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Hoje ele é quase onipresente: o uniforme vermelho e preto e as duas espadas de Deadpool viraram parte da cultura pop. O trailer do terceiro filme do mercenário tagarela, agora acompanhado de um ranzinza Wolverine, está em qualquer lugar: nos cinemas, na TV, no computador, no celular e, se bobear, até na porta de sua geladeira.

Deadpool, o personagem, tem uma trajetória curiosa. O conceito de mutantes da Marvel estava em alta no início dos anos 90. Revistas como X-Men, Excalibur, X-Factor e Novos Mutantes vendiam bem: apresentavam pessoas que nasciam com algo que as destacava (os mutantes). Poderia ser uma cor de pele incomum, um dedo a mais nas mãos, asas nas costas, qualquer coisa. E, justamente por isso, eram considerados diferentes, evitados, temidos, odiados. A metáfora, que pode servir para qualquer tipo de preconceito (de cor, religião, orientação sexual etc.) servia de base para aventuras que misturavam um tiquinho de ficção científica com muita fantasia. E, naquele momento específico dos anos 90, havia o crescimento de cenas de violências e de personagens que oscilavam entre “heróis” e “vilões” – os protagonistas violentos e amorais chamados “anti-heróis”. Foi neste contexto que surgiu Deadpool.

O roteirista Fabian Nicieza e o ilustrador Rob Liefeld lançaram Deadpool em uma história dos Novos Mutantes publicada em dezembro de 1990. Ele aparece na capa, com destaque, ao lado de dois novos personagens: “Apresentando o letal Deadpool, o misterioso Gideon e a dinâmica Dominó!”.

Os Novos Mutantes, título da revista, eram, na época, uma espécie de turma mais jovem dos X-Men, com outro professor: o misterioso Cable. Deadpool surge do nada, no meio da história, se apresentando como um mercenário contratado para assassinar o Cable. Seis páginas depois, após lutar (e falar) muito, cai derrotado no chão, atingido pelas costas. Fim. Um início nada promissor, certo? Afinal, não passava apenas de um mercenário assassino – mais um, dentre dezenas no gênero dos super-heróis. Um vilão qualquer.

Deadpool retornou apenas nove meses depois, nas páginas da revista “X-Force” – novo nome da equipe anteriormente conhecida como Novos Mutantes. Continuava um vilão tagarela e violento, mas ineficaz – é derrotado novamente após seis páginas, e some da história.

O hoje anti-herói só começa a dar sinais de ser mais do que um vilão tagarela em meados de 1993, mais de dois anos após surgir. Ainda como vilão na revista da X-Force, ele se sacrifica para ajudar alguém de quem gosta. Deixa de ser apenas um vilão raso. E, aos poucos, sua história como personagem começa a mudar.

Deadpool, agora um anti-herói violento, típico do início dos anos 90, foi galgando espaço e conquistando títulos próprios: uma minissérie em 1993, outra em 94 e, finalmente, uma revista mensal a partir de 97. Nela surgiram coadjuvantes de peso como o Fuinha e a Cega Al. Mas mais importante do que isso foi o que aconteceu no n؟ 28 da revista, escrito por Joe Kelly.

Se Deadpool surgiu como um vilão mequetrefe e se transformou em um anti-herói como tantos outros, a primeira grande mudança apareceu sutilmente: em um diálogo aparentemente pequeno, Deadpool deixou claro que sabia que era um personagem de uma história em quadrinhos – recurso conhecido como “quebra da quarta-parede”. A piada voltou cinco meses depois, no número 33, e passou a ser recorrente.

Assim, o mercenário tagarela homicida completou o primeiro dos seus dois grandes ciclos de transformação: virou o anti-herói da Marvel que estrelava histórias engraçadas e violentas em que quebrava a quarta-parede. Mesmo que ainda não fosse da “primeira divisão”, como o Homem-Aranha, os X-Men ou os Vingadores, tinha uma identidade própria e passou a ter seu séquito de seguidores.

Este foi o primeiro grande passo na trajetória do Deadpool. O segundo ocorreu fora das páginas dos quadrinhos – e dentro da telona do cinema. O prelúdio aconteceu em 2009, quando o ator Ryan Reynolds, canadense como o próprio Deadpool, deu vida ao personagem em “X-Men Origens: Wolverine”. O filme, porém, era fraco, e a chance foi desperdiçada.

Em 2016, uma nova tentativa – e, finalmente, com sucesso. O diretor Tim Miller e Reynolds (de novo!) se reuniram no longa “Deadpool”. A mistura de humor, ação, violência plástica e, claro, quebra da quarta parede colocou o personagem entre os mais icônicos da Marvel. O filme ganhou uma continuação dois anos depois – menos divertida, mas ainda um sucesso de audiência.

E agora estamos em 2024. Como até eremitas isolados em cavernas distantes e sem acesso à internet devem saber, teremos um terceiro filme do personagem: “Deadpool & Wolverine”, com Reynolds e o igualmente carismático Hugh Jackman vivendo os protagonistas.

É uma mudança e tanto. De vilãozinho de terceira categoria a candidato a um dos principais blockbusters da temporada, Deadpool é um personagem com uma trajetória e tanto. E vai ser bacana vê-lo mais uma vez interpretado por Ryan Reynolds, que teve tanta importância nesta escalada para o sucesso do anti-herói.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.