Clubhouse: rede social nova, riscos de sempre
Sem a cautela do usuário, aplicativo para bate-papo em áudio pode virar palco para disseminação de conteúdo duvidoso e desinformação
11/02/2021 20h20
Só entra quem tem iPhone e convite enviado por membro ativo na plataforma. Clubhouse - a nova rede social de conversas exclusivamente em áudio - restringe seu público inicial pela régua alta do estrato social, mas sem o recorte da credibilidade, que fica por conta do cliente.
A campanha de triagem de usuários via convite dá verniz glamoroso para os novidadeiros de plantão, que já se enfileiram para ter o privilégio de fazer parte da casta digital. A corrida pelo acesso começou em janeiro, mas ganhou tração nos últimos dias com a chegada de celebridades ao clubinho e a ostentação do novo perfil nas redes sociais já estabelecidas.
Seletiva para conceder acesso, a rede é, na verdade, bastante aberta em seu funcionamento. Uma vez dentro, qualquer usuário do aplicativo pode abrir uma sala pública sobre o tema que desejar e ficar ali contando casos, dando dicas e relatando experiência ao vivo para até 5 mil pessoas simultaneamente. Tem também a opção de conversa privada, em que só membros autorizados participam. É bem útil para reuniões e aulas, por exemplo.
Os papos, em geral, são variados em assunto e idioma, sendo mandarim e inglês as línguas predominantes. Há salas sobre música, religião, mídia, autoestima, feminismo, publicidade, empreendedorismo, cinema, mangá e por aí vai. É um palco interessante para ouvir e dialogar com profissionais e especialistas de várias partes do mundo.
A fragilidade do Clubhouse é a mesma de outras redes sociais: credibilidade. Sem curadoria ou edição, um charlatão qualquer pode ter voz no aplicativo e convencer milhares de outros usuários sobre questões que definitivamente não domina, misturando informação com opinião sem as devidas sinalizações.
A estratégia elitista de lançamento é um agravante. Por entender que ali só está a nata dos formadores de opinião e influenciadores digitais, o cidadão comum pode baixar a guarda da desconfiança e passar a reproduzir o que ouviu sem checar a veracidade da afirmação. Esse filme já é bem conhecido e termina com contaminação em massa por fake news.
Outra característica da novidade é que nada do que foi dito fica disponível para consulta posterior. Por um lado, protege quem não estava ao vivo de receber conteúdo ruim no futuro. Por outro, dificulta a prova de discursos criminosos, como disseminação de ódio, preconceitos e difamações, por exemplo.
No geral, vale para Clubhouse o que vale para as demais plataformas. É bom sempre checar quem é que está falando e qual sua autoridade no assunto. A revisão vale também para o conteúdo: não propagar informação sem antes se certificar de que é autêntica.
Do mais, é só se jogar no app e aproveitar as conversas legais que estão rolando. Sem essa de “não aguento mais uma rede social”. No ecossistema da internet, tudo vira social media. Inútil resistir, melhor aprender a usar e decidir quais têm mais a ver com o tipo de amigos e relações virtuais quer manter.
Ricardo Fotios é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação e da cibercultura. É autor de Reportagem Orientada pelo Clique (Appris, 2018) e pesquisador associado ao ESPM MediaLab.
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