Coluna Ricardo Fotios

Vazamentos de dados aumentaram 493% no Brasil, mostra pesquisa do MIT

Base construída por pesquisador brasileiro identifica mais de 26 bilhões de informações à disposição de criminosos no mundo em dois anos


04/02/2021 20h17

Mais de 205 milhões de dados de brasileiros vazaram de forma criminosa em 2019, incluindo aqueles do megavazamento noticiado recentemente. O resultado indica um aumento de 493% em relação à quantidade de informações que escoaram pelas redes no ano anterior. Em quantidade de incidentes, o país saltou de três, em 2018, para 16 no ano seguinte.

A conclusão é de pesquisa conduzida pelo brasileiro Nelson Novaes Neto, em conjunto com o professor Stuar Madnick, ambos do MIT (Massachusetts Institute of Technology). O trabalho científico foi publicado na edição de janeiro no Journal of Data and Information Quality, da ACM (Association for Computing Machinery).

A quantidade de dados à disposição de criminosos é ainda mais assustadora quando se avalia o total vazado no mundo. Somando-se o que se encontrou entre 2018 e 2019, nada menos do que 26 bilhões de informações de pessoas e empresas foram surrupiadas em 426 incidentes registrados pelo estudo.

Para chegar a esse compilado de casos, o especialista em cibersegurança consultou 159 fontes em 19 países. Além de informações do Brasil, Novaes Neto pesquisou vazamentos nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, China, Alemanha e Israel, entre outros. As principais origens dos registros foram sites de notícias, seguidos de sites de empresas e de governos.

Além do aumento de incidentes nos últimos anos, o pesquisador destaca como muito preocupante o tempo que uma empresa leva para saber que foi invadida e teve os dados comprometidos - dwell time (tempo de exposição, em inglês). Segundo o estudo, a média desse intervalo de tempo gira em torno de 250 dias. O chamado megavazamento brasileiro, que ficou popular nas últimas semanas, teria acontecido, na verdade, em 2019. E há casos importantes com mais de 4 anos de exposição de dados até que se soubesse que o vazamento ocorreu.

O papel de destaque do jornalismo como fonte da pesquisa mostra, ao mesmo tempo, uma fortaleza e uma fragilidade sobre o tratamento de dados pessoais. A mídia tem cumprido seu papel de informar e alertar a sociedade sobre recorrentes problemas com segurança digital, o que é muito bom. Mas é no mínimo perturbador que um jornalista tome conhecimento de vazamentos antes mesmo da empresa que armazena as informações.

Por essa razão, o trabalho lista alguns pontos de atenção bastante relevantes, não apenas para futuras pesquisas sobre o tema, mas para o tratamento de dados em geral. Entre as sugestões de melhorias, os autores do artigo indicam a necessidade de mais e melhores registros sobre vazamentos – como uma base global de incidentes - e a padronização dessas informações para facilitar o mapeamento dos casos e, consequentemente, mitigar suas ocorrências.

Ricardo Fotios é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação e da cibercultura. É autor de Reportagem Orientada pelo Clique (Appris, 2018) e pesquisador associado ao ESPM MediaLab.

ÚLTIMAS DO FUTEBOL

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Secretaria de Saúde de SP dá dicas para evitar intoxicação infantil durante as férias

EUA receberam informações de plano iraniano para assassinar Donald Trump; Irã nega

Aeroporto de Porto Alegre será reaberto em outubro, diz ministro

Militares custam 16 vezes mais à União do que aposentados do INSS, revela TCU

Concurso TSE Unificado: calendário das provas é alterado; veja mudanças