Relatório aponta que desaparecimento de grupo em 2014 foi "crime de estado". Ex-procurador-geral supervisionou investigação altamente criticada do caso.O ex-procurador-geral mexicano Jesus Murillo foi preso nesta sexta-feira (19/08) por suspeita de atrapalhar as investigações sobre o desaparecimento de 43 estudantes em 2014, informaram autoridades mexicanas. Murillo teve a prisão decretada junto com 20 militares, 44 policiais e 14 membros do cartel de drogas Guerreros Unidos.
Os mandados de prisão foram emitidos um dia depois da publicação de um relatório oficial que considerou o caso "crime de Estado".
O ex-procurador-geral, que mora na área da Cidade do México, foi preso do lado de fora de sua casa e levado para uma unidade da Procuradoria-Geral, informou o órgão. Ele foi acusado de "desaparecimento forçado, tortura e obstrução da Justiça", de acordo com um comunicado do Ministério Público,
Murillo foi procurador-geral entre 2012 e 2015, no governo do ex-presidente Enrique Peña Nieto. Naquela época, Murillo supervisionou a investigação altamente criticada sobre o desaparecimento dos 43 alunos da Escola de Professores Rurais de Ayotzinapa, no Estado de Guerrero, no sudoeste do país. À época, as conclusões da investigação foram rejeitadas por parentes das vítimas e organizações de defesa dos direitos humanos.
Murillo é a mais importante figura detida até agora nas investigações, que foram reiniciadas depois da posse de Andrés Manuel López Obrador, em 2019. Murillo chegou a ser um nome importante do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México durante 71 anos ininterruptos, até 2000.
Especialistas internacionais criticaram as etapas anteriores do inquérito oficial, apontando erros e abusos, e o atual presidente mexicano, López Obrador, assumiu o cargo em 2018 prometendo esclarecer o que realmente aconteceu.
A prisão ocorre um dia depois de o principal funcionário de direitos humanos do México, Alejandro Encinas, chamar o desaparecimento de "crime de Estado" devido ao envolvimento do governo. Ele também disse que os mais altos níveis do governo de Peña Nieto orquestraram um encobrimento após o incidente.
O México está tentando extraditar de Israel um dos ex-funcionários que serviram sob Murillo e que é acusado de manipular a investigação.
Em setembro de 2014, um grupo de estudantes da escola de formação de professores de Ayotzinapa, no estado de Guerrero, tinha viajado para a cidade vizinha de Iguala, a partir da qual partiriam com destino à Cidade do México para participar de uma manifestação.
Os 43 jovens foram presos pela polícia local em conluio com Guerreros Unidos, baleados e queimados num aterro sanitário por razões que permanecem pouco claras. Só foram identificados os restos mortais de três deles.
"As suas ações, omissões ou participação permitiram o desaparecimento e execução dos estudantes, bem como o assassínio de seis outras pessoas", disse o subsecretário do Interior mexicano, Alejandro Encinas, durante a apresentação pública do relatório.
jps (Reuters, Lusa)
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