Autor de um dos dez melhores livros africanos do século XX, “Terra Sonâmbula”, o premiado escritor Mia Couto completa 55 anos neste domingo (5). Confira a trajetória do autor que reúne extensa obra de grande importância internacional, sendo considerado um dos principais escritores de Moçambique.
Trajetória
Mia Couto é pseudônimo de António Emílio Leite Couto, e o apelido o acompanha desde a infância: quando pequeno, pediu que os pais o chamassem de “Mia” porque gostava muito de gatos.
Influenciado pelo pai, um jornalista e poeta português que se exilou em Moçambique devido a perseguições políticas, Mia Couto começou sua trajetória na poesia já aos 14 anos, quando teve alguns de seus textos publicados no jornal “Notícias da Beira”.
Três anos depois, o jovem que era natural da cidade de Beira, se mudou para a capital de Moçambique, hoje denominada Maputo, para iniciar os seus estudos universitários no curso de medicina.
A partir de 1974, Mia Couto abandona os estudos médicos e segue sua carreira na área de jornalismo, contribuindo para os jornais “Tribuna” e a “Agência de Informação de Moçambique”, onde se tornou diretor. Exerceu o mesmo cargo posteriormente na revista “Tempo”, em 1979, e no jornal “Notícias”, em 1981.
Mia Couto viveu grande parte de sua vida em meio às guerras do país e chegou a participar da luta armada como membro da Frelimo, a Frente de Libertação de Moçambique, que venceu a luta pela independência. Ele também é um dos autores do hino nacional de Moçambique.
O primeiro livro de poesias publicado veio em 1983, “Raiz de Orvalho”. Com uma obra vasta e recheada de poesias, contos, romances e crônicas, Mia Couto é considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique. Suas obras já foram publicados em 24 países e traduzidas nas línguas alemão, francês, castelhano, catalão, inglês e italiano. Algumas delas ainda foram adaptadas para o teatro e o cinema.
Uma das características presentes em suas obras está no fato de o escritor exercer a língua portuguesa com influências moçambicanas, trazendo recursos da oralidade do país, assim como suas crenças, mitos e aspectos culturais. O uso da prosa poética rende várias comparações entre o autor e o escritor brasileiro Guimarães Rosa.
“Terra Sonâmbula”, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o “Premio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos” em 1995 e foi considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX. Anos depois, em 1999, Mia Couto recebeu o prêmio “Vergílio Ferreira” pelo conjunto de sua obra. Em 2007, o prêmio “União Latina de Literaturas Românicas”.
Em 2013, o escritor ainda foi contemplado com o “Premio Camões”, que lhe foi entregue no Palácio de Queluz, em Portugal, pelos então presidentes de Portugal, Cavaco Silva, e do Brasil, Dilma Rousseff. Um ano depois, ele foi presenteado com o “Prêmio Neustadt”, considerado o "Nobel Americano". Mia Couto e João Cabral de Melo Neto foram os únicos escritores de língua portuguesa que receberam a premiação. Além de todas estes reconhecimentos, Mia Couto é o único escritor africano que é membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1998.
O autor ainda atua como biólogo, profissão que se dedicou a partir de 1985, quando abandonou a carreira de jornalismo. Ele tem realizado pesquisas em diversas áreas, como o estudo de impactos ambientais em Moçambique, e atua como professor de ecologia em diversos cursos da Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique.
Mia Couto participou de alguns programas da TV Cultura, contribuindo com seu conhecimento literário e na área de biológicas. Confira:
2007 - Mia Couto é entrevistado no centro do Roda Viva.
2017 - Mia Couto fala sobre a sua visão de vida e infância no Café Filosófico CPFL.
2018 - O autor fala sobre a trilogia “As areias do imperador” no Repórter Eco.
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