Estamos na Semana da Mulher. Aproveitei a data para olhar nas minhas planilhas e checar que quadrinistas estrangeiras eu gostaria que fossem publicadas por aqui. A lista estava desatualizada e algumas até já saíram (como a mangaká Kuniko Tsurita), mas tem muita artista bacana, de diferentes gêneros e origens (África, Ásia, Europa, EUA), que permanece inédita.
Apresento um recorte de seis quadrinistas (as irmãs italianas trabalham juntas). Fica aqui a dica para você ir atrás, caso fale o idioma dela, ou que me ajude na torcida para que saiam por aqui. E que seja uma Semana da Mulher boa e reflexiva para todo mundo.
Em paralelo a este artigo, escrevi quatro textos no Hábito de Quadrinhos, site primo-irmão desta coluna, também indicando HQs feitas por artistas mulheres. As publicações serão diárias, e ao final da semana terei indicado 30 artistas de gêneros e origens diferentes. Estão representadas a África (a marfinense Marguerite Aboue, a queniana Catherine Anyango), a América do Sul (a argentina Maitena e várias brasileiras, como Helô D’Angelo), a América do Norte (a canadense Nina Bunjevac, a norte-americana Emil Ferris), a Ásia (a coreana Keum Suk Gendry-Kim, a japonesa Rumiko Takahashi), a Europa (a finlandesa Tove Jansson, a sueca Liv Strömquist) e a Oceania (a neozelandesa Rachel Smythe).
Deena Mohamed (Egito)
Artista contemporânea e jovem, de apenas 28 anos, Deena Mohamed começou sua carreira aos 22, publicando a webcomic “Qahera”, protagonizada por uma super-heroína egípcia e islâmica. Seu trabalho de mais profundidade é a trilogia de graphic novels “Shubeik Lubeik”, uma espécie de fábula (desejos são vendidos em garrafas) ambientada no Cairo de nossos dias.
Lynda Barry (Estados Unidos)
O sindicato norte-americano de cartunistas e quadrinistas premia, anualmente, o artista de destaque no ano – é o Reuben Award. Em quase sete décadas, apenas cinco mulheres foram premiadas, e Lynda Barry é a que conseguiu tal feito mais recentemente, em 2019. Com mais de quatro décadas de uma prolífica carreira, seria interessante ver por aqui “The Good Times are Killing Me”, graphic novel lançada em 1988, ou, o que me parece ainda mais interessante, sua obra “Making Comics”, sobre criar quadrinhos, lançada há quatro anos (e premiada pelo Reuben Award).
Machiko Hasegawa (Japão)
Ela é um verdadeiro colosso dentro da história dos mangás – e curiosamente inédita por aqui. Machiko Hasegawa (1920-92) é a criadora de “Sazae-san”, uma série de humor que retrata a vida de Sazae Fuguta, 27, e sua família. O mangá foi publicado, sem interrupção, por 28 anos, até a aposentadoria da artista. A coleção que reúne a obra completa tem 45 volumes, em um total que se aproxima de dez mil páginas. “Sazae-san” inspirou um animê, que estreou em outubro de 1969 e ainda está na ativa, o que lhe garantiu um lugar no “Guinness – O Livro dos Recordes” como a mais longeva séria animada. São mais de 50 anos no ar, com mais de 2.500 episódios exibidos – como cada um narra de 2 a 3 histórias, são mais de 7.000 aventuras já contadas.
Marie Duval (França-Reino Unido)
Um dos primeiros nomes dos quadrinhos no mundo, a franco-britânica Marie (pseudônimo de Emilie de Tessler) criou, ao lado do marido, Charles Henry Ross, a tira Ally Sloper. Para os britânicos, este é primeiro personagem fixo dos quadrinhos no mundo: suas histórias passaram a circular em 1867, enquanto O Garoto Amarelo estreou nos jornais americanos em 1895. Marie Duval não ficou restrita a Ally Sloper. Ela também criou muitos cartuns e charges, tirando sarro também, mas não só, da elite britânica de sua época.
O também britânico Alan Moore, um dos maiores nomes das HQs mundiais, publicou entre 1999 e 2019 a série “A Liga Extraordinária”, em que homenageia centenas de personagens da literatura e dos quadrinhos. Ally Sloper faz algumas pontas, mas o mais interessante é que Moore usou a história final da série (“A Tempestade”, publicada no Brasil pela Devir) para publicar artigos sobre “ícones injustiçados”. Um deles é justamente sobre Marie Duval, de onde retiro este trecho: “Seu brilhantismo repousando no contraste entre o mundo idealizado da sociedade refinada e o cenário frequentemente delinquente com que ela e seus leitores eram mais familiarizados, Marie Duval floresceu nem tempo em que a narrativa visual dava seus primeiros passos”.
Angela Giussani e Luciana Giussani (Itália)
A rigor, elas não são inéditas aqui. Mas tão pouco do trabalho delas foi publicado que vale a pena voltarmos a elas. As irmãs Angela e Luciana criaram um dos maiores sucessos dos quadrinhos italianos de todos os tempos: o refinado ladrão Diabolik. Quando surgiu, o misterioso homem totalmente vestido de preto (apenas os olhos à mostra) era um vilão clássico, que chegava até a antar. Com o passar do tempo, passou a furtar de criminosos ou corruptos – mas não passava a grana adiante, claro. Diabolik é um grande sucesso na Itália, sempre exposto com destaque nas livrarias locais. Inspirou radionovelas, filme (“Danger: Diabolik”, de 1968), desenho animado (em 2000), romances, videogames e paródias como… o Superpato, da Disney (pela tradução do nome aqui no Brasil, confesso que achava que havia sido inspirado pelos Superman).
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