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Ksenia e Maksim Iovenko
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Ksenia e Maksim se conheceram quando trabalhavam na mesma agência de viagens em Kiev

Imagens de drone mostram três carros passando em alta velocidade por uma estrada principal vazia nos arredores de Kiev, a capital ucraniana, quando de repente dão a volta e retornam. Todos, menos um.

Este carro branco chega a virar, mas logo para. Um homem sai e levanta as mãos. Em seguida, seu corpo cai no chão. Momentos depois, soldados russos se aproximam. Uma idosa e um menino saem do carro, e um soldado os leva embora.

O homem caído no chão é Maksim Iovenko. Ele tinha 31 anos e foi morto a tiros pelas forças russas que estavam posicionadas na beira da estrada. A esposa dele, Ksenia, que estava dentro do carro, também foi assassinada.

O filho de seis anos do casal e a amiga idosa da família que estavam com eles escaparam, embora ela tenha sido ferida e permaneça no hospital. (Ambas as famílias pediram que seus nomes não fossem publicados.)

"Até ver o vídeo, ainda tinha alguma esperança", disse o pai de Maksim, Sergiy Iovenko, à BBC em Kiev, onde mora. "Esperava que estivesse vivo."

O incidente aconteceu em 7 de março, quando Maksim e sua família se juntaram a um comboio de cerca de 10 carros de civis que tentavam chegar a Kiev a partir da região oeste à cidade, que se tornou uma zona de conflito. E foi filmado por um grupo de defesa territorial ucraniano que realizava um reconhecimento aéreo.

O vídeo, que parece mostrar forças russas atirando em civis, foi amplamente compartilhado.

Quando um amigo de Maksim que fazia parte do comboio ligou para Sergiy para dar a notícia, ele diz que soube imediatamente que havia algo errado. Houve um silêncio quando ele pegou o telefone e, finalmente, o amigo disse: "Seja forte, seu filho e sua nora se foram".

Maksym e Ksenia Iovenko
Supplied
Ksenia e Maksim Iovenko eram civis

Maksim morava em Kiev e trabalhava para uma agência de viagens, onde conheceu Ksenia. Sergiy descreve o filho como um homem de bom coração que gostava de cantar em karaokê. Mas seu maior hobby era sua família. "Ele amava muito o filho, era sua paixão", diz ele.

'Putin não seria capaz...'

Como muitos outros ucranianos, Sergiy diz que ele e a família não acreditavam que o presidente russo, Vladimir Putin, fosse capaz de invadir a Ucrânia. Quando isso aconteceu, Maksim achou que Kiev seria uma das primeiras cidades a ser bombardeada.

Após discutir a situação com um velho amigo de escola, Maksim e a família se mudaram para o oeste, para a segunda casa do amigo, nos arredores de Kiev, não muito longe da rodovia E-40, onde ocorreu o incidente. Maksim disse ao pai que achava que ficaria mais seguro e tranquilo lá.

"Aconteceu exatamente o contrário", afirma Sergiy.

Embora o foco principal da Rússia parecia estar no leste e sul do país, as forças russas também começaram a bombardear cidades a oeste da capital, como Irpin, Bucha e Hostomel, perto de onde Maksim estava hospedado. Sergiy diz que muitas vezes escutava o barulho dos fortes bombardeios de sua casa em Kiev.

Segundo ele, Maksim não falou muito sobre as condições na casa de campo. "Ele disse que era tranquilo, pacífico, normal."

Maksim e o amigo, também chamado Maksim, se revezavam para patrulhar a área à noite, conta Sergiy. As quedas de energia e o sinal fraco de celular dificultavam o contato regular. À medida que o bombardeio continuava, eles se mudaram para o porão e só saíam para comprar comida.

Então, em 7 de março, eles perderam todos os suprimentos. Sem eletricidade, aquecimento ou comida, Maksim, Ksenia e outras famílias que viviam na área decidiram voltar a Kiev. Eles sabiam que corriam o risco de encontrar tropas russas ao longo da estrada, mas achavam que poderiam passar por elas com segurança.

Fila de carros na Ucrânia
Getty Images
Milhões de pessoas cruzaram o território ucraniano para fugir da guerra

A fuga

O carro de Maksim era o terceiro no comboio, composto por cerca de 50 pessoas, incluindo muitas crianças. Nas janelas do carro, ele havia colocado cartazes feitos em papel branco que diziam: "Crianças".

O amigo dele fazia parte do mesmo comboio. Era a mãe do amigo quem estava no carro com Maksim e Ksenia, e foi capaz de contar a Sergiy o que aconteceu.

Quando o tiroteio começou, o carro de Maksim foi atingido. "O motor do carro parou", revela Sergiy. "Meu filho saltou do carro, levantou as mãos e começou a gritar que havia uma criança no carro, para salvá-lo."

Não está claro por que o resto do comboio ficou para trás dos três primeiros carros, mas Sergiy acredita que muitos dos que estavam atrás retornaram quando viram os carros na frente dando a volta e escutaram os disparos.

Depois do tiroteio, o corpo de Maksim foi deixado na estrada, e o de Ksenia, no carro. Os soldados russos disseram ao filho do casal e à mãe do amigo deles que voltassem caminhando pela estrada.

Quando chegaram a uma distância segura dos soldados russos, a idosa ligou para o marido, que foi até lá para levá-los a um lugar seguro. Eles voltaram para casa e foram levados para Kiev no dia seguinte.

Carro incendiado
Jeremy Bowen
Um dos carros incendiados na estrada onde Maksim e Ksenia foram mortos

O menino está com a avó na Ucrânia, longe de Kiev, onde Sergiy permanece.

Na semana passada, Sergiy recebeu uma ligação informando que a área em que ocorreu o incidente havia sido retomada pelas forças ucranianas. Havia, no entanto, mais más notícias.

"Queimaram todos eles. Queimaram os carros também", diz Sergiy.

Uma equipe de jornalistas da BBC visitou o mesmo trecho da estrada e viu muitos carros e corpos queimados. Entre eles, estava o carro de Maksim, crivado por estilhaços e reduzido a uma carcaça pelo fogo, com os restos carbonizados de um corpo dentro e outro na estrada ao lado dele, ainda usando uma aliança de casamento.

Sergiy diz que está desolado pelo que aconteceu e pelo que seu neto teve que testemunhar.

O menino lembra de ter visto os soldados russos com suas armas e está recebendo apoio de parentes e especialistas, segundo ele.

"As únicas palavras que ele disse quando chegou em um lugar seguro, para suas avós, foram: 'Não vamos mais dormir em um porão, vamos? E não haverá nenhum homem assustador?'"


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