Coluna Slime

Passarinho, que voz é essa?! O que você sabe sobre a dublagem brasileira?

É por meio dela que filmes, séries e jogos chegam à boa parte da população, imortalizando tantos personagens nas nossas memórias e corações


29/10/2020 22h00

Você que é fã de dublagem, assiste filmes, séries e joga vídeo game certamente vai curtir este Slime: vou falar sobre a dublagem brasileira. E, desta vez, trouxe um bônus para vocês. Ao final do texto, tem um vídeo no qual entrevistei James Gordon, de Gotham; Connor Walsh, de How To Get Away With Murder; Jayden, o Power Ranger Vermelho de Power Ranger Super Samurai; Toma de Icarus, de Cavaleiros do Zodíaco Prólogo do Céu; Owen, de A Maldição da Mansão Bly; Jack, de Station 19; Deeks, de NCIS LA; Cypher, do game Valorant, e vários outros – todos em um só homem: Thiago Zambrano.

Mas, voltemos ao princípio: a história da dublagem no Brasil começou em 1938, com a chegada do filme Branca de Neve e os Sete Anões. Antes, os filmes eram legendados. Os cantores Dalva de Oliveira e Carlos Galhardo foram convidados para dar voz aos personagens e essa é considerada a primeira dublagem no país.

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Nos anos 60, o presidente Jânio Quadros determinou que filmes e séries estrangeiras exibidos na televisão (recém-chegada ao Brasil) fossem dublados, porque a baixa qualidade da imagem tornava quase impossível a leitura das legendas. Hoje, 60 anos depois, a dublagem brasileira é considerada uma das melhores do mundo devido a qualidade técnica dos estúdios, diretores e atores.

É muito comum conseguirmos identificar personagens favoritos apenas ao ouvirmos a voz marcante do dublador ou dubladora – Chiquinha, de Chaves; Scooby Doo, do desenho animado de mesmo nome; Alf, de O ETeimoso, o Cebolinha, da Turma da Mônica, e muitos outros. Mas isso também tem uma lado chato, porque, cada vez mais, vemos e ouvimos as mesmas vozes em personagens completamente diferentes! O dublador Thiago Zambrano comenta e explica isso durante a entrevista.

Pesquisas apontam que seis a cada dez brasileiros preferem assistir filmes dublados, não só no cinema, mas também nas plataformas de streaming. Não sei você, mas eu, quando ouço a voz do meu personagem favorito, e ao olhar, vejo outro personagem, em outro filme ou série, me sinto um pouco traído. Por quê? Porque, de certa forma, aquela voz fica no imaginário da gente em conjunto com a história do personagem com o qual nos identificamos e, quando não é ele ou ela, gera uma pequena frustração. Mas, de qualquer forma, isso não é um problema – a gente sempre supera.

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Como ator, eu sempre ouvi nos meios artísticos que o ambiente da dublagem é bastante restrito, de difícil acesso, onde alguns poucos atores e atrizes conseguem entrar. Mas acredito que essas regras sempre podem ser quebradas desde que você tenha dedicação, humildade, paciência e curiosidade para aprender. Eu dublo - infelizmente com pouca frequência ainda - e sei o quanto é difícil encarar o microfone, ver a cena original, ouvir a voz original, assimilar o comando do diretor e colocar a voz em cima – tudo ao mesmo tempo.

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São anos de exercício, provando capacidade, aprendizado e disposição. É como se, a cada período, você fosse se graduando, conquistando a confiança dos estúdios e diretores de dublagem para receber as faixas, assim como no judô. Além disso, até se tornar um artista da voz reconhecido, as escalas de dublagem não serão diárias e constantes. Dubladores e dubladoras experientes chegam a gravar de segunda a sexta-feira, em estúdios variados no mesmo dia.

Por isso, não há uma rotina: esses profissionais estão sempre prontos para o novo, pois nenhum deles sabe antecipadamente o texto que irá gravar. No caso de personagens de séries (que são fixos), eles podem até saber as características do personagem, mas nunca o que irão falar ou mesmo viver naquele dia – acho isso desafiador!

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Ah, no Brasil os estúdios de dublagem se concentram em São Paulo e no Rio de Janeiro, e quase todos oferecem cursos de dublagem com possibilidade de estágio. Alguns estúdios paulistas que oferecem formação são: Centauro Comunicaciones, Dubrasil, escola Senac, UniDub e outras. Mas, para total aproveitamento dos cursos e ingresso na profissão, é exigido formação em teatro com DRT de ator (registro profissional de artista na função ator).

A quantidade de pessoas que preferem assistir aos filmes e séries com áudio original, até sem legendas, é grande, mas está longe de ser a maior parte da população. Desta forma, a nossa dublagem assume também um papel importante de inclusão social, pois permite que todos e todas tenham acesso aos conteúdos audiovisuais.

​O mercado da dublagem no Brasil continua crescendo e a tecnologia vem se desenvolvendo e suprindo as necessidades dos trabalhos, mesmo quando realizados em casa. Talvez você não saiba, mas muitos artistas da voz precisaram adaptar seus lares e adquirir equipamentos para dublagem remota. Filmes e séries que estão fazendo companhia a você, sobretudo no período de isolamento social, foram ou estão sendo gravados em casa. Eu precisei adquirir uma cabine de áudio, um home studio, para gravar voz original para animações e locuções, por exemplo.

Eu, Jonathan Faria, em Home Studio

Além de filmes, programas e séries, a dublagem chegou a outros setores como, por exemplo, os videogames. Só que, neste setor, a dublagem tem outro nome: localização de games. Por quê? Meu entrevistado, Thiago Zambrano, explica pra gente no vídeo. Além disso, ele nos conta quem ele é, o que ele faz, por que faz e como começou na profissão. Ficou curioso sobre a localização de games? Se liga neste vídeo que mostra como é o treinamento:

Valeu pela leitura! Agora, se liga na entrevista, porque o Thiago Zambrano é fera e compartilhou só dicas bacanas pra quem curte dublagem e, também, pra quem sonha em um dia ser artista da voz.


Jonathan Faria é ator, arte-educador, ilustrador, apresentador e ator de voz (voz original, locução, narração e dublagem).

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