Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

Rubens Chiri/SPFC
Rubens Chiri/SPFC

Há um aspecto interessante nessa questão envolvendo os treinadores e sobre a qual a saída de Fernando Diniz do São Paulo talvez tenha a virtude de jogar alguma luz. Algo que está muito além desse papo sobre se o profissional que irá herdar o lugar dele será um brasileiro ou um estrangeiro. Aqueles que preferem ver Diniz longe de seus times deveriam, ao menos, reconhecer o valor dele espelhado no fato de destoar totalmente do senso comum. 

Em último grau, se não concordarem com absolutamente nada do que ele andou defendendo, que o reconheçam como um legítimo provocador. Como uma dessas figuras que colocam fogo no circo. De todas as coisas que li a respeito a que me soou mais precisa foi escrita pelo jornalista Paulo Cobos, afirmando que nunca um técnico teve a forma de pensar o futebol tão contestada.

Interessante é observar que, ainda assim, depois que ele deixou o clube não faltaram - e não faltam - figuras fazendo questão de dizer que o trabalho seguirá na mesma linha. Ora, que o São Paulo pretenda de alguma forma preservar o que vinha sendo feito acredito. Mas um sujeito com as convicções de Fernando Diniz, no mínimo coloca a gente pra pensar. E quando as pessoas pensam se transformam, para melhor, ou não, mas se transformam.

É certo que ele não inventou a roda. Agora, o São Paulo continuar se mostrando um time ofensivo não bastará como prova de que o clube não colocou de lado o trabalho realizado nos últimos dezesseis meses. Tudo é muito mais complexo do que simplesmente manter um esquema, do que montar um time com ímpeto para o atacar. Ou a gente concorda com isso, ou passa a não levar a sério tudo o que é dito desde sempre sobre a figura do treinador.

Sobre as atribuições que sempre precisaram executar e que nada têm a ver com a prancheta. Quando falo que a saída dele joga luz sobre uma questão falo sobre a formação de um treinador. Por mais que os analistas se esmerem tentando relacionar o estilo desse com aquele, no caso de Diniz, quem poderia ser visto como sendo da mesma linha de pensamento? Hernán Crespo, será? Pelo viés tático talvez seja possível chegar a algum nome, já pelo comportamental, pelo filosófico, não é tarefa tão simples assim.

E os fatos sugerem que são raros os escolhidos por suas convicções táticas. Já trazia essa maneira de interpretar o ocorrido comigo. E ela só se reforçou quando dei de cara com a entrevista concedida pelo ex-técnico do Flamengo, Domènec Torrent, ao repórter André Hernán. Nela, o homem que sucedeu o português Jorge Jesus, glorificado, disse com todas as letras que jamais lhe perguntaram como jogava ou como queria jogar. E disse mais, que tinha dúvida se os manda-chuvas por lá sabiam sobre o tipo de jogo que praticava ou que tinha praticado nas outras equipes.

Ainda que levemos em conta que se trata de uma versão da história não deixa de ser um tanto estarrecedor. Enfim, é difícil crer que na continuidade de um trabalho nesse nosso futebol de trocas frenéticas e, muito mais difícil, não crer que toda demissão é uma ruptura quando se leva em conta a formação humana de um treinador e não apenas as questões táticas.

Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.