Fundação Padre Anchieta

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Eles fizeram parte da minha infância, e provavelmente da sua: os Smurfs (e sua indefectível música-tema) foram uma constante na TV das crianças brasileiras por uma quantidade considerável de anos. Engraçadas e ingênuas, aquelas pequenas criaturas azuis levavam um humor simples e cativante para seu público-alvo. Europeus celebram neste ano os 65 anos dos Smurfs, personagens que até nasceram nos quadrinhos, mas cuja popularidade e trajetória vai além deles – e merece ser comentada aqui.

Os Smurfs (que originalmente têm outro nome, chegaremos lá) surgiram como coadjuvantes. Seu criador é o belga Peyo (1928-92), um artista que já tinha uma considerável trajetória quando os criou. Em 1958, ele tocava a tira infantil de humor a aventura “Johan et Pirlouit”, quando seus protagonistas encontraram este pequenos (mediam “três maçãs” de altura) seres azuis que vivem em uma comunidade cujas habitações são cogumelos. Os Smurfs caíram no gosto do público e, um ano depois, passaram a protagonizar suas próprias histórias.

Peyo era belga e criava para suas HQs para públicos diferentes – o que lia em francês e o que o fazia em holandês. O nome original, em francês, é Schtroumpfs, um neologismo criado por Peyo em uma conversa com o amigo André Franquin. Uma vez, durante o jantar, ele foi pedir o sal e se esqueceu da palavra. Improvisou, em francês, algo que se traduziria como “Por favor, me passe aquele ‘schtroumpf’” ali. Franquin gostou da sonoridade engraçada, e ambos passaram a noite improvisando usos para ‘schtroumpf’. Esta brincadeira com a palavra se mantém até hoje em suas histórias, sejam em desenhos ou quadrinhos. Aparece em cenas quando um smurf aparece com um livro embaixo do braço e avisa “vou ali na biblioteca smurfar um pouco” ou quando outro aparece com uma bola e convida “você quer smurfar futebol?”.

(Cabe aqui dizer: André Franquin também é um excelente quadrinista, autor de muitas histórias de “Spirou et Fantasio” e criador do personagem Gastón.)

O nome Schtroumpfs, voltado para quem lia francês, ganhou desde cedo, na própria Bélgica, o equivalente Smurfs, utilizado nas obras em holandês. Quando a obra foi para o exterior, o nome mais utilizado foi o mais curto e fácil de decorar, Smurfs. Curiosamente, em sua primeira aparição no Brasil, foi utilizado um terceiro nome: Strunfs, batismo feito pela editora Vecchi em 1975. (Só por curiosidade: na Espanha eles são os Pitufos, e nos EUA, por um tempo, foram os Goblins, palavra que pode ser traduzida como “duendes”).

Os Smurfs fizeram sucesso nos quadrinhos. E, como costuma acontecer, foram para o audiovisual, o que amplificou imensamente seu alcance. O desenho animado “Smurfs” surgiu em 1981 nos EUA e no ano seguinte aqui no Brasil, trazendo o humor, a ingenuidade e os trocadilhos com a palavra-título.

Este desenho animado é o mais famoso, mas, claro, não é a única adaptação dos azuizinhos para fora das HQs. O primeiro longa animado, ainda em preto-e-branco, é de 1967; vieram então outras animações, ao menos 20 videogames (eu tinha um, que jogava no meu Atari), ações humanitárias com o Unicef, e até uma moeda comemorativa de 5 euros.

Mais recentemente, tivemos algumas animações para o cinema em 3D. A primeira saiu em 2011 (aqui no Brasil foi batizada de “Os Smurfs”), com direito à cantora Katy Perry como Smurfette e o apresentador britânico-americano John Oliver como Smurf Vaidoso. A sequência (“Os Smurfs 2”) veio dois anos depois, com o mesmo elenco. Uma nova animação, renovando a franquia, saiu em 2017: “Os Smurfs e a Vila Perdida” contou com a cantora Demi Lovato como Smurfete e Rainn Wilson, de “The Office”, como o Gargamel.

Como fã de quadrinhos, lamento que tão poucas obras dos Smurfs tenham saído aqui no Brasil: dos 45 álbuns publicados no mercado franco-belga (nem todos criados pelo Peyo, que passou o bastão adiante), tivemos acesso a apenas quatro – alguns por mais de uma editora. Não entram nesta conta, claro, livros de colorir e jogos de atividade. É material de qualidade, que pode encontrar público por aqui.

Fico muito curioso por um álbum em especial, o nono da série original: “Schtroumpf Vert et Vert Schtroumpf” (em tradução livre, “Smurf Verde e Verde Smurf”, publicado em 1972 com roteiro de Peyo e Yvan Delporte com arte do Peyo. Nele vemos um conflito enorme entre os smurfs que moram ao norte da vila com os que residem ao sul. O motivo não é econômico, mas cultural: uma pequena diferença na linguagem (e em como usam a palavra “smurf”) causa a cisão entre os povos. A história é vista como uma paródia da Bélgica, país-natal dos dois autores, em que 60% da população fala holandês e 40%, francês (alemão também é uma língua oficial, mas falada por menos de 1%). Pela complexidade do tema e pela qualidade do Peyo, adoraria ver este álbum lançado por aqui.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.