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A Fórmula E realizou em Valência o terceiro encontro da temporada 2020-21 no último final de semana, com as corridas válidas pela quinta e sexta etapas. A equipe Mercedes colocou de vez as manguinhas de fora e já é a líder do campeonato de pilotos e de construtores. Mas o final de semana, um tanto confuso, colocou alguns acontecimentos que pedem uma revisão urgente das regras do jogo.

A primeira delas é que a Fórmula E é uma categoria que corre nos circuitos de rua. Carros elétricos, sustentabilidade, futuro da mobilidade – total sentido correr em pistas urbanas. As provas de Valência, basicamente por causa da pandemia e da dificuldade geral em se fechar um calendário, foi disputada em um autódromo, no Circuito Ricardo Tormo. Ok, a Fórmula E correu cinco vezes no Hermanos Rodríguez, na Cidade do México, mas com um layout completamente diferente daquele usado na Fórmula 1, por exemplo.

A pista de Valência é usada nos testes de pré-temporada. A organização mudou bastante alguns pontos do traçado, incluindo chicanes e pontos de freadas mais fortes. Originalmente, o circuito valenciano é mais rápido e fluido, que não exige tanto dos freios. Mas o carro da Fórmula E precisa de freadas fortes para fazer funcionar a recuperação de energia para a bateria. Por si só, o traçado já faz os carros da FE gastarem mais energia que o normal.

Aí veio a corrida de sábado. Espetacular. Pista molhada, confusão do início ao fim. Cinco intervenções do safety car e uma regra que nas provas anteriores havia passado despercebida, fez toda a diferença no resultado do sábado espanhol: a cada minuto de safety car na pista, a FIA (Federação Internacional do Automóvel, entidade que rege o esporte) retira 1 kwh da bateria dos carros. Foram cinco intervenções, que totalizaram 19 minutos: 19 kwh a menos de energia. Tudo para forçar os pilotos a economizarem e jogarem com suas estratégias.

O resultado foi um desastre: só nove pilotos viram a bandeira quadriculada. Antonio Félix da Costa, que liderou a corrida toda e abriu a volta final na liderança, foi um dos que sucumbiram sem energia suficiente e foram se arrastando pela pista. Fora aqueles que foram desclassificados por uso excessivo de energia – há uma reserva de bateria que não deve ser usada, e em alguns casos acaba sendo, não por culpa do piloto.

O fato é que os quilowatts tomados da bateria pela FIA na verdade permanecem armazenados; eles só deixam de ser disponibilizados. Por causa do tempo de intervenção – 19 minutos dos 45 de corrida -, tinha carro no Parque Fechado que ainda tinha 40% de bateria!

A Fórmula E traz os valores da sustentabilidade, da mobilidade elétrica e limpa. Colocar carros na pista que se arrastam por não ter energia é no mínimo contraditório. São corridas curtas, nas quais os pilotos têm de dar tudo na pista. Ver gente se arrastando no final sem energia não passa a mensagem da sustentabilidade pela qual a categoria tanto preza.

Regra é regra, goste-se ou não delas. Mas que são discutíveis, disso não tenha dúvida. Espero, sinceramente, que FIA e Fórmula E possam rever isso e deixar os carros disputando livremente na pista.

Cleber Bernuci é jornalista e narrador dos treinos livres da Fórmula E no site oficial da TV Cultura.