Coluna Hábito de Quadrinhos

“Bendita Cura” reflete sobre os danos da homofobia


12/07/2021 09h58

Esqueça a “bolha” dos leitores de quadrinhos. Olhe ao seu redor, nas redes sociais que você consome. Você vê piadas homofóbicas ou comentários que começam com “não tenho nada contra gays, mas....”?

Agora, repare nas suas “bolhas culturais”, seja lá do que você goste. Quadrinhos, cinema, TV... Como são vistas as personagens LGBTQI+? E os artistas?

Aliás, repare o acrônimo que usei no parágrafo anterior: LGBTQIA+. Você o conhece? Engloba gay, lésbica, bissexual, travesti, trans, queer e mais – repare que termina não com uma letra, mas com o símbolo “+”. Este acrônimo apresenta a amplitude dos espectros do gênero e da sexualidade.

Esta introdução é para ressaltar a importância da trilogia Bendita Cura, de Mário César, iniciada em 2018 e que teve o segundo número lançado em 2019. O terceiro volume acaba de ser publicado, encerrando a história de Acácio, um jovem brasileiro gay de classe média.

Ele sabe que é gay, mas não se assume. Seus pais sabem que ele é, mas não aceitam. Pior do que isso: o submetem a “tratamentos”, como se ser gay fosse uma doença. Obviamente que não é.

“Bendita Cura” vai da infância de Acácio até a idade adulta. Há muitos exemplos do que passa um gay que não pode se assumir, sufocado em todos os âmbitos da sua vida: a religião, os pais, o ambiente de trabalho. Existir em um ambiente tão homofóbico é claustrofóbico, violento, assustador.

O tema, por si, já é relevante. Além disso, trata-se de um quadrinho muito bem-feito, com um Acácio com qualidades e defeitos, profundo – e acuado. Mário César sabe tanto do tema quanto da mídia que usou para narrar a história: ele é um dos organizadores da POC CON, feira LGTBQ+ de quadrinhos e artes gráficas.

Cabe até um aviso aqui. Mário é meu amigo. Juntos, há alguns anos, criamos a graphic novelPúrpura, em que narramos oito histórias, cada uma ambientada em um país que fala português. Fomos atrás de artistas desses países, torcendo para achar ao menos um representante de cada. No final, conseguimos a participação de 16 artistas de nove países – tenho muito orgulho de termos, Mário e eu, conseguido reunir esta equipe tão eclética e talentosa.

Os dois primeiros volumes de “Bendita Cura” foram finalistas da categoria “quadrinhos” do tradicional Prêmio Jabuti. Em 2019 e 2020, “Bendita Cura” venceu o Troféu HQ Mix, o Oscar das HQs nacionais, na categoria “web quadrinhos”. Ou seja, não estou sozinho nessa. Vale a pena ler “Bendita Cura”. E refletir sobre o que está lá.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.

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