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A anti-heroína Eco é uma das mais jovens personagens a ganhar série própria no Universo Cinematográfico Marvel (UCM). Criada em 1999 como coadjuvante da revista mensal do Demolidor, ela debutou no UCM em 2021, na mini do Gavião Arqueiro, muito bem interpretada pela então estreante Alaqua Cox.

Complexa, a personagem despertou a atenção dos fãs e ganhou uma série própria, que estreou na semana passada. Mais uma vez, Alaqua Cox empresta seu talento à personagem. Se a série for bem recebida – e espero que seja – ainda teremos muitas obras com Eco na TV – e nos cinemas. Mas e como é esta personagem nos quadrinhos?

Maya Lopez, a Eco, conta apenas duas décadas e meia de existência, mas para uma personagem da Marvel (ou da rival DC) isso é tempo de sobra para estripulias editorias, como mudar de codinome heroico e uniforme, entrar e sair de supergrupos etc. Vamos evitar tudo isso e falar de algo realmente bom: suas primeiras histórias.

Como comentei acima, Eco surgiu como coadjuvante do Demolidor. Com roteiro de David Mack e arte de Joe Quesada, ela apareceu como interesse amoroso e antagonista do personagem. Convenhamos, isso não é exatamente novidade no mundo dos super-heróis e nem precisamos recorrer à clássica Mulher-Gato para saber disso. O próprio Demolidor já namorou-combateu-namorou personagens assim, como Elektra e Mary Tyfoid.

Mas havia algo de diferente interessante em Maya Lopez, e não por ser indígena e surda. Seus pensamentos e atos na sua primeira aparição – um arco de história que durou sete capítulos mensais – dava a entender que tínhamos ali alguém muito mais profundo do que um personagem comum. Eco era diferente.

Demorou um pouco mais de dois anos para que Maya atingisse seu potencial. A mesma revista mensal do Demolidor começou a publicar no final de 2004 “A Busca da Visão Espiritual”, uma saga em cinco capítulos mensais que era muito diferente de qualquer HQ publicada na época e, para ser franco, diferente de qualquer coisa publicada hoje.

Em primeiro lugar, o personagem-título da revista foi deixado de lado. O Demolidor até aparece de vez em quando, mas é quase um figurante. Em segundo, o tipo de história: por cinco meses, não há crimes, socos, bem versus mal, nada parecido. Há uma busca espiritual de uma pessoa com dúvidas sobre si mesma. O que temos á Maya Lopez em uma jornada de autoconhecimento.

Em terceiro lugar (sim, a lista é longa), a arte é absolutamente deslumbrante: David Mack (que também assina o roteiro) entrega páginas absurdamente lindas, enriquecidas com detalhes preciosos. Em muitas cenas, vemos mãos acrescentando informações à história por meio da Linguagem Americana de Sinais (que é diferente da Libras, Linguagem Brasileira de Sinais). Isto não está lá à toa: faz parte da personagem e da história, bem como um interessante mergulho à cultura dos Sioux. Nada é gratuito.

E, em quarto lugar... Em quarto lugar, a história é incrível. Eu a reli agora, como “preparação” para assistir à série, e é difícil não ficar com as expectativas lá em cima. David Mack entregou uma HQ com roteiro lindo e arte deslumbrante, sem se esquecer que fazia uma HQ para o público leitor da Marvel. O que ele cria ali faz parte da cronologia oficial da editora, e nada está fora do lugar. Quem conhece os personagens vai adorar. Quem não, vai gostar mesmo assim: a sensibilidade da narrativa captura o leitor, que se perde diante de tanta riqueza estética nas pinturas do próprio Mack para refletir sobre os dilemas e as dores daquela personagem.

A Panini lançou em 2021 “Demolidor – Eco”, uma coletânea que tem os sete capítulos de “Partes de um Vazio” (roteiro de David Mack, arte de Joe Quesada), a primeira aparição da personagem, e “A Busca da Visão Espiritual”, a ótima obra de Mack que descrevo acima e que projetou a ante-heroína Eco.

A primeira é uma boa história, mas dentro do universo dos super-heróis. A segunda, sim, eu recomendo para qualquer fã de HQs, familiarizado ou não com o universo Marvel. Quadrinho com “Q” maiúsculo. Dá vontade de ler mais histórias da Eco e, especialmente, mais obras criadas por David Mack. Será que algum dia veremos sua “Kabuki” publicada por aqui?

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.