Com mais de 800 tipos de produtos disponíveis para os consumidores - sendo 94 deles lançamentos -, a Páscoa é marcada pela alta do preço do cacau.
O fruto passa por uma crise produtiva na África, causada por problemas climáticos e pelo avanço de pragas, como a vassoura-de-bruxa e a podridão-parda, que afetam a oferta no mercado global.
Por causa desse cenário, o valor da matéria-prima alcançou níveis recordes, com alta de 189% e picos de até 300% nos últimos 12 meses, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia).
Apesar disso, a estimativa é de que 45 milhões de ovos sejam fabricados para a festividade - uma queda de 22,4% em relação aos 58 milhões de unidades do ano passado, época em que a produção total de chocolates no Brasil cresceu 3% e fechou 2024 com um total de 803 mil toneladas. Por outro lado, o setor criou 9.696 novas vagas de trabalho durante a preparação para a data comemorativa do dia 20 de abril, 26% a mais do que na última celebração.
De acordo com Jaime Recena, presidente executivo da Abicab, a indústria tem tido de fazer adaptações para não repassar todo o aumento ao consumidor na ponta: “São alternativas focadas em planejamento e em entender como o mercado irá se acomodar nos próximos anos”.
“O aumento de portfólio traz um espírito de uma Páscoa mais democrática e acessível ao consumidor, no momento em que questões como a alta do cacau pressionam o setor”, destacou durante o evento da associação sobre a Páscoa 2025, realizado em São Paulo no mês de março.
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A pesquisa nacional “Celebração e Consumo de Páscoa | Mar/25”, realizada pela Hibou, empresa especializada em monitoramento e insights de consumo, aponta que 10% dos brasileiros não irão comprar nenhum tipo de chocolate para a data, indicando um comportamento marcado pela contenção de gastos e priorização de despesas essenciais.
Para 87% dos entrevistados, os ovos de chocolate estão mais caros, e como reflexo, 34% afirmam que vão reduzir a compra, enquanto 24% farão uma substituição por barras de chocolate. O impacto no bolso é evidente: 65% pretendem gastar até R$ 250, 26% entre R$ 250 e R$ 500 e apenas 8% acima de R$ 501.
O que define a compra é, principalmente, o preço (69%), seguido por promoção (41%), sabor (39%), e preferência pessoal (33%). Pedidos dos filhos influenciam 18% dos consumidores, enquanto marca (18%), brindes (14%) e temas dos ovos (12%) completam os itens mais considerados.
As marcas, no entanto, chegam com novidades em seus respectivos catálogos, além de esperarem conquistar bons resultados após o balanço geral de vendas.
Em entrevista ao site da TV Cultura, Lilian Rodrigues, diretora de marketing da Cacau Show, destaca a importância da diversificação no catálogo disponibilizado nos empreendimentos, com opções para todos os perfis de consumidores e ocasiões: “Tem algo muito forte no nosso DNA, que é como a marca começou, e acho que a gente olhar para as nossas origens, né, e a gente reforçar esses valores, é fundamental”.
Em 2025 os produtos da marca apresentam valores que vão de R$ 9,99 a R$ 199,99, com exceção do Ovo de Páscoa Clássicos ao Leite com Bombons, que apresenta 2kg e pode ser adquirido por R$ 399. A expectativa da marca é de que o crescimento de vendas oscile entre 30% a 35%.
A época se torna algo esperado e celebrado por todas as idades, não sendo exclusivamente voltada apenas para o público infantil. Como exemplo, a Cacau Show conta com o Ovo de Páscoa ao Leite Pantufa Garfield e Ovo de Páscoa ao Leite Pantufa Ursinhos Carinhosos, que ganharam tamanhos maiores após a celebração do ano passado: “A gente vende três vezes mais a pantufa tamanho adulto do que a infantil. Tem muita mãe e pai que acaba comprando para ficar igual ao filho e tem muito adulto também”.
A junção dos chocolates com os produtos colecionáveis são vistos como uma tendência, inclusive, que veio para ficar e deve crescer nos próximos anos: “A gente vê que esse efeito do colecionável tem uma força muito grande, né? A gente tem isso na Páscoa, mas no nosso ano a gente também desdobra outros cases, porque de fato as pessoas colecionam”.
“Quando a gente olha para a nossa vida, né, depois de adulto, a gente tem um monte de saudades, um monte de coisas. Tem essa coisa que traz, né, esse gostinho, de várias lembranças, que acabam despertando, né?. O que a gente também vê que é muito legal nas pesquisas, que tem muita coisa que as pessoas, ou não puderam, não tiveram acesso ou naquele momento não era uma prioridade da família, e as pessoas poderem dar conta dos seus desejos, poderem comprar, pagar e se presentear, isso aí tem um efeito surpreendente”, destaca.
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Carolina Kauer Neugebauer, CEO da NOIR Chocolates, reconhece o fato de que o aumento expressivo no preço do cacau tem sido um grande desafio para a indústria e faz com que muitos negócios necessitem rever seus portfólios, mas ressalta que, no caso da NOIR Chocolates, a escolha por incorporar outros ingredientes às criações nunca foi motivada por custos, mas sim a valorização da criatividade, texturas e sabores que surgem da união do chocolate com outros elementos.
“Mesmo com o aumento significativo nos custos, principalmente de insumos como chocolate, amêndoas, pistache e massa folhada, seguimos comprometidos em preservar a qualidade. Estamos atentos às possibilidades de otimização, seja em processos, embalagens ou logística, desde que isso não comprometa a experiência do consumidor”.
Ela ainda ressalta a importância em ouvir a opinião dos clientes e em estar atento às tendências de mercado, dando como exemplo o investimento deles em ovos recheados neste ano, como o Ovo Vinho do Porto, o famoso Pistache e Caramelo Flor de Sal.
“A perenidade de uma marca está totalmente ligada em ter um portfólio estratégico. Precisamos ter produtos em várias faixas de preço com sabores e texturas diferentes. Ter este olhar atento para o que as pessoas desejam é um dos segredos do negócio. As pessoas têm desejos e necessidades diferentes, às vezes querem um chocolate para consumo imediato, às vezes querem presentear alguém querido, às vezes querem apenas dar um mimo. Precisamos estar com um portfólio adequado para atender todas estas necessidades”.
Apesar dos desafios do cenário atual, a expectativa deles para a Páscoa deste ano é o de manter a média de crescimento conquistado, de 25% em relação ao ano anterior, sustentando o desempenho, mesmo que com possíveis oscilações.
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