Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

A maioria das pessoas "cheira" a cocaína em pó. Como alternativa, alguns também fumam em um cachimbo, como crack, uma droga feita também da cocaína

O consumo de cocaína bateu um novo recorde. De acordo com os cálculos das Nações Unidas, em todo o mundo, cerca de 22 milhões de pessoas consumiram a substância, que é extraída das folhas do arbusto da coca, em 2021. Esse número é maior do que a soma de habitantes das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Na Europa, a cocaína é a segunda droga ilegal mais comum, depois da maconha.

A droga é altamente viciante e danifica órgãos vitais. O consumo leva o sistema circulatório a seus limites – efeito comparável a uma maratona. A abstinência, por sua vez, está associada a um grande estresse físico e mental. Agora, no Brasil, pesquisadores estão desenvolvendo uma vacina para ajudar no combate ao vício.

Como a cocaína funciona?

A maioria dos usuários inala cocaína em pó pelo nariz. Como alternativa, ela é fumada em um cachimbo, como o Crack, que nada mais é do que um tipo de droga produzida da cocaína. A substância chega ao cérebro através do sangue. Lá, a droga estimula o corpo a liberar várias substâncias mensageiras, inclusive a dopamina. A sensação predominante é a de intensa euforia.

O corpo fica hiperativo. O coração bate em sua capacidade máxima, enquanto as artérias se contraem. A pressão arterial aumenta, assim como a temperatura corporal. Necessidades como fome e sede deixam de ser importantes. Na, pior das hipóteses, o uso da cocaína pode causar convulsões e até mesmo parada respiratória e cardíaca.

O efeito dura de cinco a 30 minutos. "É como se todos os semáforos estivessem verdes", diz Hanspeter Eckert, terapeuta em uma associação de Berlim que trabalha com terapia medicamentosa. "O cérebro memoriza: isso foi intenso e ótimo, quero de novo! O corpo armazena o consumo como essencial para a sobrevivência", acrescenta.

O desejo por mais cocaína domina os pensamentos. As vozes internas que alertam sobre as consequências se tornam mais silenciosas. A saúde, os contatos sociais e o trabalho são negligenciados. Desenvolve-se um vício.

A vacinação como solução contra dependência?

Uma vacina contra a cocaína pode ajudar no tratamento da dependência. Após a vacinação, formam-se anticorpos no sangue. Esses anticorpos se ligam especificamente à cocaína. Portanto, a substância é grande demais para passar pela barreira hematoencefálica. Isso significa que o cérebro não pode ser estimulado, então, não há a sensação causada pela substância.

As reações cerebrais que normalmente desencadeiam o desejo pela droga são suprimidas. Como resultado, o paciente percebe a droga de forma diferente, conta Frederico Garcia, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que desenvolve uma vacina contra a cocaína. O imunizante já foi testado em ratos.

Garcia acredita que os resultados dos testes em animais podem ser transferidos para humanos. Essa seria a primeira vacina contra a cocaína do mundo a ser usada para tratamento da dependência. Outras equipes de pesquisa nos EUA também trabalham em vacinas parecidas. Os testes clínicos em humanos ainda estão pendentes e, portanto, é incerto quando e se uma vacina para dependentes de cocaína estará de fato disponível.

Para terapeutas, vacinação não descarta terapia

Em princípio, o terapeuta Eckert é favorável à pesquisa de vacinas: "Se não houver o inebriamento, a mente pode descansar. O corpo pode se libertar da irritação constante. As pessoas podem ter experiências positivas e perceber que a boa sensação se deve a elas mesmas e não à droga".

No entanto, Eckert está cético, se apenas a vacina resolve, pois a terapia é um trabalho árduo. É necessário pelo menos um ano para que viciados aprendam a entender seu corpo e sua psique. Por meio desse processo, eles ganham mais controle sobre suas vidas, explica Eckert.

A vacinação não é pensada como uma medida preventiva ou para usuários ocasionais. Eckert adverte que existe o risco de overdose entre os vacinados. Isso porque a vacina bloqueia o inebriamento. Assim o usuário pode buscar uma dose mais alta, o que pode sobrecarregar a circulação – o resultado pode ser uma parada cardíaca e respiratória.

Marica Ferri, do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência(OEDT), tem outras ponderações. "A substância em si não é um problema isolado. Todos os problemas não são resolvidos automaticamente com a interrupção do uso de cocaína. Os danos físicos precisam ser curados, assim como a saúde mental. A terapia também envolve trabalhar a psique e o ambiente social. Isso leva tempo", pontua.

Ela se esforça para obter soluções mais abrangentes. Como especialista em saúde pública, ela defende a expansão no número de locais que oferecem terapia. A vacinação é adequada para uma pequena proporção de usuários que já estão na terapia, diz Ferri.