Bolívia, Índia, Angola: Queria ler estes artistas e aprender mais sobre estes países
09/01/2023 06h55
Na semana passada, escrevi uma lista de quadrinhos que eu adoraria que fossem publicados no Brasil. A coluna desta semana é quase uma continuação. “Quase” porque vai além da escolha dos artistas: eu os selecionei a partir de uma lista de países que raramente são publicadas por aqui. Além disso, trata-se de uma lista eclética: temos humor, ficção científica, fábula, drama social e charges.
Será que algum deles sairá no Brasil este ano? Pela qualidade do trabalho deles, e pelo pouco contato que temos com a cultura de seus países, torço para que sim.
ANGOLA
Os gêmeos Olímpio e Lindomar de Sousa são os grandes nomes das HQs de seu país. Eles têm um estúdio (chamado Olindomar, a soma de seus nomes) que trabalha de uma maneira bem bacana pelos artistas locais – por exemplo, realizando anualmente o Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação Luanda Cartoon. Eu passei uma tarde lá muitos anos atrás e foi inesquecível, aprendi bastante. Dentre os muitos trabalhos que produzem, eu gostaria de ver por aqui o humorístico “Cabetula”.
BOLÍVIA
Alejandro Barrientos e Joaquín Cuevas criaram a ficção científica “Altopía”, ambientada em 2053, para discutir os problemas bolivianos de hoje. O ponto de partida é imaginar que a globalização e o progresso tecnológico não vão melhorar a vida dos mais pobres, que viverão em uma cidade superpopulosa – com todos os problemas que disso resultam – e com alto índice de desemprego, com a maior parte dos trabalhadores vivendo de economia informal. A criatividade dos autores coloca em cena, por exemplo, robôs mascadores de coca fazendo o trabalho que antes cabia à classe média. O livro já ganhou elogios no jornal britânico “The Guardian” e no espanhol “El País”.
FILIPINAS
Publicado originalmente de forma independente, sem editora nem nada, “Elmer” é uma obra para lá de curiosa. Gerry Alanguilan descreve um mundo em que os galos e galinhas ganham, de uma hora para outra, inteligência humana e capacidade de falar. Parece comédia, mas passa longe disso. O enredo começa 20 anos depois destas aves aprenderem a se comunicar, quando o protagonista, o galo Jake, perde o pai. Ele retorna para o lar da família, no interior, e passa a lutar para que a sociedade passe a respeitar mais ele e aqueles como ele. Ou seja, uma fábula imprevisível.
ÍNDIA
Citei na coluna da semana passada o britânico Paul Gravett, um das maiores nomes do Ocidente quando o assunto sobre quadrinhos asiáticos. E foi de sua lista com as dez melhores HQs de Ásia de todos os tempos que eu tirei a graphic novel “River of Stories” (“Rio de histórias”, em tradução livre), de Orijit Sen. Publicada em 1994, retrata a polêmica construção de uma represa no interior indiano e de suas consequências sociais e ambientais.
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO
Tembo Kash tem mais de duas décadas de uma respeitada carreira como quadrinista. Mas é como chargista que alcançou maior destaque: é por meio de suas ilustrações ancoradas no noticiário que denuncia a corrupção e os enormes problemas sociais de seu país. Kash virou até tema de um documentário curta-metragem: “Tembo Kash: Cartooning for Justice” (“Tembo Kash: Charges pela Justiça”, em tradução livre), disponível aqui (infelizmente, apenas em inglês).
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