Após mais de dois anos, a Marvel volta a lançar um filme: “Viúva Negra”, com a carismática Scarlett Johansson se despedindo da heroína que ela ajudou a transormar.

O filme é dirigido por Cate Shortland e, como indica o trailer, se passa anos antes da morte da heroína em “Vingadores: Ultimato” (Dizer isso é spoiler? O filme saiu há mais de dois anos…)

Aproveitei a data para falar um pouco sobre esta personagem, que por décadas foi uma simpática coadjuvante, ou nas histórias do Demolidor ou na dos Vingadores – mas que hoje é heroína do primeiro escalão da Marvel, graças ao talento de Johansson.

* Surgiu como vilã

Se você a conheceu nos filmes, viu que a Viúva Negra surgiu como coadjuvante no filme do Homem de Ferro, espionando o herói a mando da S.H.I.E.L.D.. Já nos quadrinhos…

Bom, nas HQs ela também surgiu nas histórias do Homem de Ferro, mas como vilã: era uma espiã russo a cargo da KGB. Acima, sua primeira aparição, admirando a beleza de Tony Stark, em uma história publicada em 1964 e criada por Don Rico, Don Heck e, claro!, Stan Lee.

Esse status de vilã comunista não durou muito tempo, a personagem foi ganhando camadas e, apenas dois anos depois, já era aliada frequente dos Vingadores.

* Fundou e liderou um grupo de heróis que não deu lá muito certo

Hoje, tanto nas HQs como no cinema, a Viúva Negra é conhecida como ótima espiã, lutadora e… líder. Se você reparar, é ela quem comanda os Vingadores no segundo filme da “Guerra Infinita”, após metade dos super-heróis do grupo (aliás, do universo inteiro) morrer.

Nos quadrinhos, a Viúva Negra passou a integrar os Vingadores em 1971. Mas saiu pouco tempo depois e criou um grupo de super-heróis comandado por ela mesma: os Campeões. Se os Vingadores tinham um deus (Thor) e dois mutantes (Mercúrio e Feiticeira Escarlate), os Campeões seguiram uma estrutura parecida. O deus Hércules e Homem de Gelo e Anjo, vindos dos X-Men, foram membro fundadores, ao lado do eternamente pária Motoqueiro Fantasma.

A revista dos Campeões não fez sucesso e foi cancelada dois anos depois, após apenas 17 edições.

* Casada, viúva, divorciada ou casada com um robô?

No universo dos super-heróis, o status de “vivo” ou “morto” é, como sabemos, transitório. Mas os maridos da Viúva Negra são um caso à parte.

Seu primeiro marido, Nikolai, morreu e permanceu morto. O problema está no segundo: Alexеi Alanovich Shostakov, que também morreu. Ou não.

Shostakov reapareceu em uma história dos Vingadores publicada em 1967, agora como o super-herói soviético conhecido como Guardião Vermelho. Reapareceu para morrer de novo, o que fez com que a Viúva Negra ficasse, como o nome indica, viúva.

Em 1990, entretanto, descobrimos que ele estava vivo – portanto, ela voltava a ser oficialmente casada. Ou não. Afinal, descobriu-se depois que era um robô com suas memórias.

O Shostakov original estava morto. Mas eis que um vilão, Kang, criou a Legião dos Desmortos… E aí o Guardião Vermelho estava de volta, como morto-vivo. Presumo que o estado civil da nossa Viúva fosse de viúva-e-casada ao mesmo tempo…

E, há poucos anos, em 2004, descobrimos em uma história do Demolidor que, sim, Shostakov estava vivo o tempo todo. Ou seja, não faço a menor ideia de quem era o Shostakov da Legião dos Desmortos, já que ele não havia morrido, e muito menos o estado civil da nossa heroína russa favorita.

Se a Viúva Negra (a das HQs, não a dos cinemas) estivesse no Facebook, seu estado civil seria “confuso”.

* Morreu quatro vezes (pelo menos)

Confesso que não li todas as histórias da Viúva Negra já publicadas. Pelas minhas contas, ela já morreu quatro vezes nos quadrinhos da Marvel, mas lógico que pode ser mais do que isso.

A primeira (acima) foi numa história clássica dos Vingadores, a Saga de Korvac. O vilão, o tal Korvac do título, matou dezenas de Vingadores e Guardiões da Galáxia, mas depois mudou de ideia e ressuscitou todo mundo (por favor, não culpe o mensageiro).

Quatro anos depois, foi assassinada por ninjas numa história do Demolidor escrita por Frank Miller (imagem que fecha este texto). Mas tudo bem: outro ninja a ressuscitou na edição seguinte.

Na minissérie “Guerra Infinita” (a versão de 2015), ela morreu em um cataclisma que destruiu universos inteiros. Felizmente, o Pantera Negra corrigiu tudo, usando a hoje mundialmente famosa Manopola do Infinito (aquela do Thanos).

E na mini “Império Secreto”, de apenas quatro anos atrás, ela foi morta pelo Capitão América. Ou por uma versão nazista dele, tão válida quanto a versão que combatia o nazismo, por motivo de brechas dimensionais (ou de maus roteiristas). De novo: por favor, não ataque o mensageiro!

Essa é a morte mais recente. Mas você acha que iam a deixar “morta” por muito tempo?

(A quinta morte dela foi no cinema, no último filme dos Vingadores, mas estamos falando apenas da personagem nos quadrinhos.)

* Viúva Negra na rival DC Comics!

A DC, eterna “inimiga” da Marvel, também teve sua própria Viúva Negra, vilã de uma história do Homem-Borracha. Ela foi lançada em 1949 – 15 anos antes da sua xará na Marvel, que é de 1964. Mas não é dela que falaremos aqui: é só uma coincidência de nomes.

O lance é que a DC tem, em seu maravilhoso multiverso, duas dimensões dedicadas a homenagens à sua rival Marvel. E uma delas tem os Retaliadores, uma paródia/homenagem aos Vingadores. E entre eles está Red Dragon, que, tanto pelo nome como pelo uniforme (veja acima), é possível ver que se trata da versão da DC para a Viúva Negra.

(Mantive o nome da personagem em inglês, Red Dragon, porque na única vez em que ela apareceu no Brasil foi traduzida como Dragão Vermelho, e desconfio de que tenha sido um erro – estava no meio de um monte de personagens, e talvez não tenham reparado que era mulher, ou poderia ter virado Dragonesa Vermelha.)

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.