Estamos na Semana da República. Além de um feriado que, finalmente, caiu em um dia útil, podemos aproveitar a data para celebrar a cultura nacional. E como esta é uma coluna sobre quadrinhos...
Como esta é uma coluna sobre quadrinhos, separei cinco sugestões de boas obras de artistas nacionais. Boa leitura!
A potiguar Luiza de Souza, que assina como Ilustralu, criou um personagem e tanto com seu adolescente Arlindo. Procurando se encontrar -como todo adolescente, aliás-, ele nos traz reflexões e dúvidas dosadas com muita doçura e humor. O enredo parte de um ponto de partida simples – o cotidiano de um adolescente – para nos trazer uma história profunda de amadurecimento, amizade e relacionamentos humanos.
“Morte e Vida Severina”, de Odyr
Se você reparar no primeiro parágrafo deste texto, eu disse que esta semana poderia ser utilizada para celebrar a cultura nacional – e não apenas os quadrinhos. A graphic novel “Morte e Vida Severina”, de Odyr, é um livraço por si só, trazendo, de maneira linda e poética, a dura jornada de um retirante nordestino. De quebra, pode servir de porta de entrada para a literatura maravilhosa de João Cabral de Melo Neto, autor de livros como “O Cão Sem Plumas” e “A Educação pela Pedra”, além do “Morte e vida Severino – Auto de Natal Pernambucano” adaptado nesta HQ.
“O Livro dos Pássaros”, de Lark
O formato de tiras em quadrinhos de humor não é novidade – duro mesmo é fazer uma obra original e divertida neste formato. E este é o mérito da paranaense Lark: ao ilustrar o cotidiano de uma firma em que os funcionários são animais (a maioria, pássaros), ela resgata, em alto nível, a tradição de humor por meio de HQs curtas. E talvez você acabe identificando um ou mais colega de trabalho “piando” por ali...
“Rabiscos de um Pracinha”, de Kash Fyre
Kash Fyre é um artista muito original. Este seu “Rabiscos de um Pracinha” foi criado para emular o diário de um brasileiro que foi obrigado a lutar na Segunda Guerra Mundial: do formato a detalhes como sujeiras, marcas de lama e até buraco de bala. Se fosse só isso, já seria bacana, mas ele nos premia com uma história dramática e sensível de um cidadão com alma (e talento) de artista jogado no meio do inferno apocalíptico que é uma guerra.
“Talco de Vidro”, de Marcello Quintanilha
Se você acompanha quadrinhos, sabe que Marcello Quintanilha é um dos maiores nomes do cenário brasileiro contemporâneo. Seu trabalho mais famoso talvez seja “Escuta, Formosa Márcia”, a primeira (e até hoje única) obra nacional a ganhar o prêmio de álbum do ano no festival francês de quadrinhos de Angoulême, um dos mais importantes do mundo. Mas presumo que você já conheça este álbum, e como ele criou excelentes obras antes dele, vou sugerir por aqui “Talco de Vidro”, uma HQ profunda e envolvente sobre a crise existencial de uma dentista fluminense.
Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.
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