Estamos na semana da cerimônia do Oscar. Como todo brasileiro, vou torcer por “Ainda Estou Aqui”, Fernanda Torres, Walter Salles etc. E vou aproveitar para reestudar sobra a ditadura no Brasil – se você viu o filme, sabe por que mencionei isto.
Há pouco tempo, fui atendido por uma médica. Ela me disse que estranhou quando soube que houve ditadura no Brasil e que só acreditou porque um tio confirmou. O comentário dela gelou meu sangue. O que será que andam ensinando nas escolas? Será que, em casa, as famílias não comentam sobre História do Brasil? Há ótimos livros, filmes, discos e, claro, quadrinhos para quem quiser se aprofundar no tema. Como esta é a coluna sobre Hábito de Quadrinhos, vou colocar meu foco sobre HQs.
“O Golpe de 64”, de Oscar Pilagallo e Rafael Campos Rocha

Eu conhecia o trabalho do Oscar Pilagallo como jornalista e fiquei surpreso ao saber que ele escrevia quadrinhos - e bem. O roteiro de “O Golpe de 64” é embasado em profunda pesquisa, e didático para pessoas que não viveram os terríveis tempos da ditadura. Já o trabalho do Rafael Campos Rocha eu já conhecia, e não fiquei surpreso em ver mais uma ótima HQ com seu nome.
“Subversivos.”, de André Diniz

Gosto muito dos roteiros do André Diniz. Inteligentes, cativantes e, de brinde, enraizados na cultura brasileira. No início deste século, Diniz lançou “Subversivos.”, uma série de HQs ambientadas durante a ditadura militar. Foi por meio de um exemplar desta série que entrei em contato com o trabalho do Diniz – e virei fã dele. Falo especificamente de “Subversivos. Um retrato dos anos de repressão”, mas recomendo qualquer outra obra da série.

Luiz Gê foi um nome marcante entre os grandes quadrinistas nacionais. Andou um tempo afastado da nona arte, mas volta e meia nos brinda com mais belos trabalhos. Este livro, em particular, tem tudo a ver com nosso tema de hoje: trata-se de uma coletânea de charges que ele publicou, sempre com olhar muito crítico, na reta final dos anos de chumbo.
“O que aconteceu com Eliana?”, de Amanda Martinelli e Majory Yokomizo

As três obras acima seguem uma espécie de ordem cronológica: “O Golpe de 64” mostra as raízes do movimento, as HQs de “Subversivos.” são ambientadas durante os lamentáveis Anos de Chumbo e as charges de “Ah como era boa a ditadura...” mostram o período que antecede a transição. Já este “O que aconteceu com Eliana?” traz um olhar muito mais próximo e pessoal: duas irmãs passam a desconfiar dessa versão sobre a morte da tia, que teria se afogado na banheira.

Imprensa alternativa, humor, entrevistas, quadrinhos, charges, cartuns, caricaturas. “O Pasquim” é um marco na cultura brasileira, e ver documentários e entrevistas sobre ele dá uma ideia sobre o enorme impacto que ele causou. Criado em 1969, foi um palco maravilhoso de oposição à ditadura, e celeiro de numerosos talentos em diversas áreas: Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Millôr, Miguel Paiva, Claudius, Fortuna... A Biblioteca Nacional disponibilizou, online e de graça, todas as edições de “O Pasquim” – página após página, desenho após desenho, contestação após contestação. Vale muito a pena.
Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.
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