Fundação Padre Anchieta

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​Sabe, sou do tempo em que o aventureiro que se entregava ao ato de apitar uma partida de futebol era chamado de juiz. Esse papo de árbitro veio depois, muito depois. A maneira de intitulá-lo pode ter mudado mas a natureza e os desafios do ofício permanecem exatamente iguais. Tá certo, a modernidade encheu o homem de penduricalhos. Mas essa tem sido a realidade de muitas profissões. No que diz respeito aos juízes vivemos uma era muito além da caneta para anotar os cartões. Agora, além das marcas que carregam no uniforme, tem a lata de espuma pra tornar nítida a posição onde deve estar a barreira ou a bola na hora de uma cobrança de falta. O fone de ouvido, o microfone para falar com o árbitro de vídeo - essa entidade que anda colocando à prova nossa paixão pelo jogo. Não sei porque motivo os cartolas teimam em desafiar o velho ditado de que paciência tem limite. Um dia ela acaba e aí quem sabe - já que é pra deixar tudo na mão da tecnologia - até nós, os de cabelos brancos acabemos nos entregando a um desses esportes eletrônicos qualquer onde, imagino, ainda se pode gritar gol exatamente na hora em que a bola alcança a rede.

Escrevendo aqui agora até bateu uma saudade de ver o ilustre cidadão lá no meio das feras, todo de preto, trajando camisa de gola e tudo. Uma elegância só. Por mais que a bola pudesse vir a lhe bater na canela e ir parar dentro da meta deixando o sujeito com a sensação de quem de repente se pega nu diante de uma multidão. Como disse anos atrás um velho amigo de redação, boleiro das antigas, a gente começa a desconfiar do juiz antes mesmo do jogo começar. Dizia ele que essa era uma mania tipicamente nossa. Como nunca vivi na Inglaterra, na Itália, na Argentina, ou em nenhum outro país em que o futebol tenha esse protagonismo, acabei por encarar a afirmação como possível. Pensando bem deve ser para explorar essa desconfiança notória que vira e mexe um time ou um dirigente decide jogar no ventilador a ficha corrida do árbitro que horas mais tarde será a autoridade que dirá o que valeu e o que não valeu no jogo do time dele. Aí um pede a troca do árbitro escalado, a outra parte para não deixar barato acusa a primeira de estar tomando tal atitude para colocar o futuro homem do apito contra a parede.

Papo manjado, mas que nunca caiu em desuso. Por que será? No fundo acho que aceitei a teoria do amigo de redação porque vejo mesmo a dificuldade que temos para acreditar na honestidade de quem apita uma partida de futebol. O cara pode até ser um craque no assunto, mas na hora que pisa na bola o erro nunca soa apenas como um erro. Note. Isso num tempo em que as pessoas andam acreditando em cada coisa. Terra plana, chip em vacina. Eu, de minha parte, queria a essa altura poder acreditar, ao menos, que o ilustre juiz continua sendo mesmo soberano lá no meio do circo. Mas como? Se agora além de ficar de olho em tudo ele precisa , numa fração de segundo, decidir se deve mesmo confiar no que seus olhos lhe sugeriram. Tá certo, se chegamos a esse ponto foi porque muitos por aí deram bandeira, ajudaram a sustentar grandes esquemas. Mas a desconfiança anda tamanha que agora até quando o juiz não se dá ao trabalho de ir lá na tela conferir o VAR...hum, não sei não!

Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.