E aí, galera do bem, beleza? Nestes tempos de pandemia, tenho pensado muito em como estamos nos salvando do tédio, da solidão, da tristeza e do isolamento. E, como artista que sou, a questão da arte se faz presente o tempo todo em minha vida. Mas tenho certeza que na sua também - a arte nos salva diariamente. E é assim desde que o mundo é mundo! Quer descobrir como? Se liga neste Slime.
Frase de Ferreira Gullar por @mayara5ilva. Imagem: Reprodução/Instagram
Na história da humanidade, a Arte foi fundamental para que, hoje, a gente saiba sobre nossos antepassados e nossa evolução como Homo Sapiens. Os primeiros registros artísticos sobre os quais temos estudos são as pinturas nas cavernas, as esculturas e os instrumentos de caça do período rupestre – a Arte Pré-Histórica. Com a evolução da humanidade e a tomada de consciência das suas capacidades artísticas, o homem passou a utilizar a arte como veículo de expressão das suas ambições, dos seus sonhos e dos seus valores.
Mas, e as crises pelas quais a humanidade passou? Guerras, pestes, tragédias, crises políticas, crises sanitárias, catástrofes, pandemias… Como o homem expressou suas angústias, agonias, medos, dores e perdas durante tudo isso?
Bom, a história nos mostra que a arte é um veículo fundamental para a expressão não só de alguns artistas mas, sim, de toda uma coletividade. Veja algumas destas obras de variadas épocas e observe o que o artista reflete nelas:
“O 3 de Maio de 1808”, Goya (1814-15), Prado, Madri. Goya protestou contra a brutalidade da guerra individualizando os rostos das vítimas do pelotão de fuzilamento – esse, sem cara.
“A Morte de Sardanapalus”, Delacroix, 1827, Louvre, Paris. Fascinado com o excesso físico e emocional, Delacroix retrata uma cena selvagem, convulsa, do assassinato das concubinas de um imperador.
“O Vagão de Terceira Classe”, Daumier, c. 1862, MMA, NY. Retrata passageiros da classe trabalhadora, dignos, apesar de apertados feito animais. Esta foi a mais precoce representação pictórica do efeito desumanizador do transporte moderno.
“Árabes de Rua na Área da Rua Mulberry”, Riis, c. 1889, Jacob A. Riis Collection, Museum of the City of New York. O Fotógrafo de jornal Riis denunciava a miséria documentando a vida e as condições de trabalho dos pobres urbanos, como nessa fotografia de crianças sem-teto. Fotografia Documental.
“Guernica”, Picasso, 1937, Centro de Arte Reina Sofia, Madri.
O mural de 6,50 metros de largura por 2,80m de altura é considerado a mais forte denúncia dos horrores da Guerra Civil Espanhola. “A pintura não é feita para decorar apartamentos”, dizia Picasso. “É um instrumento de guerra, de ataque e defesa frente o inimigo.”
“Na Época da Enchente de Louisville”, Bourke-White, 1937, coleção George Arents Research Library, Syracuse University, New York. A fotografia mostra desempregados na fila do pão durante a Grande Depressão, revelando a ironia do abismo entre a realidade e o sonho americano.
Autorretrato Depois da Gripe Espanhola, Edvard Munch, 1919, Galeria Nacional, Oslo.
Essas são apenas algumas pinturas e fotografias que exprimem períodos sombrios da humanidade, mas outras linguagens artísticas, como a música, a dança, a escultura e a literatura, também foram veículos de expressão destas mesmas épocas. Mas, e agora? Hoje, Século XXI, 2020, em meio à pandemia de Covid-19, de proporções ainda não exatamente calculadas, já temos – felizmente! – artistas expressando nosso confinamento, nosso “novo normal” e nossas aflições por meio de fotografias, ilustrações e vídeos.
Muitos deles podem ser conferidos no perfil do Instagram The Covid Art Museum, iniciativa de três publicitários espanhóis que dizem na postagem explicativa sobre o projeto que o “momento de pausa e reflexão permite às pessoas liberarem sua criatividade”. Segundo eles, “somos testemunhas do nascimento de um novo movimento artístico. A arte em tempos de quarentena. A Arte Covid”. As artes digitais enviadas por artistas do mundo todo englobam as aflições deste momento crítico, louco, conturbado e asfixiante que estamos vivendo. Que tal você conferir as artes deste museu virtual? Quem sabe você se inspira e envia a sua arte também!
Além disso, não esqueça que, durante a “cententena” que estamos atravessando, diariamente você é “salvo/salva” por várias heroínas e heróis, artistas da quarentena, que estão por trás daquela série favorita ou daquele filme predileto; daquele joguinho inteligentemente projetado por artistas gráficos; daquela live-show da sua cantora ou seu cantor da parada; dos seus programas televisivos que englobam artes das mais variadas linguagens; das apresentações de teatro online que estão ocorrendo pelo mundo todo; daquele livro super legal que toda sua galera está lendo. A arte nos salva de muitos jeitos e, por isso, ela, enquanto linguagem, e seus fazedores – artistas de todos os tipos – merecem sua valorização. Sempre que possível elogie um artista, aplauda, remunere e considere todas as etapas do trabalho realizado por ele para que você possa ver, ouvir, sentir, se entreter e se divertir.
E para finalizar o nosso Slime, vou jogar uma frase do filósofo alemão Friedrich Nietzsche e sair correndo: “temos a arte para não morrer ou enlouquecer perante a verdade. Somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida”. FUI!
Jon Faria é ator, arte-educador, ilustrador, apresentador e ator de voz (voz original, locução, narração e dublagem).
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