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O mundo dos quadrinhos perdeu, na semana passada, a norte-americana Trina Robbins (1938-2024). Quadrinista (a primeira mulher a roteirizar e desenhar a Mulher-Maravilha), historiadora, intelectual, pensadora, editora, teórica... Trina Robbins estudou -a ajudou- os Quadrinhos de várias maneiras, especialmente no trabalho de reconhecimento das artistas mulheres.

Separei cinco obras de Trina Robbins que gostaria de ver aqui no Brasil, e deixo aqui como sugestão (e pedido...). Parabéns pelo incrível trabalho, Trina Robbins, e muito obrigado.

- “It Ain’t Me Babe Comix

Em 1970, Trina Robbins foi uma das criadoras de “It Ain’t Me Babe Comix”, que entrou para a história como a primeira HQ dos EUA criada apenas por quadrinistas mulheres. A capa já retratava o espírito de dar mais espaço e a devida importância ao trabalho das artistas nas HQs: Mulher-Maravilha, Luluzinha, Olívia Palito, Mary Marvel e outras icônicas personagens marchavam juntos, de punho erguido. Entre as autoras, Barbara Mendes (que editou a obra ao lado de Trina), Meredith Kurtzman, Michele Brand e a própria Trina, entre outras.

- “Women and the Comics”

Lançado em 1985 e coescrito ao lado de Catherine Yronwode, este livro inaugura a longa bibliografia de Trina sobre quadrinistas mulheres. Resultado de quatro anos de pesquisa, tornou-se referência para futuras obras sobre a história dos comics americanos, abordando autoras como a pioneira Rose O’Neill, Dale Messick (criadora de Brenda Starr) e Cathy Guisewite, entre inúmeras outras.

- “The Great Women Superheroes”

Eu poderia citar aqui outros livros de Trina sobre as mulheres (muitas vezes injustamente desconhecidas) que criaram HQs nos EUA, como “A Century of Women Cartoonists”,The Great Women Cartoonists” e “From Girls to Grrrlz: A History of Comics from Teens to Zines” (talvez o mais famoso).... Mas vou ficar com uma obra em que Trina faz outro tipo de abordagem: uma pesquisa sobre as protagonistas mulheres dos quadrinhos, que na maioria dos casos despareceram das estantes – e da memória dos leitores.

Para ficarmos só nas personagens que estão na capa: você conhece a Blonde Phantom (que saiu no Brasil como Loura Fantasma), a primeira versão da Phantom Lady (Lady Fantasma), a Lady Luck criada por Will Eisner (publicada por aqui como Dona Sorte) e a Moon Girl?

- “The Legend of Wonder Woman

A editora DC Comics deve se envergonhar até hoje disto. Sua principal personagem feminina, a Mulher-Maravilha, levou mais de 40 anos para finalmente cair nas mãos de uma artista mulher. Em 1986, Trina escreveu (ao lado de Kurt Busiek), ilustrou e arte-finalizou “The Legend of Wonder Woman”, uma minissérie em quatro partes que revisita elementos clássicos da heroína, como o microscópico Mundo Atômico (que fica em um átomo de urânio), a Dimensão dos Espelhos (com suas rainhas gêmeas) e muitos personagens da mitologia grega, tão influente em suas primeiras HQs.

- “Last Girl Standing”

Lançado em 2017, este é o livro de memórias de Trina Robbins. Passa, claro, em muitos pontos da história dos quadrinhos nos EUA, mas vai além. Antes de mergulhar como profissional no mundo das HQs (leitora ela sempre foi), Trina foi estilista e costureira, e trabalhou com literatura de ficção-científica e imprensa alternativa feminista. Escreveu 17 livros de não-ficção, a maioria sobre quadrinhos – os títulos acima são um pequeno recorte de sua vasta obra.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.