Em teste inédito para desviar um objeto no espaço, a espaçonave DART vai colidir com o asteroide Dimorfo. O teste simula como a Terra poderia ser defendida contra impactos de corpos celestes.A Nasa fará sua primeira tentativa de colisão para desviar um asteroide, nesta segunda ou terça-feira (26-27/09), dependendo de onde se esteja na Terra. A colisão marcará o fim da missão DART, uma jornada espacial de dez meses para desviar de forma autônoma um asteroide não perigoso. Mas também será o início de inúmeros novos dados para o que os cientistas chamam de "defesa planetária".
A 11 milhões de quilômetros da Terra, a espaçonave DART vai bater em Dimorfo, um asteroide de cerca de 160 metros de diâmetro que orbita Dídimo, outro asteroide maior, de cerca de 780 metros de diâmetro. DART é a sigla para Double Asteroid Redirection Test (Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo).
"É só um teste", explicou Nancy Chabot, do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins, chefe da equipe que coordena o DART, durante uma coletiva de imprensa em 15 de setembro. "Este asteroide não é uma ameaça para a Terra. Na verdade, não há ameaças de asteroides conhecidas para a Terra no futuro próximo."
Mesmo assim, Chabot afirma querer fazer esse teste agora "para estarmos prontos quando potencialmente precisarmos dele".
Dez meses pelo espaço
Lançada em 24 de novembro de 2021, a sonda DART viajou dez meses em direção ao par de asteroides Dimorfo e Dídimo. Às 20h14 (horário de Brasília) desta segunda-feira, DART colidirá com Dimorfo a aproximadamente 6,1 quilômetros por segundo.
À medida que DART se aproxima do asteroide, as imagens serão transmitidas ao vivo. No momento do impacto, outra espaçonave de fabricação italiana, chamada LICIACube, filmará o choque.
"Chocar esta pequena espaçonave [DART] contra um asteroide muito maior só causará uma pequena mudança, de 1%, na forma como Dimorfo gira em torno de Dídimo. Isso torna o teste seguro e eficiente."
Altos desafios tecnológicos
A missão DART não distinguirá entre os dois asteroides até a última hora antes do impacto. Serão usadas imagens de uma câmera a bordo para identificar Dídimo e Dimorfo de forma autônoma. Em seguida – também de forma autônoma – a sonda vai ativar propulsores para garantir que permaneça num "curso de interceptação com Dimorpfo".
"Esses algoritmos estão [entre as principais tecnologias] do DART", disse Chabot. Chamados de SMART Nav, eles foram desenvolvidos no Laboratório de Física Aplicada da Johns Hopkins. "A navegação autônoma usa essas imagens para garantir que se atinja com precisão um pequeno asteroide no espaço, e esse é um dos principais desafios."
As mesmas imagens serão transmitidas de volta para a Terra, a uma velocidade de uma por segundo, e mostradas ao vivo numa transmissão da Nasa.
Terra ameaçada?
O asteroide que exterminou os dinossauros media cerca de dez quilômetros. "Esse tipo de asteroide mudou todo o planeta, mas não conhecemos nenhum desse tamanho, hoje", explicou Thomas Zurbuchen, da Diretoria de Missões Científicas da Nasa, em entrevista à DW.
"Se um asteroide de 160 metros [como Dimorfo] atingisse uma cidade, seria ruim para ela, resultando numa cratera de mais de um quilômetro, mas não mudaria todo o planeta", prossegue Zurbuchen. No entanto, bombardeios de asteroides menores são uma ameaça muito maior à vida na Terra.
"Tivemos bombardeios de asteroides ao longo de milhões de anos, mas simplesmente não se vê isso porque temos uma geologia tão ativa na Terra." DART será o primeiro teste para a futura defesa planetária contra bombardeios de asteroides.
DART é a primeira de futuras missões
Segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), Dimorfo será o primeiro objeto do sistema solar a ter sua órbita deslocada de maneira mensurável por uma ação humana .
A agência está preparando sua própria missão para estudar o asteroide de perto. Para isso, usará a espaçonave HERA, com lançamento programado para 2024.
Enquanto isso, a China também está planejando uma missão de defesa planetária para 2026.
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