Se tem uma coisa que permeou os debate sobre o Santos nos últimos tempos é essa questão sobre onde o time deve mandar seus jogos. Não que isso não tenha importância. Até porque esse tema deve fazer parte da estratégia e do planejamento do clube. Mas esse assunto pode ser visto por um outro viés. Como reflexo de um clube cuja história o levou muito além das fronteiras da cidade em que foi fundado. Detalhe que por si só faz do Santos um clube singular. Mas tão importante quanto essa questão seria administrá-lo de acordo com essa magnitude. A própria eleição do atual presidente é fruto dessa condição distinta e fragmentada. Peres era o cara de fora, um legítimo representante da parte apaixonada que sempre esteve muito além da ilha. Mas o tempo passou e mostrou que o Santos continua sendo um só.
E por mais que estejamos atravessando tempos pra lá de difíceis não pode existir argumento mais refutável quando se trata de um grande clube - e apesar dos pesares o Santos segue sendo parte desse grupo - do que dizer que se está sem dinheiro. Ora, qualquer um que tenha embolsado nos últimos anos algumas centenas de milhões de reais teria dificuldade para atestar sua miséria. Pode-se ficar mais ou menos rico, o que é bem diferente. E se o Santos segue em condição de figurar entre os tais é porque ao longo da história tem visto desabrochar em seus domínios o futebol de um sem fim de meninos talentosos. Cada vez mais rapidamente transformados num lucro que jamais encheu os cofres da Vila Belmiro.
Como também mostra a história que se o Santos se tornou o que se tornou foi muito mais em razão daqueles que o representaram em campo do que fora dele. O que não é, claro, privilégio do Santos. Há muitos outros casos por aí aptos a corroborar essa minha teoria. E que me desculpem os que muito fizeram pelo clube, que não são poucos. Mas a seguir administrado como vem sendo os triunfos em campo não passarão de um tipo de anestesia, um paliativo. E não custa lembrar. Ao torcedor é dado esse direito de se contentar apenas com a alegria da vitória, mas a quem administra o clube nunca. Diante disso tudo acredito que falar sobre a saída de Jesualdo ou a volta de Cuca é algo menor. torcedor
Mas, tendo em vista que o time em campo é a atividade fim do Santos, se perguntar se é possível tudo dar certo sem uma solidez administrativa se faz inevitável. Será? A passagem de Jorge Sampaoli, de certa forma, sugeriu que sim. Seja como for, o sucesso de Cuca à frente do time é só uma parte do que o Santos precisa. E por falar em manchetes, uma recente mostrava que o Santos foi o time que mais faturou com a venda de jogadores da base na última década. Uma montanha de mais de duzentos milhões de euros, ou pouco mais de um bilhão de reais. E, além do mais, elas, as manchetes, notem, voltaram a ter a respeito do time da Vila aquele tom de desconfiança que insistia em rondar o clube todo início de temporada, e que só se dissipou quando o treinador argentino conseguiu fazer o que fez. Portanto, assim segue o torcedor do Peixe, sem nem sempre conseguir abrir o sorriso quando ouve alguém dizer: Santos sempre Santos.
Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.
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