Crescem os temores de que uma região separatista nos limites da Moldávia possa ser arrastada para a guerra na vizinha Ucrânia.
A região separatista da Transnístria - ou Transdniestria, em homenagem ao rio Dniester - se separou da Moldávia após uma breve guerra em 1992 e é governada por separatistas pró-Rússia.
Uma série de explosões misteriosas que ocorreram em um período de 48 horas fez com que as tensões na região aumentassem.
Segundo relatos, os ataques foram direcionados contra os seguintes alvos:
· Sede da agência de segurança estatal em Tiraspol, a principal cidade da região;
· Unidade militar em Parcani, uma vila nos arredores de Tiraspol;
· Antigas torres de rádio da era soviética usadas para transmitir notícias russas.
Os ataques não deixaram vítimas, mas as autoridades da capital da Moldávia, Chisinau, descreveram as explosões como uma provocação deliberada para incluir a região no conflito.
Mas quem realizou os ataques e por quê?
A BBC levantou quatro cenários possíveis de como as tensões na Transnístria podem aumentar, dependendo de quem está por trás das explosões e quais são suas motivações.
1. A Rússia e uma estranha coincidência
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, culpou os serviços de segurança russos pelas recentes explosões, dizendo que Moscou está tentando desestabilizar a região e arrastar outros países para a guerra com a Ucrânia.
A suposta ação na Transnístria coincidiu com uma mudança na estratégia de guerra da Rússia, que agora parece estar focada em assumir o controle do leste e do sul da Ucrânia.
O major-general russo Rustam Minnekaev, comandante interino do distrito militar central, disse em 22 de abril que assumir o controle total do sul da Ucrânia forneceria "outra saída para a Transnístria".
Ele alegou, sem se referir a nenhuma evidência, que "houve casos de opressão da população de língua russa" na região separatista.
Esse argumento ecoa uma das razões originais de Moscou para justificar a guerra na Ucrânia, mas não está claro se esse comentário foi sancionado pelo Kremlin. A Moldávia é uma ex-república soviética.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que não poderia comentar sobre questões relacionadas à campanha militar. O Ministério da Defesa russo não refutou as declarações do general Minnekaev.
Os Estados Unidos alertaram anteriormente que as forças russas poderiam lançar operações de "bandeira falsa" para criar um pretexto para invadir o território de outras nações.
2. Moldávia e tentativa de contenção da influência russa
A Transnístria é governada por uma administração pró-Rússia que se declarou independente após um referendo em setembro de 2006.
A votação não é reconhecida pela Moldávia e grande parte da comunidade internacional. A região separatista é economicamente, politicamente e militarmente apoiada pela Rússia.
Muitos falantes de russo na sociedade moldava acreditam que o governo em Chisinau seria capaz de encenar um ataque falso para aumentar o nível de ameaça terrorista e proibir as celebrações em 9 de maio.
É nessa data que a Rússia e alguns ex-estados soviéticos comemoram o aniversário da rendição da Alemanha Nazista no final da Segunda Guerra Mundial.
Os níveis de ameaça terrorista já foram elevados para vermelho na Transnístria e um desfile da vitória marcado para 9 de maio foi cancelado.
A presidente da Moldávia, Maia Sandu, que é fortemente pró-UE, assinou uma lei que proíbe o uso da fita de São Jorge, um símbolo militar russo, bem como a exibição das letras "Z" e "V" símbolos "no contexto da agressão militar da Rússia" contra a Ucrânia.
Multas pesadas estão em vigor para punir as pessoas que infringem as leis.
A população de língua russa da Moldávia diz que os verdadeiros objetivos do governo são apagar sua história e herança cultural.
3. Separatistas pró-russos e a guerra
Desde que a guerra na Ucrânia começou, foram levantados diversos questionamentos sobre o enclave pró-Rússia na Moldávia.
Depois que a Rússia anexou a Crimeia em 2014, muitos transnistrianos pró-Moscou começaram a esperar que a Rússia fizesse um movimento semelhante em sua região.
Cerca de 1.500 soldados russos estão estacionados no território da autoproclamada república e especialistas dizem que eles podem dar passagem livre aos tanques russos para a Moldávia.
Enquanto isso, a embaixada russa em Chisinau insistiu que os casos de discriminação contra falantes de russo se tornaram mais frequentes no país.
Em resposta, o governo da Moldávia exigiu um pedido de desculpas da Rússia, dizendo que as alegações eram infundadas.
De acordo com esse cenário, os separatistas pró-Rússia estariam dispostos a se juntar à guerra na Ucrânia em favor do Kremlin, embora analistas na Moldávia duvidem que os moradores da região estejam dispostos a arriscar suas vidas.
4. Ucrânia e o depósito de armas soviético
Autoridades da Transnístria e analistas russos culparam a Ucrânia pelo ataque.
A aldeia de Kolbasna, perto da fronteira com a Ucrânia, abriga o maior depósito de munição da Europa Oriental. Algumas das armas são compatíveis com os armamentos da era soviética usados pelas forças ucranianas para combater Moscou.
Uma interpretação dos acontecimentos sugere que a Ucrânia, diante da escassez de armas, quer tomar posse desse armazém.
Um funcionário do governo da Transnístria disse que três infiltrados não identificados da Ucrânia atacaram a sede de segurança com um lançador de granadas.
Essa alegação não foi verificada e alguns especialistas militares criticaram a denúncia. Eles dizem que a Ucrânia precisa dos mais recentes sistemas antitanques e antiaéreos que só Ocidente pode fornecer e não são compatíveis com as antigas armas soviéticas.
Eles também apontam que qualquer explosão na Transnístria, na fronteira ocidental da Ucrânia, afastaria as forças ucranianas de lutar contra os russos no leste.
Analistas russos, no entanto, argumentam que outra frente de guerra forçaria ainda mais a capacidade das forças russas. De forma alternativa, a Rússia poderia ser forçada a ignorar o problema, mostrando assim fraqueza.
E agora?
Após os incidentes, a presidente da Moldávia, Maia Sandu, realizou uma reunião de emergência e ordenou o aumento da presença de patrulhas na fronteira entre a Moldávia e a Transnístria.
A segurança nas sedes das instituições estatais e nos principais pontos de infraestrutura também foi reforçada.
A União Europeia disse estar extremamente preocupada com uma possível espiral de tensão entre Chisinau e Tiraspol. A UE pediu às partes que mantenham a calma e não aceitem provocações.
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