social por meio de projetos e programas de recuperação, prevenção, ensino e pesquisa.
Sem fins lucrativos, a organização, formada por uma equipe transdisciplinar altamente especializada em reabilitação bucomaxilofacial, realiza atendimentos 100% gratuitos para pessoas de todo o Brasil.
A motivação, é claro, surgiu de uma ‘frustração’. Em entrevista ao site da TV Cultura, Luciano Dib, estomatologista, cirurgião bucomaxilofacial, além de fundador e presidente voluntário do instituto, diz ter acompanhado ao longo de sua carreira a dificuldade enfrentada por pacientes para ter acesso a recursos ideais para dar andamento a intervenção cirúrgica.
“Então, no final de 2015, comigo liderando um grupo que já me apoiava, desde colegas a alunos, fundei o instituto, que hoje é reconhecido como uma organização da sociedade civil de interesse público. Temos quase 20 pessoas de diferentes áreas atuando, desde dentistas, médicos, psicólogos e designers gráficos, todos sendo remunerados com valores baixos, mas sendo pagos. O único que não é remunerado sou eu”.
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A tarefa, importante para a sociedade e exercida com profissionalismo, dedicação e cuidado, é mantida apenas e exclusivamente com o apoio de pessoas jurídicas, assim como de pessoas físicas, além de contar com uma parceria com a Universidade Paulista (UNIP).
“Não se trata apenas de estética, na verdade, se trata de pessoas que, por conta das desfigurações, vivem à margem da sociedade e não conseguem até mesmo conviver em família, porque lhe falta um olho, nariz ou uma parte importante da face. Com a prótese, a face é recuperada e ela pode voltar ao convívio familiar, social e ao trabalho”, expõe o especialista.
Histórias transformadas
De acordo com Dib, ao longo desses 10 anos eles lidaram com inúmeros casos de pessoas de todos os tipos e profissões que estavam completamente afastadas do convívio social e que após a reabilitação, voltaram a ter uma vida praticamente normal, contando não só com a transformação física, mas também emocional.
“A gente tem, ao longo desse tempo, centenas de casos [que nos marcaram]. Um deles é o do cantor Edson, que lhe faltava o nariz e uma parte do maxilar, e ele não tinha condição de viver, porque um cantor sem o nariz não apresenta nem a fala adequada, mas depois da recuperação ele voltou a ter uma vida completamente normal”, conta.
Todavia, apesar da ação ter o próximo como foco, todos levam lições a cada história conhecida: “Estou nisso há quase 40 anos, e pra mim se trata de um aprendizado pessoal muito grande, porque são pessoas que nos ensinam duas palavras mágicas que eu costumo falar sempre, persistência e superação”.
Como ter acesso ao trabalho do Instituto Mais Identidade?
O atendimento do Instituto Mais Identidade é direcionado para a reabilitação de pessoas que realizaram tratamento oncológico (câncer), sofreram traumatismos ou possuem malformações congênitas, sendo cada caso analisado com cuidado.
O primeiro passo é passar por uma triagem, seja no site ou por meio das redes sociais, após isso, um representante entrará em contato com o cidadão para buscar mais informações e definir o tratamento ideal. Depois, o paciente é adicionado em uma lista de prioridades.
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“O caso sendo adequado e uma consulta presencial sendo possível, o paciente vem, é examinado, e quando o tratamento é determinado, ele é matriculado e dali segue sendo cuidado pelo instituto. Quando o caso não nos cabe, envolvendo cirurgias ou procedimentos que não realizamos ainda, fazemos orientação online e encaminhamos para o local ideal, mas procuramos dar o máximo de assistência a cada um deles”, esclarece Dib.
O trabalho de uma década é contado no livro “A lição de Antonella e outras histórias de amor – a origem do Instituto Mais Identidade”, que foi lançado em dezembro do ano passado. A obra não traz apenas relatos de superação, mas também expande a visibilidade para o preconceito e as dificuldades enfrentadas por brasileiros com deformidades faciais, mostrando um caminho possível para que eles possam viver com dignidade.
No entanto, para que a organização possa cumprir com sua missão, toda ajuda é fundamental. Por isso, para aqueles que se interessam em apoiar a iniciativa, é possível realizar doações em diferentes valores pelo próprio site, colaborando para que mais histórias sejam transformadas.
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