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No finalzinho da semana passada, a organização do Eisner Awards, o oscar dos quadrinhos americanos, anunciou os vencedores deste ano. E o prêmio de melhor minissérie ficou com “Alvo Humano”, de Tom King e Greg Smallwood. King ainda venceu na categoria melhor edição única por “Batman: Um Dia Ruim – Charada”, ilustrado por Mitch Gerads.

King é um dos grandes nomes quando falamos de roteiristas no mercado contemporâneo de quadrinhos de super-heróis – já era antes mesmo destes prêmios. Mas quando ele anunciou, em suas redes sociais, que seu projeto seguinte (justamente este “Alvo Humano”) envolveria os personagens da divertidíssima fase da Liga da Justiça de J.M. DeMatteis e Keith Giffen, os leitores se dividiram. E as razões por trás desse ame-ou-odeie Tom King são interessantes.

King é um escritor que tem se destacado por minisséries com personagens não tão famosos das grandes editoras de super-heróis. Recentemente, saíram dele, aqui no Brasil, “Senhor Milagre”, “Adam Strange”, “Ômega Men”, “Rorschach”, “Visão”, “Heróis em Crise” e “Supergirl”. Destas, a única que eu chamaria de famosa é a última.

A maior parte do trabalho de King – como este “Alvo Humano” – acontece fora da continuidade oficial das editoras. Ou seja, a rigor, ele pode matar quem quiser que não vai mudar nada. Ou, no limite, ele pode mudar completamente a personalidade do personagem apenas por fins narrativos.

Vamos abordar um pouco “Alvo Humano”. O protagonista-título é um guarda-costas e detetive da quarta divisão da DC Comics. Christopher Chance é um humano extremamente bem treinado que se disfarça das pessoas que vai proteger – uma premissa bem interessante.

Nesta mini, Christopher Chance interage com os heróis da fase cômica da Liga da Justiça. Ela é conhecida assim porque, quando foi publicada, a editora não liberou seus maiores personagens para os criadores. Assim, sem Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash e Lanterna Verde, o que fazer para tornar a Liga da Justiça, em tese o maior supergrupo da DC Comics, atraente para os leitores?

Os roteiristas DeMatteis e Giffen fizeram uma escolha ousada para a DC dos anos 80, mas que deu certo: humanizaram os heróis. Assim, entram em cena o lado emotivo do Caçador de Marte, a agressividade estúpida de Guy Gardner, a impetuosidade da heroína brasileira Fogo, a docilidade da extremamente tímida Gelo, as bobagens megalomaníacas da dupla Besouro Azul e Gladiador Dourado... O resultado foi um sucesso amparado em histórias cheias de humor e aventura.

E o que Tom King fez antes de anunciar “Alvo Humano” que rachou a opinião dos eleitores a seu respeito? As minisséries citadas acima têm alguns pontos em comum.

Primeiramente, são bem escritas. Os roteiros são misteriosos e cheios de iscas que te fazem querer virar a página imediatamente e te deixam com raiva quando percebe que a próxima edição vai demorar um tempo. Além disso, os personagens são mostrados com profundidade: dúbios, introspectivos, falhos. Ou seja: o leitora se aproxima do protagonistas e, ao mesmo tempo, fica louco para saber como a história continua. Pontos positivos para King.

Porém... E aí entra o ponto da discórdia. Para que o personagem caiba em sua narrativa, King não vê nenhum problema em mudar completamente sua personalidade. Vou citar alguns super-heróis que ele escreveu: Flash, Senhor Milagre e Adam Strange. Sem dizer quem fez o que, posso contar que, nas histórias do King, um deles tentou o suicídio (e falhou), outro traiu o planeta Terra para alienígenas e o terceiro matou vários amigos de uma vez. Se você conhece estes personagens, consegue imaginar algum deles fazendo isso? Óbvio que não. Porque eles jamais fariam. Mas isso não impede King: ele quer contar uma boa história, e os personagens que se adequem a ela.

O enredo da agora premiada mini do Alvo Humano é simples. Alguém tentou matar Lex Luthor, um dos maiores vilões da DC. Christopher Chance descobre que só pode ter sido um dos membros da Liga da Justiça de uma geração específica da equipe – a citada logo acima. Se você não conhece o Caçador de Marte, Fogo, Gelo, Besouro Azul e Gladiador Dourado, vai acabar envolvido por uma trama detetivesca cheia de reviravoltas. E, se você os conhece, fica torcendo para que o protagonista esteja enganado – afinal, é impossível que um deles tente um homicídio.

A minissérie foi publicada em 12 números nos EUA, que estão sendo publicados aqui no Brasil em apenas dois volumes com seis histórias cada. A parte final ainda não saiu, apenas a primeira. E a leitura da metade inicial já pode levar a uma conclusão: não importa se um deles é o assassino, suas personalidades já estão tão distantes do personagem original que podem frustrar o leitor. Aqueles parecem ser Caçador de Marte, Fogo, Gelo, mas, em essência, definitivamente não são.

Ótima narrativa, bom desenvolvimento de roteiro, personagens descaracterizados em prol da trama. Você concederia um Eisner Awards a “Alvo Humano”, de Tom King e Greg Smallwood?