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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que o Brasil terá voz nas próximas cúpulas do clima se ele for eleitoCampanha do petista quer atuação conjunta na próxima conferência do clima, em novembro, para pressionar por financiamento internacional para proteção de florestas e regulamentar mercado de carbono.Emissários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) articulam a criação de uma frente conjunta com a Indonésia e o Congo para atuação na próxima COP27, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Caso o petista vença as eleições – ele lidera as intenções de voto –, a ideia é que o trio de países, donos da maior área de floresta tropical no mundo, aumente seu poder de barganha perante nações ricas a fim de obter financiamento para a proteção de florestas e regulamentar o mercado de carbono global.

"A proposta é criar uma aliança estratégica para abordar a questão do financiamento na COP do Egito", afirmou Aloizio Mercadante, responsável pelo plano de governo de Lula.

A COP27 será realizada em novembro no país africano. O Partido dos Trabalhadores criou um grupo de trabalho para se preparar para as rodadas de conversa sobre o clima e tem focado especialmente nos detalhes de um mercado global de carbono e em formas de financiar a conservação e o desenvolvimento sustentável em regiões de floresta tropical – de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o PT poderá estar representado no encontro caso Lula seja eleito.

Ainda segundo Mercadante, a aliança planejada poderia eventualmente incluir outras nações com florestas tropicais significativas, como países latino-americanos na fronteira amazônica e em desenvolvimento na África e na Ásia.

Ele disse que a equipe do ex-presidente já fez os primeiros contatos com os governos da Indonésia e do Congo, e que um encontro com um emissário do governo congolês será agendado nas próximas semanas.

Principal negociador do Congo para as mudanças climáticas, Tosi Mpanu-Mpanu disse à Reuters que a proposta, embora não seja nova, faz todo o sentido: "Traria mais peso diante das nações ocidentais dispostas a fornecer recursos para a proteção das florestas."

Em 2012, os três países tiveram conversas preliminares para formar uma aliança e entrar com mais peso em negociações internacionais voltadas à valorização dos recursos florestais, mas a iniciativa acabou minguando por disputas políticas internas do lado indonésio.

As florestas da Amazônia, do Bornéu, localizada em parte na Indonésia, e da bacia do Congo são ameaçadas pela exploração descontrolada de madeira, o que prejudica a biodiversidade e aumenta as emissões de carbono, que por sua vez aceleram as mudanças climáticas.

Segundo Mpanu-Mpanu, o desmatamento tem uma dinâmica diferente nos três países. No Brasil e na Indonésia, está mais ligado a políticas agroindustriais agressivas, tais como criação de gado e produção de óleo de palma, enquanto no Congo é mais associado à pobreza, com práticas agrícolas de corte e queima e demanda por energia.

Contatada pela Reuters, a embaixada da Indonésia em Brasília não se pronunciou.

PT quer financiamento internacional para conservação do meio ambiente

A proposta da campanha lulista contrasta com o governo de Jair Bolsonaro (PL), que tem reagido com hostilidade a esforços estrangeiros de conservação ambiental na Amazônia e paralisou um fundo bilionário de conservação amazônica financiado por Noruega e Alemanha após se desentender com as organizações envolvidas.

Sob Bolsonaro, a proteção ambiental foi afrouxada e o desmatamento disparou, com a exploração ilegal de madeira e ouro na Amazônia, o que rendeu críticas da comunidade internacional.

O PT tem feito sugestões nos últimos meses para reduzir o desmatamento e encorajar uma transição verde na economia por meio de crédito a agricultores, investimento em energia renovável e projetos para criação de empregos e incentivo à conservação do meio ambiente. Mas o partido quer ajuda com o financiamento internacional.

A regulamentação do mercado de carbono global foi uma das medidas discutidas com o economista Jeffrey Sachs, presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), em visita recente à fundação Perseu Abramo, ligada ao partido.

"Proteger a Amazônia e suas florestas requer financiamento global", declarou Sachs à época.

Nesta quarta-feira (31/08), em Manaus, Lula prometeu conservar a Floresta Amazônica por meio do fortalecimento do Ibama e aumento da fiscalização e aplicação das leis, possivelmente com a ajuda de militares, e declarou que o Brasil terá voz nas próximas cúpulas do clima se ele for eleito.

"Queremos uma ONU mais forte, com maior poder de decisão, especialmente na questão climática, porque senão continuaremos discursando e ninguém vai cumprir nada", afirmou.

ra/lf (Reuters/Folha)