Coluna Hábito de Quadrinhos

Como Grant Morrison resgatou o gigantismo da Liga da Justiça


16/05/2022 11h17

A editora Panini anunciou recentemente que irá publicar a ótima fase da Liga da Justiça por Grant Morrison. E isso é uma ótima notícia para nós, fãs dos quadrinhos de super-heróis.

A ideia de juntar os principais personagens de uma editora e lançar uma revista com um grupo de super-heróis (ou “supergrupo”) foi da própria DC Comics, mas não com a Liga da Justiça. Em 1940, a editora, então com dezenas de personagens vivendo aventuras solo em suas páginas, lançou a Sociedade da Justiça da América. A equipe, entretanto, não tinha todos os figurões da DC: Superman e Batman não estavam lá, mas ainda havia personagens com algum sucesso, como o Flash (que não é o da série da TV, mas seu antecessor), o Lanterna Verde (que não é o do cinema, mas outro herói completamente diferente), Gavião Negro, Átomo, Senhor Destino...

Apenas duas décadas depois da estreia da Sociedade a DC optou por, desta vez, colocar seus principais personagens em um supergrupo: a Liga da Justiça, lançada em 1960, tinha Superman e Batman, além de Mulher-Maravilha, Flash (sim, o do seriado), Lanterna Verde (sim, o do cinema) e os então obscuros Aquaman e Jonn Jonnz. O sucesso foi tamanho que a Marvel repetiu a fórmula três anos depois, com os Vingadores unindo Hulk, Thor e Homem de Ferro aos obscuros Homem-Formiga e Vespa.

A revista da Liga da Justiça fez barulho e teve ótimos personagens e artistas pelas duas décadas seguintes, mas acabou perdendo gás. A DC Comics não era exatamente integrada e funcionava como miniequipes independentes, então começou a acontecer de os então editores dos figurões não liberarem seus personagens para aparecerem em outras revistas. Aos poucos, Superman, Batman e os demais foram deixando o grupo. No início dos anos 80, a Liga da Justiça, que era para ter os maiores super-heróis da DC, contava com Jonn Jonnz, Homem-Elástico, Zatanna, Aço, Vibro, Víxen e Zatanna – não exatamente heróis de primeira grandeza da editora. Nem de segunda.

Ou seja, a Liga da Justiça não era mais a mesma.

A revista foi cancelada e ressurgiu logo depois, ainda sem seus principais personagens. Mesmo assim, ganhou relevância com os roteiristas J.M. DeMatteis e Keith Giffen comandando com inteligência e humor um elenco rotativo, mas que terminou, cinco anos depois, com Jonn Jonnz, Guy Gardner, General Glória, Besouro Azul, Fogo e Gelo. Convenhamos, a maior parte destes personagens não era de segunda grandeza da editora. Nem de terceira – e, mesmo assim, a fase é ótima, e eu a recomendo.

A Liga da Justiça ficou quase 20 anos sem ter os maiores personagens da DC Comics. A revista já havia sido cancelada uma vez, antes de DeMatteis e Giffen assumirem, e foi novamente, alguns anos depois – os roteiristas que os sucederam não eram tão bons quantos, e mais uma vez o elenco não ajudou. (Yazz, Civeta e Dama do Gelo seriam da quarta ou da quinta divisão da DC?)

E aí chegou Grant Morrison. Em 1996, a Liga ganhou sua nova revista mensal, pela primeira vez batizada de “JLA”, e um elenco de peso: Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash, Aquaman e o onipresente Jonn Jonnz em um primeiro momento, depois recebendo acréscimos para ficar ainda mais popular, como Arqueiro Verde e Homem-Borracha.

O resultado foi um baita sucesso – e é essa série que veremos agora. Foram anos de ótimas histórias, preparando para um misterioso arco final que era apenas sugerido nos primeiros números – quem, ou que, seria Maggedon?

A fase de Morrison com a Liga foi dividida em arcos (histórias em capítulos mensais), todos preparando para a conclusão em “Terceira Guerra Mundial”, quando finalmente descobrimos quem ou o que é Maggedon.

Cada arco é, em si, uma grande aventura em escala cósmica. Há nostalgia, com resgate de personagens que apareceram em histórias da Liga dos anos 60 e 70, como Darkseid, Chave, os Três Demônios e Professor Ivo, mas também há espaço para apresentação de novos e intrigantes personagens, como Prometeu, Zauriel e Amanhã.

O embate com Darkseid, em “Rocha da Eternidade”, é grandioso em todos os sentidos – reparem na cena em que os heróis percebem que a Terra foi transformada em uma nova Apokolipse (o planeta do vilão). Individualmente, os heróis têm seus momentos de brilho: Arqueiro Verde diante do Chave, Batman contra os marcianos, Superman versus um anjo (!), Lanterna Verde e Homem-Borracha diante da chegada de Maggedon...

Morrison resgatou o gigantismo da Liga da Justiça: não só os maiores heróis, mas os vilões mais perigosos; as realidades paralelas mais instigantes; as viagens no tempo mais surrealmente absurdas – a Liga da Justiça chega a viajar ao século 853, onde encontra o supergrupo que mantém seu legado vivo: a Legião da Justiça.

A Liga da Justiça só tem o tamanho que tem hoje por ter tido artistas como Grant Morrison reverenciando e ampliando a sua mitologia.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.

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