O Brasil lidera o ranking de países onde a produção de podcasts mais cresceu desde o início de 2020, segundo o relatório State of the Podcast Universe, divulgado pela empresa Voxnest, empresa americana referência em dados para a indústria de podcasts.

Já quando o assunto é ouvir podcasts, o Brasil se coloca como quinto país do mundo, atrás de Turquia, Índia, Colômbia e Argentina.

Quando muita gente achava que playlists de música sem locução eram a mídia do futuro, os podcasts apareceram para provar que o passado (rádio) e o futuro (internet) precisam do fetiche da voz para ganhar ouvintes e entreter por muitas horas os ouvidos humanos.

A explosão dos podcasts não é um assunto novo. Em alta desde 2019, o modelo de criar conteúdo em áudio em formatos de programas de média e longa duração e ser remunerado pelas plataformas de distribuição, como o Spotify, repercute e só cresce faz alguns meses.

Só no Spotify são 1.9 milhão de podcasts, crescendo mais de 200% a cada trimestre.

Porém, a novidade talvez esteja em outro lugar, no YouTube, onde a transmissão ao vivo da gravação destes podcasts (o que parece uma contradição) ganha novas abordagens e formatos, com equipamentos profissionais de captação de vídeo, direção de corte, iluminação profissional, cenários, vinhetas e audiências comparáveis aos programas de TV. Não é raro encontrar programas ao vivo com mais de 80 mil telespectadores simultâneos!

Os formatos dos programas são radiofônicos e lembram os papos de boteco, com gente sentada ao redor de uma mesa, batendo papo enquanto toma um gole de uma bebida e come um sushi ou pedaço de pizza.

Sem o gesso e as restrições de horários das rádios e da TV, os podcasts não tem hora para acabar. Se o papo está bom, as transmissões podem durar horas. No Inteligência Ltda, programa de Rogério Vilela, uma entrevista com a comediante Bruna Louise durou 3 horas e 34 minutos e seguiu pela madrugada, com milhares de telespectadores fazendo perguntas e interagindo pelo chat.

A frequência também cativa a audiência. Como os programas são diários, cria-se o hábito de estar online no horário do podcast para ouvir quem são os convidados do dia e acompanhar o bate-papo.

Além do vídeo, a interatividade e a possibilidade de participar da conversa, instigam e alimentam a audiência, que acaba fazendo parte do roteiro improvisado de cada podcast.

O Podpah, outro fenômeno deste formato, com 1.59 milhões de inscritos no YouTube, semanas atrás fez a experiência de virar uma rádio e transmitir conteúdo ao vivo no YouTube durante 24 horas seguidas, sempre ao vivo, com entrevistas soltas com personalidades da Internet. A edição especial bombou e atingiu mais de 8 milhões de visualizações, com patrocínio de grandes marcas como empresas de alimentação, bancos e cursos de inglês.

Podcasts estão deixando de ser nicho para virar mainstream e não são apenas os anunciantes que estão de olho nesse crescimento. Startups agregadoras de podcasts e estúdios especializados em lançar formatos (e ficar com parte da receita) pipocam pelo Brasil e pelo mundo.

Grupos de mídia e grandes empresas de distribuição se movimentam e começam a fazer ofertas pelas produtoras de podcasts e aumentam substancialmente os cachês de seus apresentadores.

Se a vida está difícil para o vovô Rádio, que luta pelas verbas publicitárias e assiste seu público envelhecer, o netinho podcast só está começando a dar seus primeiros passos rumo ao futuro. :)

João Ramirez é estrategista digital e especialista em livestreaming. Fez a 1ª transmissão ao vivo da história da Internet brasileira, em 1996, e está no Guinness Book of Records. Dirigiu milhares de programas ao vivo nos últimos 20 anos. Gosta de rádio, vinil e até topa ouvir podcasts, desde que seja no 3 em 1 da sala e gravado numa fita cassete.