Coluna Slime

Arte no escuro

Na semana em que celebramos o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, te convido a conhecer alguns artistas cegos que se encontraram em diferentes vertentes artísticas


25/09/2020 10h00

E aí, beleza? Sabia que 21 de setembro é o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência? Pois é. Eu não sabia, mas nunca é tarde para aprender. Eu descobri a data porque dias atrás assisti a uma entrevista com bailarinas cegas que me deixou muito emocionado e daí pensei na possibilidade de escrever sobre elas, já que meu principal tema é arte. E unir arte, inclusão e informação é necessário. Mas, durante a elaboração do texto, fui ampliando o foco e comecei a pesquisar sobre artistas cegos em geral. Então, um mundo se abriu à minha frente, muito além da deficiência visual, e achei pertinente compartilhar com você. Pra começar, encontrei um Calendário Inclusivo, que abrange não apenas pessoas com deficiência. Veja:

A data do dia 21 de setembro foi uma proposta de Cândido Pinto de Melo, ativista do movimento pró-pessoas com deficiência, na década de 80, mas foi oficialmente instituída em 14 de julho de 2005, pela Lei nº 11.133, com o objetivo de lutar contra a exclusão, a desigualdade, o preconceito e a falta de acesso a direitos básicos. Você pode saber mais sobre esse dia no site Deficiente Ciente

Muito bem! Dito isso, embora a data oficial da pessoa cega seja só no dia 13 de Dezembro, vou me manter fiel ao que me inspirou a escrever este Slime: as bailarinas e outros artistas cegos. Você já parou para observar a quantidade e a qualidade de artistas com deficiência visual que nos provam através de seus trabalhos o quanto a arte fez diferença e trouxe qualidade de vida a eles? Vou listar aqui o meu elenco com alguns artistas cegos:

Stevie Wonder – Nascido em 13 de maio de 1950, em Saginaw, Michigan, nos Estados Unidos, o cantor, compositor e multi-instrumentista ficou cego logo após o nascimento. Teve retinopatia da prematuridade. Estreou aos 12 anos, gravando seu primeiro single de sucesso em 1963. Na década seguinte, Wonder emplacou várias canções de sucesso, incluindo Living in the City, Boogie on a Reggae Woman e Isn't She Lovely. Seu período mais fértil durou até 1979, mas também teve hits nos anos 1980, como I Just Called to Say I Love You e Ebony and Ivory. Ele foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame em 1989.

Andrea Bocelli - Nascido no dia 22 de setembro de 1958, na cidade de Lajatico, na Itália, desde pequeno já aparentava ter sérios problemas para enxergar. Após alguns exames, o garoto foi diagnosticado com glaucoma. Aos 12 anos de idade, acabou perdendo completamente a visão após ser atingido na cabeça durante um jogo de futebol. Herdou da mãe a paixão pela música e já criança começou a estudar canto e instrumentos. É um dos artistas mais aclamados e premiados da atualidade: tenor, compositor e produtor musical, fazendo turnês pelo mundo todo. No Brasil, se tornou amplamente conhecido ao gravar um dueto com a cantora Sandy.

John Bramblitt – O artista plástico norte-americano perdeu sua visão quando tinha trinta anos, devido a uma complicação em suas crises de epilepsia e encontrou na arte a motivação de sua vida. Para pintar, usa a visão háptica (através do tato), tintas de secagem rápida (para poder sentir na ponta dos dedos a forma que imprimiu na tela) e, com o auxílio de etiquetas em braile nos tubos de tinta, consegue fazer a mistura certa das cores. Ele distingue, inclusive, a cor que está usando pela textura da tinta. No seu site, você pode conferir algumas de suas obras, caracterizadas pelas cores vivas e vibrantes.

Kátia – É uma cantora e compositora brasileira, nascida em um parto prematuro que, como sequela, deixou uma deficiência visual. Considerada uma das mais belas vozes nacionais, fez muito sucesso e ganhou diversos prêmios nos anos 80. É afilhada artística de Roberto Carlos.

Geraldo Magela (Ceguinho) – O humorista nasceu em 10 de maio de 1958, em Venda Nova, Belo Horizonte, em uma família com oito irmãos, sendo cinco cegos, todos com uma doença conhecida como retinose pigmentar, que provoca perda gradativa da visão. Magela lembra que teve dificuldade para enxergar já na infância e o quadro piorou quando tinha aproximadamente 22 anos.

Geyza Pereira – Nascida no sertão de Pernambuco, perdeu os movimentos e a visão em decorrência de uma meningite. Recuperou os movimentos, mas não a visão. Pensou que jamais poderia realizar o sonho de ser bailarina. Porém, por causa de complicações em decorrência da meningite, seus pais a trouxeram para morar e fazer tratamento em São Paulo, onde foi matriculada numa escola especial na qual conheceu o Balé por meio da, na época, professora bailarina Fernanda Bianchini, voluntária de apenas 15 anos. Hoje, Geyza é bailarina e professora e tem sua vida contada no documentário Olhando para as estrelas, do diretor brasileiro Alexandre Peralta. A obra retrata a complexidade da vida de Geysa e Thalia – palavras do diretor: “essas histórias mostraram como a paixão por aquilo que se vive e se faz é capaz de trazer felicidade. Aprendemos que os maiores desafios vão muito além do que está na superfície, no caso delas, a cegueira”. Eu vi e é especialmente emocionante observar essas bailarinas ensaiando, aprendendo e bailando, utilizando outros meios para enxergar os passos, os movimentos, a coreografia. Veja também:

Vou, agora, indicar um livro, que não foi escrito por um cego, mas que fala sobre uma forma de cegueira. Ensaio sobre a Cegueira é um romance do escritor português José Saramago publicado em 1995 e traduzido para diversas línguas. A obra narra a história da epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas e abalando as estruturas sociais. O livro também inspirou o filme de mesmo nome, do diretor Fernando Meirelles, que foi lançado em 2008.

Aproveitando o tema, vale lembrar que é de extrema importância o cuidado com os olhos, visitando regularmente o oftalmologista, e buscando orientação quando sentir algum incômodo acentuado na visão.

E, mais uma vez, vimos a importância da arte na vida das pessoas como lugar de encontrar forças para a superação, alento e amparo. E essas pessoas merecem nosso reconhecimento, merecem seus lugares no palco ou em qualquer lugar em que desejarem estar.

E, para encerrar: Arte no Escuro. Esse foi o título provocativo que dei ao meu Slime de hoje. Mas, agora te pergunto: quem está realmente no escuro? Eles e elas, que apenas não enxergam com os olhos da carne, mas que veem muito além do que a visão poderia alcançar, ou uns e outros, de olhos sadios, que não conseguem ver o que está a um palmo do nariz ou mesmo que fecham as pálpebras para aquilo que, na verdade, não querem enxergar? Blackout.

Jon Faria é ator, arte-educador, ilustrador, apresentador e ator de voz (voz original, locução, narração e dublagem).

ÚLTIMAS DO FUTEBOL

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Secretaria de Saúde de SP dá dicas para evitar intoxicação infantil durante as férias

EUA receberam informações de plano iraniano para assassinar Donald Trump; Irã nega

Aeroporto de Porto Alegre será reaberto em outubro, diz ministro

Militares custam 16 vezes mais à União do que aposentados do INSS, revela TCU

Concurso TSE Unificado: calendário das provas é alterado; veja mudanças