Coluna Hábito de Quadrinhos

Como Peter David elevou o "X-Factor" de um péssimo conceito para uma saga divertida de super-heróis


25/09/2023 06h53

Hoje os X-Men - e os mutantes da Marvel - estão por aí em filmes, seriados, desenhos animados... Mesmo assim, será que você conhece o Fortão? A Polaris? O Homem-Múltiplo? Se hoje eles não são conhecidos, imagine mais de três décadas atrás, quando o ótimo escritor Peter David assumiu a revista mensal do X-Factor.

Por que alguém leria histórias com personagens tão desconhecidos?

Porque as histórias eram ótimas, oras.

Até Peter David assumir o título, o X-Factor era um conceito original - e péssimo. Os X-Men originais (Ciclope, Jean Grey, Fera, Homem de Gelo e Anjo), aqueles que sempre defenderam os mutantes, passaram 50 edições fingindo serem humanos que caçavam mutantes. Sim, caçavam mutantes! Esse era o X-Factor original...

Em tese, os antigos X-Men faziam isso para salvar os mutantes antes que algum vilão de verdade os pegasse. Na prática, eles, mesmo sem querer, ajudavam a propagar o preconceito e o ódio contra mutantes. Foram mais de quatro anos nessa patacoada até perceberem que era uma bobagem e reassumirem os seus postos como X-Men.

Se o conceito “original” da X-Factor era péssimo, o que Peter David fez? Retomou um conceito velho: super-heróis agindo a mando do governo federal. Nada original, mas... muito bem feito. As histórias eram aventuras envolventes: havia muita ação, humor, tramas e subtramas, mistérios... Tudo o que uma boa série de super-herói pode oferecer.

Em paralelo a isso, houve um belo tratamento dos personagens. Peter David pegou os três ilustres desconhecidos acima citados e mais Destrutor, Polaris e Mercúrio e criou uma revista dinâmica, divertida e complexa, desenvolvendo bem cada um desses super-heróis.

Os protagonistas da revista saíram da sombra dos demais mutantes e adquiriram brilho próprio. Até então, o Fortão nada mais era do que um guarda-costas irrelevante da Cristal; o Homem-Múltiplo, um eterno herói irrelevante nas poucas histórias em que os X-Men iam para a Escócia; e por aí vai. Aí, aos poucos, mês a mês, você vai descobrindo camadas complexas nestes personagens e se aproximando deles.

Após poucas edições, você queria sentar e tomar uma cerveja com o Mercúrio, apesar de ele ser tão ranzinza; com o Fortão, apesar de aparentar ser tão infantil; ou com a Lupina, tão tediosamente certinha. A superfície era só isso mesmo, superfície. Eles eram mutantes como você e eu.

Eu disse “mutantes”? Quis dizer “humanos”, desculpe ;-)

Foram quase dois anos de divertidas aventuras até que Peter David deixou a equipe, que paulatinamente retornou a seu patamar de grupo mediano de super-heróis... Infelizmente.

Escrevo nesta semana sobre o X-Factor porque a Panini está lançando um omnibus (edição gigante) de mais de 800 páginas justamente em torno desta fase: “X-Factor Por Peter David”, volume 1. Para mim, vai ser muito bom reler a série para me deliciar como ele foi elevando pouco a pouco os personagens – para depois lamentar como ele viriam a ser destruídos posteriormente por maus editores e roteiristas.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.

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